Há 20 anos, Vera Dalpubel convenceu o marido a voltar para Francisco Beltrão e aqui estabeleceram a Bertovel Ferro e Aço.
Era de bicicleta que Vera Dalpubel levava a filha Daiane para a escola cedinho e voltava o mais rápido possível para abrir a pequena loja de acessórios para metalurgia que tinha com o marido, Otávio, em Cascavel. Ele passava a semana “fazendo a região”, do Oeste do Paraná até Irati, com vendas a pronta entrega. Às sextas à noite, quando retornava, o ritual era descansar um pouco, separar mais materiais no sábado e, no domingo pela manhã, carregar para pegar a estrada de novo.

“Começamos com uma kombi emprestada.
Depois conseguimos comprar um Del Rey. Passou um tempo,
compramos uma D10…”
Essa rotina se repetiu por 15 anos dos 23 vividos em Cascavel. A família Dalpubel começou o negócio entre roldanas, discos, serrinhas e eletrodos. Cada um dos três filhos — Gerusa, Daiane e Otávio Júnior (in memoriam) — treinou matemática contando pacotinhos de acessórios. “Começamos com uma Kombi emprestada”, conta Vera. Na primeira viagem, o excesso de peso custou três pneus e Otávio precisou fazer uma liquidação para conseguir voltar para casa. “Ele teve que vender a preço de custo pra comprar pneus novos. Dali em diante foi indo, conseguimos comprar um Del Rey; passou um tempo, nós compramos uma D10 e com essa nós ficamos uns oito anos. Ele ia pra estrada e eu ficava na empresa.”
Vera não via o empreendimento evoluir como gostaria nesse período e a vontade de voltar para Francisco Beltrão foi crescendo. “A gente tinha uma esperança de vencer, mas eu dizia ‘essa vida não dá, vamos embora dessa cidade’, porque, em Cascavel, quem é grande, fica mais grande e os pequenos têm dificuldade em crescer. Eu comprava 400, 500 discos de corte e os outros compravam carga fechada; o preço que eu comprava, era o preço que eles vendiam. A dificuldade era muito grande, dava só pra se manter, e sofrido ainda. O Otávio era de segunda a sexta na estrada, durante 15 anos. O máximo que a gente adquiriu foi uma casa pra morar e um espaço pra trabalhar.”
Um novo rumo
Em busca do crescimento da empresa, eles retornaram para Beltrão em 2000, e se instalaram próximo ao trevo do Alvorada. A primeira loja foi aberta em sociedade com outro empresário e foi a vez de Vera ir para a estrada. “Eu peguei uma caminhonete e comecei a fazer a região; ele fazia as televendas e eu fiquei por seis meses viajando. Fazia quatro mil quilômetros por mês.” A filha Gerusa também ajudava nos negócios, “já tinha 12, 13 anos, eu ligava pra ela me mandar mercadoria em Guarapuava, e eu retirava na transportadora e seguia fazendo a região”.
A transformação também foi acontecendo no espaço físico da empresa. “Não tinha nem forro na parte do escritório, tinha aquele piso rústico, aquele vermelhão. À noite dei uma boa limpada, comecei a encerar de joelho, fiquei com bolha de calo. Mas, no outro dia, ficou tão limpinho! E nós vimos a necessidade de comprar um ventilador. No outro ano, a gente forrou; e no outro a gente comprou mais três ou quatro ventiladores. Ali foi que começou a Bertovel, com muito sofrimento. Quando você vem de uma família pobre e conquista com o seu próprio suor, é tudo mais lento, mas é a parte mais gratificante olhar pra trás e andar com a cabeça erguida, porque você venceu com suas próprias pernas”, destaca Vera.
A sociedade durou dois anos e a família agregou a parte de distribuição de ferro. Mas essa época trouxe um duro golpe. “A gente teve a infelicidade de, quando veio pra cá, perder meu filho num acidente aqui no trevo, próximo da empresa, quase em frente”, relata a empresária. Hoje, ela e o marido contam com a filha Daiane como braço direito na loja. Gerusa mora em Dois Vizinhos.
Novo visual e participação na Expobel
A distribuição de ferro foi só a primeira porta que se abriu. Depois, vieram corte e dobra, parte estrutural e telhas de alumínio e isopor, que hoje são o carro-chefe da Bertovel. A expansão do mercado levou à conquista de novos clientes, mas a empresa também soube manter os antigos. “A gente prioriza qualidade e atendimento. Ao longo destes 20 anos, estamos a cada dia trabalhando mais. Às vezes, a gente pensa ‘ai, meu Deus, chega de ampliar a empresa”, porque a gente precisa viver também, não somos mais tão crianças. Mas você chega num patamar que não tem mais como diminuir.”
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Ao completar 20 anos em Francisco Beltrão, a “família Bertovel” passou dos dois fundadores para mais 23 colaboradores e quem faz a região agora são quatro motoristas, em caminhões da empresa.
Para comemorar o sucesso, a Bertovel ganhará um novo logotipo, incluindo a inscrição “Ferro e Aço”, e estará pela primeira vez na Expobel. “Foi uma decisão pelos 20 anos e, até então, a gente não tinha participado de nenhuma feira. Investir na mídia soma muito. (A Expobel) é uma grande referência”, destaca Vera.
Além de continuar com os compromissos na administração da empresa, Vera assumiu, em 2019, a presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Nessa nova experiência, ela espera contribuir com sua vivência. “Eu não queria, em hipótese nenhuma, mas fazia uns seis anos que eu estava na diretoria já e acabei aceitando. É que nem dizem, quando você sair, vai ver o quanto era bom. E, realmente, é uma faculdade lá (na CDL), uma bagagem muito boa que a gente leva pra vida. E eu espero passar estes dois anos e deixar um marco, uma pequena contribuição do que eu sei pra somar um pouquinho, pelo menos. Lá tem uma equipe fantástica, assim como temos aqui.”