6.7 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

“Vivi da segregação da pessoa cega à inclusão em 35 anos”, diz Josiani Brenner

Após uma vida dedicada à educação de cegos, ela pretende escrever um livro relatando um pouco desta história.

Teve festa em agradecimento ao trabalho da professora Josiani. Na foto, Mariolani Beber da Silva, Josiani Vieira Brenner e Márcia Regina Vissoto Carletto.

Dia 15 de abril teve despedida no Centro de Apoio Pedagógico (CAP), com a aposentadoria da coordenadora Josiani Brenner, após 35 anos de dedicação à educação de cegos; ela atua na educação especial na área visual desde 1986. “Digo que vivi da segregação da pessoa cega à inclusão nesse período. Anterior a 86, não tinha educação pra pessoa cega em Francisco Beltrão.” 

Como surge a educação especial na área visual em Francisco Beltrão? “Na época tinha a professora Guislene Pedron, que foi a primeira coordenadora de educação especial do Núcleo Regional de Educação. Dona Guislene sabia que eu tinha um irmão com paralisia cerebral, que tinha problema visual e ela pensou ‘pro seu irmão vir pra escola, eu preciso colocar você na educação especial e um dia vou precisar de você’. A princípio, eu relutei e só aceitei quando a professora Mariolane Bebber da Silva se juntou a mim. Começamos a formação e em junho de 86 abrimos as duas primeiras turmas de Caedv; eu no período da manhã e ela no período da tarde”, conta Josiani.

Nas primeiras semanas, as aulas aconteciam na antiga Facibel, próximo ao Parque Jayme Cannet Junior, no Bairro Miniguaçu. Após alguns dias, Pedro Carbonera, na época diretor, aceitou em trazer o Caedv para o Colégio Beatriz Biavatti. “Olha só como as palavras tem poder. A dona Guislene, passado uns três anos que eu estava atuando com pessoas cegas, ela teve um AVC e ficou com um resíduo bem pequeno de visão, praticamente cega. Quem foi ser professora dela? Eu. Ora, eu tinha sido aluna na segunda, terceira, quarta série do primário e depois, ela foi ser minha aluna pra ter reeducação visual. Como ela era muito vaidosa, ia reaprender a passar batom, a escrever de novo na linha, fazer exercícios visuais pra melhorar aquele resíduo visual. É uma história muito linda”, diz emocionada. 

- Publicidade -

Professora como a mãe Josiani sempre quis ser professora e muito se deve à sua mãe Jaci Benedetti Vieira, que foi professora na Escola Dr. Eduardo Virmond Suplicy, hoje colégio, por 32 anos. “Ela foi meu maior exemplo; uma pessoa integra. Acredito que isso eu herdei dela, porque eu também, nesses 35 anos, sempre me dediquei como se fosse meu primeiro dia de trabalho; pra mim não era trabalho, era prazer.”

Em 1996, Josiani passou no concurso do Estado e foi trabalhar no Colégio Estadual do São Miguel e à tarde, continuava pela prefeitura no Caedv. Em 1997, passou em outro concurso, mas não tinha intenção de deixar a educação especial. “A Márcia Bonetti era do RH do Núcleo de Educação e me falou ‘não desiste, assume que a gente tenta uma cendência’. E graças a ela eu fiz isso, no último dia eu assumi o meu concurso. Na época, o seo Guiomar Lopes era o prefeito, e ele me deu uma carta que tenho até hoje, dizendo que o trabalho das pessoas cegas sem o meu trabalho não seria o mesmo, e pedindo pro professor Átila de Freitas, que foi uma pessoa maravilhosa, que prontamente junto ao Estado conseguiu intervir pra eu continuar na educação especial.” 

Primeira sala de impressão braile
Ainda em 1997, Josiani trabalhava no Beatriz Biavatti e Arlete Gumy era a diretora. Neste ano, Noeli Gumy, marido de Arlete, descobriu uma impressora braile. “Trouxemos essa impressora da Seed e abrimos a primeira sala de impressão braile, aí trabalhávamos eu, o Gilson e o Elmar. O que a gente fazia quando abrimos essa sala? Digitávamos livros literários e distribuíamos para os municípios do Núcleo de Beltrão, os alunos ganhavam esses livros, era uma sala de impressão dentro do Caedv.”

Em 1997, Josiani precisou ir a Campo Grande (MS), passar cerca de 70 dias sem retornar pra casa. “Lembro que foi uma decisão bem difícil, porque eu tinha um filho de 4 e outro de 5 anos. Só tinha telefone fixo, eles ligavam e diziam: ‘Quanto tempo eu tenho que dormir pra você voltar?’.”Felippe e Lothar sofreram muito sua ausência. “Fui uma mãe ausente pra ser presente no meu trabalho, e eu tive um apoio incondicional do meu marido, o Eduardo Brenner, que cuidava das crianças e sempre me incentivou pra eu sempre buscar mais e trazer algo de diferente para as pessoas cegas. Se a família não te dá esse suporte você não consegue.”

Centro de Apoio Pedagógico 
Em 2000, a Associação Brasileira de Deficientes Visuais, na qual seo Amilton Garai (in memorian) era o presidente, criou um projeto junto ao MEC chamado Centro de Apoio Pedagógico (CAP) na Área de Deficiência Visual, que seria implantado somente nas capitais. Mas, no Paraná, além de Curitiba, implantou-se em Maringá e em Francisco Beltrão. Em 2001, Josiani fez a formação e no ano seguinte implantou-se o CAP em Francisco Beltrão, sob a sua coordenação.

[relacionadas]

“Conseguimos junto ao Núcleo, através de contratos, primeiro trabalhou a Fabiana Brum, depois o Altair Belé, o Elizandro Faust e a Júlia Leão, auxiliando no CAP, como digitadores. Posteriormente, foi feito um concurso, o professor Gilson Rovaris passou em dois concursos e foi ser o revisor do CAP.” Professora Mariolane esteve um período fora de Beltrão e, com a insistência de Josiani, também reintegrou a equipe até se aposentar, em março de 2019.

Assim como Márcia Carleto, que também se aposentou em março de 2019. “Nós três tínhamos uma sincronicidade de trabalhar que era admirável, até hoje, além de colegas de profissão, somos amigas, irmãs da vida.” Logo teve concurso para administrativo e começaram a trabalhar Juliana, Daniela e Cristiane. Juliana saiu e entrou a Bárbara no seu lugar. Franciele Sganderla também ficou por um período. Hoje a equipe do CAP está composta pela professora Lia Breda, atual coordenadora, Gilson Rovaris e Arilson, que são revisores braile; Ângela e Vilma, que são do administrativo e as professoras Maristela, Analice, Édna e Elci. 

Laudo oftalmológico 
Josiani recorda que, para ingressar no Caedv, em 1986, era necessário um laudo oftalmológico. Na época, estava chegando a Beltrão o dr. Duarte Júnior, que começou a fazer os laudos oftalmológicos gratuitamente para que os alunos pudessem começar a estudar. Passados 35 anos, dr. Duarte Júnior permanece com este atendimento gratuito. O mesmo aconteceu com a chegada da dra. Carla Bandeira, que prontamente faz os laudos e consulta gratuitamente os alunos para ingresso no Caedv. “São nomes que precisam ser lembrados, porque o trabalho não se constitui de uma única pessoa, é uma rede de pessoas em prol de uma causa, que é a causa das pessoas cegas e de baixa visão.”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques