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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Waldemiro Somavila Francisco Beltrão há mais de 70 anos – Parte 2

Geral

Waldemiro Somavila.

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Como que o senhor foi parar em Salgado Filho?
O gerente da companhia (Erechim) me levou pra lá, era o Adolfo Spessato. Fui pra trabalhar na companhia, primeiro construir casa, lá tinha bastante escritório da companhia. Depois eu peguei o trator, trabalhei anos com o trator.

Aí o senhor veio trabalhar com máquinas? 
Sim, máquina. Depois construímos a igreja lá, eu ajudei do começo ao fim, por conta da companhia, porque a companhia construiu a igreja, um colégio e deu o sino, o sino tá lá ainda, é enorme. É pra colonizar terra. 

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O senhor abriu loja em Salgado Filho?
Sim, de roupa, calçado. Depois eu parei com o trator e peguei o caminhão, puxar porco pra São Paulo. Aí eu trazia mercadoria pra mim, não tinha frete, construí bastante lá, depois tinha loja de móveis.
O senhor trazia mercadoria de São Paulo, mas quem cuidava da loja?A minha mulher, com duas, três empregadas e eu pau na estrada!

O senhor conheceu a dona Lucila em Salgado Filho?
Sim, ela também era de família que veio do Rio Grande. 

Ela veio lá de Nova Bréscia (RS) namoraram pouco tempo e deu certo?
Sim, na verdade namoramos cinco anos, ela tinha 13 anos, cheguei lá, se gostamos e foi e foi até que eu casei. Eu não quis casar antes que eu não tivesse uma casa minha, aí comprei uma casa pronta, o gerente me ajudou, o Jaime Dala Costa, depois mudou o gerente, ele morreu, eu trabalhei anos em Erechim, daí o gerente tirou dez meses de férias e ele me levou junto pra Concórdia, em um ônibus de Concórdia pra Capinzal, seis meses, voltei e peguei o trator de novo, depois eu tava meio caseiro dele, mostrar a terra…

Quando o senhor casou já tinha capela em Salgado Filho?
Tinha, foi lá o casamento. O padre era de Barracão, nós ia buscar ele de jipe, cada 30 dias.

E foi num sábado, com festa? Como que foi?
Ah, eu fiz pouca festa porque tava meio esprimido, né.

Tinha construído a casa?
Sim, a casa, daí comprei a mudança, peguei um caminhão de um colono, vim ali no Salvatti, comprei tudo o que era de cozinha, desde fogão, paneleiro, tudo, fui na Marcenaria União e fiz a mudança, comprei guarda-roupa, guarda-louça, cama, colchão, tudo, daí casei.

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No tempo da revolta o senhor estava em Salgado Filho. Lá aconteceu alguma coisa?
Lá não deu nada, só que nós se escondemos tudo, fizemos valeta com o trator, tipo trincheira, todos quietos. Ficava guardião de noite, porque era terra, mas não mexeram com a Erexim, nada. O gerente da firma veio no escritório, daí o Adolfo saiu, desceu pra baixo, deixou ele lá dentro, guardou as coisas, chaveou o cofre, daí eles saíram.

O Adolfo saiu pelos fundos, daí tava o Dionísio Spessato, ele foi junto até o hotel e o outro veio lá com o revólver na mão, a cavalo. Ele destravou e puxou os dois de uma vez só (espingarda de dois canos), deu um na orelha do burro, ele tava a cavalo, e o outro no homem. Ele chegou no escritório, com a 16, do lado, pega o jipe vai pra Barracão buscar o delegado, foi  buscar ele de noite, chovendo e a estrada era feroz, vieram buscar a morte.

Daí falaram “tu chega em casa, coloca o jipe na garagem, enche o tanque, deixa a chave no lugar, na garagem do escritório, da firma. Nunca mais vi o homem, levantou de madrugada e foi, o Adolfo, ele tava escondido.

Então o Adolfo foi o que matou, por problema de terra, e quem que era o cara que morreu?
Um do Tracutinga, tal de Ferreira era o sobrenome.

E o Adolfo foi embora?
Nunca mais vi o homem, voltou para o Rio Grande.

Mas isso não foi por causa da revolta então, foi briga deles?
Sim, briga por causa de terra, mas a fama deles era de brabo.

E aquele tempo que o senhor morava em Nova Prata, como foi?
Foi bem, morei dez anos lá. Eu construí uma casa no lago, de material, dois pisos, bem boa, tinha dois quartos, banheiro, sala, cozinha, e construí na cidade, depois vendi, lá debaixo vendi também, fiz um poço artesiano, a Prefeitura ajudou, mas roubavam muito lá, eu ia cada dez dias, às vezes ficava um mês sem ir.

E quando voltou para Beltrão?
Voltei faz uns seis, sete anos, eu comprei um apartamento lá no trevo, daí a casa de Nova Prata eu troquei com a filha, por esse apartamento aqui. Ela vendeu lá.

E aqui tá bom de morar?
Bom, eu cuido aqui (a praça) mas eu não ganho nada, eu me enterto daqui um pouco vou molhar a grama.

E a saúde tá boa, seu Waldemiro? 
Tá, graças a Deus, sempre. Eu saía de Salgado Filho às 3h, da manhã, direto pra São Paulo com o caminhão, sem dormir, não tinha ajudante junto.

O senhor conheceu o Seu Antonio Arisi, lá de Flor da Serra?
Ele foi meu patrão quando eu puxava porco, o Albino, foi prefeito, e queria que eu pegasse o trator, eu ganhava 100 cruzeiros por mês, trouxe trator de Curitiba, pra Prefeitura. Cheguei lá, tava trabalhando com o trator e o prefeito olhando. Ele disse pra mim “e agora o que eu faço sem tratorista?” Perguntou quanto eu ganhava pra trabalhar com o caminhão, eu disse que ganhava 100, e ele disse “quer pegar o trator, eu te dou 200”. Eu disse “de hoje em diante eu sou tratorista da Prefeitura” 

O senhor foi o primeiro tratorista da Prefeitura?
Fui o primeiro, trabalhei muitos anos. Depois eu tinha loja, e eu tinha que ir fazer compra e parei por causa disso.

O senhor aprendeu lidar com o trator ainda no tempo da colonizadora?
Sim.

Se aposentou na Prefeitura?
Não me aposentei porque eu tinha aviário, eu fui buscar o Incra, o cara do correio perguntou quantos anos eu tinha, e eu já tinha 60. “Me traz umas cinco notas que eu te aposento.” Não levou dez dias eu estava aposentado, achei que ia demorar mais, perdi todo o tempo da loja porque me aposentei como agricultor. 

Confira a parte 1.

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