
JdeB – Uma ação da faculdade fez com que a então estudante de Fisioterapia Fabiani Greggio Kobielski fornecesse uma amostra de sangue para inclusão no Redome, o registro nacional de doadores voluntários de medula óssea. Foi em 2012. Desde então, nunca mais havia consultado seu cadastro, até que no ano passado recebeu uma ligação informando que ela poderia ser compatível com um paciente. “Primeiro achei que fosse golpe, aí entendi melhor como funcionava o sistema, liguei no Hemonúcleo e me passaram mais informações que me deixaram mais segura”, relata.
O primeiro exame foi em setembro de 2024, para confirmar a compatibilidade. “O doador tem a chance de dizer se quer prosseguir ou não com a doação, porque gera deslocamentos, exames e o procedimento em si”, completa. Fabiani aceitou ser doadora e dois meses depois seguiu com uma prima para São Paulo, onde fez uma bateria de exames no Hospital Nove de Julho. Retornou a Beltrão para aguardar os resultados e em uma semana iniciou o processo para doação.
Ela doou medula por aférese, com punção venosa no braço. Dias antes do procedimento, Fabiani precisou tomar medicação que estimula a mobilização de células-troncos da medula para a corrente sanguínea. O procedimento retira o sangue, separa as células e devolve o sangue para o organismo. “A compatibilidade e a doação são só uma fase, depois precisa acontecer a ‘pega’ da medula, que é quando funciona no organismo. Mas é incrível ver em como a gente começa a torcer por alguém que eu nem sabia que existia, que eu não conheço, e que passa a fazer parte das minhas orações”, relata.
Por protocolo, doador e receptor não têm contato; em seis meses, Fabieli pode pedir sobre o estado de saúde de quem recebeu a doação e somente após um ano e meio pode haver algum tipo de contato, se ambas as partes assim desejarem. Uma das surpresas nesse processo foi a mobilização, organização e capacidade do SUS em articular vários agentes e investir para salvar uma vida: “Fiquei surpreendida com o fato de ter um serviço de tamanha qualidade e com tudo pago”.
Cadastro é simples
A principal orientação da doadora é se cadastrar no Redome. Qualquer pessoa entre 18 e 35 anos, sem doenças impeditivas como HIV, hepatites B e C ou doenças autoimunes, pode se increver no sistema nacional que armazena e gerencia as informações de milhões de voluntários em todo o Brasil.
O cadastro é feito nas unidades de coleta, uma única vez, e exige apenas um documento oficial com foto, o cartão do SUS e a coleta de uma amostra de sangue de 5 ml para o teste de compatibilidade.
Manter os dados sempre atualizados no sistema é fundamental para garantir que o contato seja feito rapidamente e que a convocação chegue ao doador.
Hemonúcleo alcança resultado histórico, com três doadores em um ano
AEN – Em um feito inédito, o Hemonúcleo de Francisco Beltrão registrou, em apenas 12 meses, três doadores de medula óssea compatíveis, levando esperança a pacientes que aguardavam um transplante. Pode parecer pouco, mas esse resultado representa um marco para o Hemonúcleo e para todo o Paraná e destaca a importância do cadastro de novos doadores para ampliar as chances de salvar vidas.
De acordo com dados do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), atualmente, 650 pessoas aguardam um doador, enquanto 5,7 milhões de voluntários estão cadastrados no sistema em todo o Brasil. Desses, 575.500 são do Paraná, colocando o estado na terceira posição do ranking nacional, atrás de São Paulo e Minas Gerais.
No entanto, mesmo com esse número expressivo, as chances de um paciente encontrar um doador compatível variam de 1 em 100 mil (nos casos entre parentes) a 1 em 1 milhão de pessoas, quando considerado o registro geral. Devido às particularidades genéticas, por exemplo, a chance de compatibilidade entre irmãos é de apenas 30%, tornando ainda mais difícil encontrar um doador fora do círculo familiar.
Além de Fabiani, outros dois doadores da região foram convocados nos últimos meses. Para o estudante Leonardo Laurindo, que se cadastrou como doador em 2019 e fez a doação no ano passado, o processo foi uma experiência transformadora.
“A sensação de poder ajudar alguém dessa forma é simplesmente inexplicável. É um gesto de solidariedade que não tem preço, algo que poucos podem oferecer, mas que faz toda a diferença na vida de quem precisa. Decidi me cadastrar porque é um processo simples, mas que pode representar a única esperança para alguém. Saber que minha doação pode salvar uma vida é a experiência mais gratificante que já vivi”, relatou.
No final deste mês a vendedora Dangela Beatriz Bogoni, residente de Dois Vizinhos, na 8ª Regional de Saúde, viajará para São Paulo para realizar a doação de medula óssea, com todas as despesas custeadas pelo SUS. Para ela, a experiência tem sido extremamente gratificante.
“A sensação de poder salvar uma vida é indescritível, uma mistura de felicidade, orgulho e emoção. Desde o primeiro contato com o Redome e o Hemonúcleo, fui muito bem acolhida por profissionais incríveis, que explicam tudo com atenção e carinho. Me sinto até uma celebridade”, brinca. “É algo transformador. Percebi o quanto podemos ser importantes na vida de alguém. Por isso, estou incentivando amigos e conhecidos a se cadastrarem como doadores e viverem essa experiência única.”
Ações conscientizam

A doação pode ser a esperança para o tratamento de até 80 doenças, incluindo leucemia, anemia e diversos tipos de câncer, beneficiando pacientes de diferentes idades e estágios da doença. Por isso diversas ações são realizadas em toda a rede. “Precisamos trabalhar continuamente na orientação, educação e conscientização da população sobre a importância de se cadastrar no Redome e se tornar um potencial doador de medula óssea. Além disso, é fundamental desmistificar o processo de doação, que ainda afasta muitas pessoas. Estamos muito satisfeitos com o fato inédito de, no período de um ano, termos registrado três doadores compatíveis em nossa região”, destacou o diretor do Hemonúcleo de Francisco Beltrão, Fábio Ebert.