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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

A realidade de vida das famílias do Bolsa Família: Empatia, desafios e a responsabilidade social

Nádia Bonatto. Foto: Assessoria.

O debate sobre a escassez de mão de obra e a suposta relação com o Bolsa Família revela, muitas vezes, um olhar simplista sobre a realidade dessas famílias que enfrentam não apenas dificuldades econômicas, mas também outras situações de vulnerabilidade social.

Em vez de reforçar estereótipos e preconceitos ou culpabilizar indivíduos que não tiveram acesso a direitos básicos que promovam seu desenvolvimento humano e social, é essencial aprofundar a compreensão sobre os desafios enfrentados por aqueles que dependem desse programa para garantir sua sobrevivência, assim como o papel da assistência social nesse processo.

A assistência social não é um favor ou privilégio concedido pelo Estado, mas um direito garantido a todos os cidadãos que enfrentam dificuldades para acessar bens e serviços essenciais. O Bolsa Família, dentro dessa estrutura, atua em três eixos fundamentais: proporcionar alívio imediato da pobreza para famílias que vivem com renda per capita de até R$ 218,00; ampliar o acesso a serviços públicos essenciais, como saúde, educação e assistência social; e coordenar ações com outros setores que promovam a superação da vulnerabilidade social, como educação, saúde, moradia, capacitação, trabalho, entre outros.

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Infelizmente, muitos que cresceram em ambientes familiares e sociais que proporcionaram suporte, estabilidade e condições para um desenvolvimento saudável enxergam a pobreza a partir de sua própria perspectiva de vida, ignorando que a ausência de direitos básicos impacta diretamente o desenvolvimento humano e social. A falta de acesso a serviços essenciais, como educação de qualidade, saúde preventiva, moradia digna e segurança alimentar, compromete significativamente a capacidade dessas famílias de ingressar e permanecer no mercado de trabalho.

Sem essas condições mínimas, a população mais vulnerável enfrenta dificuldades para obter qualificação profissional, competir por melhores oportunidades e conquistar a autonomia financeira. Assim, a pobreza se perpetua, criando um ciclo de exclusão que afeta não apenas os indivíduos, mas toda a sociedade.

Para romper esse ciclo, a política de assistência social oferece um conjunto de serviços socioassistenciais que fortalecem as famílias e garantem sua autonomia. Além disso, atua de forma articulada com outras políticas públicas para assegurar o acesso a direitos essenciais, promovendo inclusão e desenvolvimento social.

As famílias que dependem do Bolsa Família não escolhem essa condição por comodidade. Muitas são compostas por mães solo, idosos, pessoas com deficiência e crianças que necessitam de um suporte mínimo para garantir sua subsistência. São pessoas que enfrentam barreiras estruturais para ingressar no mercado de trabalho.

É urgente que a sociedade amplie seu olhar e compreenda que solidariedade e justiça social não são concessões, mas compromissos fundamentais para a construção de um país mais equitativo. A cobrança e o julgamento daqueles que mais precisam, muitas vezes feitas por quem teve oportunidades e acesso a um ambiente favorável ao seu desenvolvimento humano e social, demonstram uma falta de empatia que precisa ser superada.

O desafio não é apenas perguntar por que existe quem dependa do Bolsa Família, mas refletir sobre o que está sendo feito para que as próximas gerações não precisem mais dele. Para que tenhamos cidadãos aptos a preencher as vagas do mercado de trabalho, é necessário um esforço coletivo, que envolva políticas públicas eficazes, serviços qualificados de assistência social, promovendo novas oportunidades para ressignificar histórias de vida, investimento em educação e saúde, geração de empregos dignos e um mercado de trabalho que valorize as pessoas, independentemente da classe social.

Apenas com um olhar mais humano e inclusivo poderemos garantir que nenhuma família precise escolher entre a fome e a precarização do trabalho. A mudança começa quando cada um reconhece seu papel na construção de uma sociedade que não apenas acolhe, mas também oferece oportunidades reais para que todos possam viver com dignidade.

Nádia Bonatto, chefe do núcleo regional da Secretaria de Desenvolvimento Social e Família; foi secretária de Assistência Social de Beltrão de 2017 a 2024.

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