
Na terça, 10 de junho, Agustinho Seleski, diretor-geral da Rádio Princesa de Francisco Beltrão, emissora que opera na frequência 92.3 FM, concedeu entrevista ao Jornal de Beltrão. Com 87 anos, é incrível a disposição que ele tem para trabalhar e atender quem chega na rádio. Lembra com detalhes de fatos e datas.
Agustinho nasceu dia 19 de junho de 1938 em General Carneiro, na época conhecido como Marco Cinco, comunidade Passo da Galinha. É filho de Eugênio Seleski e Rosália Alub. Dos cinco irmãos, dois homens e três mulheres, Agustinho é o mais velho. Eles moravam no interior, trabalhavam na roça e tinham serraria.
Em 1950, mudaram para Pato Branco, onde seu pai montou um comércio. Em 1956, Agustinho fez um curso de elétrica mecânica e passou a fazer instalações elétricas em casas, rebobinava e consertava motores elétricos, além de fazer a parte elétrica de veículos. Ele lembra que consertou muitos caminhões, jeep, Dodge, Fargo.
Em 1958, casou-se com Julieta Matioda, num sábado às 10h, na matriz de Pato Branco. Julieta nasceu dia 31 de novembro de 1940 em Tangará (SC). A festa do casamento aconteceu na casa dos pais de Julieta, seu Jacob Matioda e dona Graciosa Belandi. Agustinho já tinha sua casa e sua oficina. Dez meses após o casamento, nasceu o primeiro filho, Júlio Augusto (falecido), depois vieram Airton, Adir, Ângela e Anni.
Domingos Bertaiolli, amigo de Agustinho, consertava motores de geladeira. Ele soube que a Rádio Colmeia de Francisco Beltrão estava à venda e convidou Agustinho para comprarem juntos a emissora. Agustinho já tinha experiência em rádio — à noite, era técnico de som na Rádio Colmeia de Pato Branco.
Em 27 de fevereiro de 1965, Agustinho, Domingos Bertaiolli e Carlos Vidal da Silva compraram a Rádio Colmeia de Beltrão do dr. Wálter Pécoits. Eram nove sócios. Compraram parcelado, pagando dois mil cruzeiros por mês. No primeiro mês, o faturamento foi de 1.700 cruzeiros, e tiveram de tirar dinheiro do bolso.
A rádio funcionava com 100 watts em 1300 KHZ e atingia longas distâncias, pois a frequência era livre. Só havia rádio em Beltrão e Pato Branco, ambas da Rede Colmeia. A emissora abria às 6h e fechava às 22h. Tinha o jornal da manhã e o jornal do meio-dia. Os programas e comerciais eram feitos todos ao vivo. O salário dos funcionários era pago com a venda dos anúncios. Havia notas hospitalares, falecimentos, festas, casamentos e aniversários. Eram cobrados cinco cruzeiros por cada. “Alguns colonos, quando chegavam na cidade, vinham até a rádio pra mandar recado pros familiares dizendo que chegaram bem”, recorda Agustinho.
Em 2 de fevereiro de 1966, assumiram a direção da rádio e formaram a Sociedade Rádio Princesa. O desdobramento da documentação só ocorreu em 1968. Em 1970, Agustinho comprou as cotas de Domingos Bertaiolli. A rádio estava alocada no prédio do Osmar Brito, em frente à Praça da Liberdade. Em 1974, mudou para a sede própria na Rua Ponta Grossa, onde está até hoje.
Em 1982, Agustinho comprou também as cotas de Carlos Vidal da Silva, que voltou para Santa Catarina com a família. Em 1975, ajudou a criar e foi o primeiro presidente da Aerp (Associação de Rádio Difusora do Sudoeste do Paraná), facilitando o acesso das emissoras ao Ministério das Comunicações. Depois, passou à associação estadual. Já havia 46 emissoras associadas. A sede, que era em Beltrão, mudou para Curitiba. Agustinho se deslocava semanalmente à capital para assinar documentos. Ficou na presidência por sete anos. Quando entregou, havia mais de cem emissoras associadas.
Em 1978, iniciou o programa Domingo Maior, com notícias e entrevistas, especialmente com prefeitos da região. Era das 7h às 9h. Agustinho ainda apresenta todos os domingos o programa A Princesa e a Valsa. Às 6h30 já está na rádio. Das 8h30 às 8h40, apresenta o Programa Evangélico Boas Novas. Depois, fala de esportes e loterias. Das 9h30 até as 10h, fala sobre vinhos. Às 10h30, encerra com o programa Recordando o Passado, com músicas dos anos 1950 e 1960 — cantores como Ângela Maria, Francisco Alves, Moacir Franco, Agnaldo Rayol e outros. Agustinho faz tudo no sistema antigo, com discos de vinil. “A tecnologia transformou o rádio”, comenta.
A Rádio Princesa tem um dos maiores acervos de aparelhos radiofônicos, fotografias, documentos históricos e discos de vinil da região, além de um dos CNPJs mais antigos de Beltrão. Agustinho diz que rádio é como cachaça: um vício. “Não faço pelo dinheiro, faço porque me realizo. Se você não gosta do que faz, tem que mudar, senão vira escravo do serviço.”
A Rádio Cristal de Marmeleiro também faz parte do Grupo Seleski de Comunicação, sendo administrada pelo filho Airton. A empresa tem parceria com a Rádio Clube de Realeza e a Pirâmide de São João. A tradição continua com o filho Adir e o neto Gabriel, que dão continuidade ao trabalho iniciado por Agustinho.
E ele não pensa em parar: “Enquanto puder, vou continuar.”