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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

FRONTEIRA MOVIMENTADA

Argentinos aquecem comércio e geram empregos na fronteira

O comércio do lado brasileiro já sente esse reflexo, com aumento de clientes argentinos.


Movimento intenso nas ruas da fronteira. Foto: Luiz Carlos Gnoatto.

Por Niomar Pereira – A região da tríplice fronteira entre Barracão (PR), Dionísio Cerqueira (SC) e Bernardo de Irigoyen, na Argentina, tem vivenciado uma mudança significativa no fluxo de consumidores. Se nos últimos anos era comum ver brasileiros atravessando a fronteira em busca de compras e turismo no país vizinho, agora o movimento é o inverso. Com o câmbio favorável — resultado da desvalorização do real frente ao peso argentino —, os argentinos têm cruzado para o lado brasileiro em busca de produtos com preços atrativos.

O comércio do lado brasileiro já sente esse reflexo, com aumento expressivo no movimento de clientes argentinos. Em resposta a essa nova demanda, muitas empresas da região passaram a contratar funcionários bilíngues para melhorar o atendimento. Em um Free Shop da tríplice fronteira, somente no mês de janeiro de 2025, consumidores de mais de 320 municípios — tanto do Brasil quanto do exterior — passaram pelo local para fazer compras. Do total de vendas no período, 1.939 foram registradas para clientes argentinos.

Dayana Andrade. Foto: Arquivo Pessoal.

A presidente da Associação Empresarial da Fronteira (Ascoagrin), Dayana Andrade, explica que o comércio local tem se adaptado a essa inversão de fluxo nos últimos anos, investindo em estratégias para atrair e fidelizar os consumidores estrangeiros. Entre as medidas adotadas, estão a oferta de produtos com boa relação custo-benefício, a liberdade de cartões internacionais e a criação de opções de pagamento mais flexíveis, como crediário e possibilidade de compras mediante apresentação do DNI (documento de identidade argentino) ou CPF. “Nossos empresários também buscam entender o comportamento de compra dos argentinos e, em alguns casos, até utilizam uma nota promissória argentina, o chamado Pagaré, como forma de garantia”, destaca Dayana.

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De acordo com ela, esse movimento gerou aumento no valor médio das compras e no volume de vendas. As formas de pagamento mais comuns incluem dinheiro em peso argentino, cartões de débito e crédito, além de aplicativos como o Belo, que permite a conversão de moedas e facilita o pagamento via Pix, sendo uma das opções mais econômicas para os argentinos.

Os setores mais beneficiados com o novo fluxo de clientes incluem eletrônicos, vestuário e alimentos. Também houve uma mudança no perfil de produtos mais procurados, com destaque para itens como azeites, vinhos, produtos de perfumaria e de limpeza, conhecidos por terem qualidade e preços atrativos em comparação ao mercado argentino.

“Acredito que essa alta demanda pode gerar um crescimento significativo para o comércio da região, especialmente se mantivermos um câmbio favorável. Contudo, é fundamental não depender apenas desse cenário; precisamos diversificar nossas ofertas e fortalecer nossas marcas”, alerta a presidente da Ascoagrin.

Dayana também destaca que os desafios incluem a concorrência acirrada e a necessidade de adaptação constante às preferências dos consumidores. “No entanto, as oportunidades são grandes, especialmente com a possibilidade de expandir o mercado local. A Ascoagrin está atenta a essas mudanças e tem promovido ações que visam fortalecer o comércio fronteiriço, como capacitações para lojistas e campanhas de incentivo ao consumo local.”

Medicamentos e cosméticos

JdeB – A empresária Janaína Fonseca, proprietária de uma farmácia, percebeu uma forte alta na demanda de clientes argentinos nos últimos meses. Moradora da região há 30 anos, ela conta que, antes, renovava o estoque de cosméticos e produtos de perfumaria a cada 15 dias. Agora, com o aumento expressivo da procura, o arranjo passou a ser feito três vezes por semana para conseguir atender à demanda.

Com funcionamento até às 22h, incluindo domingos e feriados, a farmácia se tornou uma opção prática para turistas que vêm de localidades mais distantes da Argentina. Segundo Janaína, o atendimento qualificado também é um diferencial valorizado pelos clientes estrangeiros. “Nosso farmacêutico, João Paulo, tem bastante experiência na dispensação de medicamentos e na orientação sobre o uso correto e seguro dos produtos, o que faz diferença, já que o atendimento em farmácias argentinas é um pouco diferente”, explica.

A empresa destaca ainda que é comum os argentinos comprarem produtos — especialmente aqueles que não exigem a prescrição médica — para toda a família. “Eles costumam levar sacolas cheias de produtos, pagam sempre à vista, com dinheiro em espécie. Nossas opções em perfumaria são muito apreciadas por eles”, afirma Janaína.

Quadro

A Ascoagrin conta com mais de 400 empresas associadas de Dionísio Cerqueira (SC), Barracão (PR) e Bom Jesus do Sul (PR). A entidade é filiada à Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), à Federação das Associações Empresariais do Paraná (Faciap) e à Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Sudoeste do Paraná (Cacispar).

Viagem de brasileiros à Argentina fica mais cara com altos preços de hospedagem e alimentação

Luiz Carlos Armachuski e Cleusa Armachuski – Fco. Beltrão, Luiz Milton Stella e Rejane Gumiero Stella – Fco. Beltrão E Ivan Eduardo Angelo – Londrina. Foto: Divulgação.

JdeB – Se os argentinos costumam visitar o litoral brasileiro em busca de praias e lazer, muitos brasileiros, por sua vez, são atraídos pelas belezas naturais da Argentina. No entanto, o alto custo de produtos, alimentação e hospedagem tem encarecido as viagens para o país vizinho.

O motociclista Luiz Carlos Armachuski, que percorreu a Argentina durante 20 dias em janeiro deste ano, relata que a viagem, neste momento, passou a exigir um bom planejamento financeiro. Segundo ele, a melhor cotação para troca de moeda foi encontrada na divisa, em Bernardo de Irigoyen, onde conseguiu trocar cada 1.000 pesos por R$ 5,10.

“A Argentina é um destino muito procurado, não só pelos brasileiros, mas por turistas de toda a América Latina. Porém, com a situação econômica do país e a constante desvalorização do real, é fundamental organizar bem os custos da viagem”, comenta Armachuski.

Ele repassou para a reportagem alguns valores pagos durante sua viagem. Uma hospedagem simples para uma pessoa custou, em média, 20.000 pesos, o equivalente a cerca de R$ 102. Para casais, o valor variou entre 40.000 e 60.000 pesos, de R$ 204 a R$ 306. Já uma refeição básica — bife com batatas fritas e salada — ficou entre 19.000 e 22.000 pesos, o que corresponde a aproximadamente R$ 97 a R$ 112 por pessoa.

“Se você quiser algo mais completo, com acompanhamentos ou uma sobremesa, o custo sobe bastante. Lá eles não têm buffet livre como no Brasil, a maioria dos restaurantes serve apenas à la carte”, explica.

O preço do combustível também varia conforme a região. Em média, o litro custava 1.235 pesos, cerca de R$ 6,30. Na Patagônia, onde há produção de petróleo e subsídio governamental, o valor foi mais baixo: 1.000 pesos, ou R$ 5,10 por litro.

Para economizar, muitos viajantes que fazem o trajeto até Ushuaia optam por comprar alimentos em supermercados e preparar refeições em campings ou hostels. “A alimentação, a hospedagem e até a entrada em parques estão bem caras”, comenta o motociclista.

Essa foi a terceira vez que Armachuski visitou a Argentina. Ele lembra que em 2017 os custos já eram elevados, mas não como agora. “Em 2023, quando fui para a Patagônia Chilena, a Argentina estava uma pechincha, nosso real valia muito mais lá. Agora, a realidade é bem diferente”, compara.

Turistas aproveitam para realizar tratamentos de saúde

JdeB – Além da busca por alimentos, bebidas e produtos de higiene, tem crescido a procura de turistas argentinos por tratamentos estéticos e de saúde em território brasileiro. A odontóloga Bárbara Fonseca, que atende em um consultório localizado na região da tríplice fronteira, conta que muitos argentinos, ao visitarem o comércio local, acabam entrando na clínica para buscar atendimento odontológico.

Como alguns desses turistas vêm de regiões mais distantes da Argentina, eles costumam aproveitar a passagem pela fronteira para iniciar e concluir o tratamento no mesmo dia, evitando a necessidade de um retorno. “Muitas vezes atendemos famílias inteiras. Como nossa clínica oferece todas as especialidades em um só local, conseguimos atender esposa, marido e filhos, todos juntos”, explica Bárbara.

Ela destaca que as indicações “boca a boca” também são frequentes. Argentinos que se tratam na clínica recomendam os serviços a parentes e amigos, que aparecem dias depois em busca de atendimento. “Já aconteceu de reservarmos uma tarde inteira ou até o dia todo apenas para atender uma família completa”, conta.

Outro comportamento observado é a preferência pelo pagamento à vista. “Eles costumam pagar todo o tratamento de uma só vez, sem solicitar parcelamento”, relata a odontóloga. Bárbara comenta ainda que os argentinos elogiam bastante a qualidade do atendimento e a atenção dos profissionais brasileiros. “Eles dizem que os brasileiros são caprichosos e simpáticos, e isso tem atraído cada vez mais turistas para buscar atendimento aqui no Brasil.”

Entrada de argentinos mais que dobrou em 2025

JdeB – Os dados divulgados pela Polícia Federal, por meio do setor de migração de Dionísio Cerqueira (SC), mostram um aumento expressivo no número de atendimentos em comparação ao ano passado, principalmente de turistas que entram pela região com destino às praias no litoral de Santa Catarina.

Entre 1º e 31 de janeiro de 2025, foram realizados 49.526 atendimentos, com 28.511 entradas e 21.015 saídas. Já no período de 1º de fevereiro até sexta-feira (14/2), o número total de atendimentos atingiu 78.233, sendo 43.935 entradas e 34.298 saídas.

Em comparação com o mesmo período de 2024 (1º de fevereiro a 14 de fevereiro), que registrou 33.614 atendimentos, o número deste ano mais que dobrou. Esse crescimento também reflete a desvalorização do Real em relação ao Peso Argentino, o que tem levado muitos argentinos a aproveitar o câmbio favorável para viagens ao Brasil, especialmente em direção às famosas praias catarinenses.

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