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Francisco Beltrão
sábado, 28 de junho de 2025

Edição 8.235

28/06/2025

ENTREVISTA COM DOM EDGAR

Bispo fala da importância dos meios de comunicação


Dom Edgar recorda sua vivência com a leitura desde a infância, elogia o papel formador da imprensa regional e destaca o compromisso da Diocese com a fé, a juventude e a formação de lideranças


Dom Edgar Ertl, no estúdio da Ação TV, no Jornal de Beltrão. FOTO: Adolfo Pegoraro/JdeB/Ação TV.

Quarta-feira desta semana, 25 de junho, dom Edgar Ertl, bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão, visitou os órgãos de imprensa beltronenses. No Jornal de Beltrão, ele primeiro fez uma visita rápida às instalações, falou a toda a equipe presente, reunida numa sala e, depois, gravou entrevista para o JdeB e Ação TV. Acompanhado do assessor de imprensa Luiz Bittencourt e da secretária da Pascom, Gislaine Correia da Silva, dom Edgar respondeu várias perguntas, evidenciando que tem muito trabalho pela frente, tanto ele como os padres e pessoal das 47 paróquias da Diocese, e também para os leigos que participam das ações e celebrações da Igreja Católica que tem, na Diocese, quatro dos seis municípios com os maiores índices de católicos, como mostrou recente pesquisa estadual.

– O senhor tem falado muito sobre a importância da comunicação e o que o senhor diz dos órgãos de imprensa de Francisco Beltrão?

Dom Edgar: É verdade, nós estamos numa região muito particular que é o Sudoeste do Paraná e Francisco Beltrão é a cidade referência. Os principais canais de comunicação estão aqui, assim como outras cidades também, cada cidade tem os seus meios de comunicação, mas, diríamos, o Jornal de Beltrão é o único impresso diário aqui no Sudoeste. Isso é um valor muito grande. Queremos dizer a toda a equipe do Jornal de Beltrão da sua importância para a comunicação. Todos nós que somos leitores, precisamos da informação. E a informação se transforma em formação, formação de opinião, formação também de uma ideia cultural. E também o Jornal de Beltrão tem se ocupado com um dado que é muito importante e de relevância, recuperando a história das famílias, do Sudoeste, dos municípios, a história das pessoas, a história das igrejas e das comunidades. Nós temos esse privilégio de ter um jornal e, tão próximo também da Diocese de Palmas, Francisco Beltrão, muito próximo, das nossas paróquias, dos padres, dos fatos que acontecem., Eu estou falando do ponto de vista eclesial, religioso, mas eu sei que o jornal tem essa abrangência em todas as dimensões do Sudoeste. Quando um jornal pode expressar isso, publicar esses fatos, todos nós sudoestinos ganhamos muito. E isso é muito, importante também para Francisco Beltrão, e para toda a região, quando temos acesso todas as manhãs de poder ter o nosso jornal em mãos e acompanhar aquilo que vai acontecer o dia a dia de uma cidade, de uma região, quando o leitor pode acompanhar ele cria nele a cumplicidade, ou seja, o Sudoeste me pertence.

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O senhor nos dizia que leu o jornal no tempo de seminarista, mas ainda antes de ir para  lá, seu pai inclusive incentivava a leitura.

Bispo: Sim. O primeiro jornal que eu tive nas minhas mãos, eu tinha 5 anos, 6 anos, era o jornal Correio Riograndense, publicado pelos Freis Capuchinhos de Caxias do Sul. Durante, mais de 45 anos o meu pai foi assinante desse jornal. Então eu cresci incentivado, instigado pelo meu pai para eu ler e, assim como revista, revista Rainha dos Apóstolos, que era a revista dos padres Palotinos. Depois, sem saber, eu entrei nessa congregação e quando cheguei lá soube que a revista Rainha, pertencia a esta congregação. E o meu pai tinha revista Rainha desde os anos 70 em sua casa. Então, quando eu tinha 4 anos, 5 anos, a revista Rainha já entrava na minha casa, e a nossa casa era um lugar muito difícil lá no interior de Nova Prata. Uma ou duas vezes por mês, meu pai vinha pra cidade, tinha uma agência do correio muito precária, recebia o jornal, recebia a revista, levava, lia, minha mãe lia, eu lia, meus irmãos liam. Então, esse clima de leitura, eu sou muito grato, eu sempre falo disso. Meu pai morreu em 2023, dia 3 de janeiro. O meu pai leu muito até 10 dias antes de morrer. A memória dele foi a última que se apagou, dado a experiência que ele tinha de leitura, prestava muita atenção no rádio. E nos últimos tempos, quando aposentado, também teve tempo de acompanhar os jornais da televisão, jornais brasileiros das diversas redes de notícias, isso tudo é um ambiente onde eu cresci, com muita pobreza, com muita simplicidade. Ivo Pegoraro, não havia nada de luxo, nada, tudo muito simples, precário, mas diríamos o incentivo à leitura, eu recebi dentro de casa e, depois eu tive excelentes professores também que me instigavam a leitura e, isso me ajudou muito.

– O Rio Grande do Sul, que é mais antigo, tem revistas como A Rainha, ligada à Igreja Católica, com mais de 100 anos. E aqui nós temos a revista Olhar, que é da Diocese. Se depender do apoio do senhor bispo, ela continua?

Dom Edgar: Sim. O padre Sérgio sabe disso, padre também quando o padre Bressani estava à frente da revista, agora o Luiz Bittencourt também. E eu tenho sempre falado para os padres e para as pessoas: “Enquanto a gente puder manter a revista, nós vamos mantê-la”. Dado que isso é um fato histórico, cultural, nós evangelizamos pelos meios impresso, ou seja, o jornal, os artigos, a revista, os artigos eles sempre vêm para contribuir com conteúdos que colaboram com o meu processo evangelizador, com a minha fé, com os princípios da minha igreja, da minha religião. Então, uma revista como a nossa, e outras aqui no Paraná, quase todas as dioceses têm a sua revista ou o seu jornal. E eu sou um grande defensor. Enquanto a gente tiver um centavo para manter uma revista, mesmo que tiver um leitor, pois nós vamos mantê-la, dada a importância que a escrita tem.

– Nós estamos vivendo um ano de mudança de papa. O que isso representa para a Igreja?

Dom Edgar: Prevost foi uma surpresa para todos nós, dado que ele era cardeal, ele era prefeito de Castel dos Bispos, datas recentes, a sua nomeação nas funções que ele tinha as datas recentes. O seu histórico no Vaticano era breve ainda. Foi uma surpresa, mas uma surpresa teológica, uma surpresa eclesial, uma surpresa que nós que somos cristãos, nós temos mais do que expectativa, nós temos esperança. A figura do Papa Leão 14 está nos despertando muita esperança, estamos com muitos sonhos. Ele continuará nos principais temas do Papa Francisco, temas importantes para a igreja e para a sociedade, como o tema da guerra, refletindo sobre esse grande terror que a guerra, diria esse paradoxo, essa contradição pecaminosa, que traz a guerra para a humanidade. O papa Leão, assim como os outros papas, sempre a igreja teve uma proposta de paz, porque é uma proposta do evangelho.

– O senhor recebeu alguma manifestação positiva ou negativa dos católicos do Sudoeste sobre o novo papa Leão 14?

Dom Edgar: Não, as manifestações que eu recebi todas foram positivas. Todas, todas, todas. Não escutei nenhum questionamento, nenhuma advertência. Eu inclusive fiz perguntas para as pessoas em diversos fóruns onde estive, inclusive com jovens: “E aí, que você achou da nomeação do novo papa?”. E todos, todos, todos, todos de forma unânime, me deram um retorno muito positivo, com muita esperança, com muita expectativa e assim, com muito contentamento da escolha deste papa.

– Voltando à nossa diocese, sua rotina também é intensa? E como estão as 47 paróquias? Qual é a principal preocupação?

Dom Edgar: O censo também nos deixou com bastante contentamento, porque há uma referência católica expressiva no Sudoeste do Paraná. Temos paróquias com índice até muito bom, a participação do nosso povo. Claro, nós gostaríamos que fosse bem maior, mas nós temos ainda nossas igrejas, nossas comunidades, nossas liturgias são bem participadas. O Sudoeste tem um diferencial talvez de outras regiões. A chegada dos padres belgas, como dizíamos. Depois, através da Assesoar, através de Dom Agostinho Sartori, houve sempre uma preparação da formação dos leigos, das lideranças. A Diocese sempre priorizou a formação de lideranças. Temos escolas para os catequistas, temos escolas para o diaconato permanente, escola de juventude, escola de liturgia, escola de fé e política. A partir do ano que vem, estou propondo também uma escola diocesana para a formação dos novos ministros, então nós temos paróquias com muitas lideranças. Nós temos boas equipes de liturgia, temos catequistas bem formados, bem preparados. E claro que eu gostaria, talvez o nosso desafio hoje respondendo é: “Eu sinto, ainda no Sudoeste a ausência da juventude nas igrejas, nas celebrações.”. Isso é o lado triste. Eu sempre digo isso também nas minhas homilias e catequeses. Quando os jovens faltam na igreja, a igreja é triste. A igreja tem uma fisionomia um futuro que não promete muito. Essa é uma preocupação que eu tenho desde que eu fiquei bispo. Mas também temos que respeitá-los dentro do seu tempo, das suas experiências e de suas buscas. Talvez os jovens ainda no Sudoeste são aqueles que nós chamamos, eles têm fé, eles acreditam, são pessoas maravilhosas, mas são desigrejados. Então, tem aumentado muito, no Sudoeste, os desigrejados. São cristãos, temem a Deus, mas não são da igreja ou com raridade vão para a igreja ou para as missas.

É uma experiência. Eu digo, a prática religiosa não pode ser uma obrigação moral ameaçadora. Eu devo saber porque vou pra igreja, porque eu rezo. Eu preciso ir pra igreja. Eu preciso rezar.

– A recente pesquisa divulgada mostra que a Igreja Católica continua forte aqui na região. Trabalho tem bastante para todos que participam da igreja?

Dom Edgar: É, com certeza. É verdade. Os números demonstram uma eclesiologia católica ainda bem consolidada. É verdade que alguns cristãos católicos, eles brincam até comigo. “Ah, eu sou católico de IBGE, estou só na estatística, mas não estou na igreja”. Mas são opções.

– Outro detalhe também que se observa, que somando os cristãos dá quase 90% porque dos que se dizem ateus, agnósticos não chegam a 10%.

Dom Edgar: Não chegam. O Sudoeste tem uma característica religiosa fantástica. É um espelho também para outras regiões do Brasil, ainda a nossa consciência de que a igreja tem uma importância na vida, não só no ponto de vista religioso, mas no ponto de vista social, cultural, nos relacionamentos, uma referência porque nós precisamos de algumas referências, e as referências, primeiro lugar é a família. A nossa referência primeira é a família. Quando somos crianças, adolescentes e, jovens, também a escola é uma referência, é um ponto que nós não podemos abrir mão da escola e junto à escola estão as comunidades, as igrejas. E essa experiência na família, na escola e nas igrejas, isso é de grande importância. É o tripé para que tenhamos pessoas adultas equilibrados, saudáveis, inteligentes, sábias, pessoas com um dom também de colaborar com a sociedade, porque a família, as igrejas, falo no plural e também as escolas, essas três entidades são responsáveis para formar as nossas novas lideranças, mas de onde é que nós vamos ter, não é só a faculdade, a escola que forma, ou seja, é necessário também esse embasamento religioso, embasamento cultural e familiar. Então, renegar a igreja, seja ela católica ou não, nós estamos renegando uma dimensão na vida das pessoas. Então, o Sudoeste tem uma marca bonita, ou seja, essa cumplicidade, esse pertencimento, essa aproximação da igreja com a população.

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