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Francisco Beltrão
sexta-feira, 27 de junho de 2025

Edição 8.234

27/06/2025

CENÁRIO ADVERSO

Brasil enfrenta ciclo de juros altos e dívida crescente


Empresário e economista avaliam que gasto público elevado e falta de reformas comprometem os efeitos da política monetária.


Foto: Chat GPT.

A taxa Selic, mantida acima de dois dígitos desde o início de 2022, reflete um cenário de inflação persistente e preocupações crescentes com os rumos fiscais do país. Segundo o empresário Ricardo Ciquelero, esse patamar elevado dos juros é resultado de uma sequência de desequilíbrios iniciados no pós-pandemia, como a retomada acelerada da economia, a alta nos preços das commodities e o realinhamento de preços reprimidos durante os períodos de restrição.

“Mais recentemente, o que pesa é o afrouxamento da política fiscal. O mercado enxerga que o governo está gastando demais, e esse excesso pressiona a inflação”, afirma. Ele destaca ainda que o aumento dos salários acima da produtividade contribui para o problema. “Inicialmente, o poder de compra cresce, mas logo os custos são repassados aos preços e a inflação volta.”

Na avaliação do empresário, o Brasil vive hoje um risco fiscal severo. “No ritmo atual, ou o Brasil quebra, ou a inflação começa a subir sem parar.” Ele lembra que o país paga cerca de 12% de juros nominais ao ano, o que dobra a dívida pública a cada seis anos. “Hoje a dívida é de R$ 9 trilhões. Se continuar assim, ela vai para R$ 18 trilhões até 2031. O PIB atual é de R$ 12 trilhões, e teria que subir para uns R$ 20 trilhões nesse mesmo período — ou seja, um crescimento de quase 50%. Isso nos diz que vamos ter, sim, uns 50% de inflação nos próximos seis anos.”

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Ricardo cita a chamada inflação implícita, calculada pelo mercado com base nos juros de longo prazo. “Hoje já projetam uma média de 7,17% até 2035, muito acima da meta de 3%. Por isso a taxa de juros está em torno de 14% ao ano nos contratos futuros.”

O economista Inácio Pereira, por sua vez, explica que a Selic é uma ferramenta legítima de controle inflacionário, mas que sozinha não resolve os problemas estruturais da economia. “A inflação vem, principalmente, da emissão de moeda e do desequilíbrio entre oferta e demanda. A alta do dólar, por exemplo, favorece exportações e pode gerar escassez interna, como vimos recentemente com o café. Já no caso do frango, o excesso de oferta com os embargos internacionais levou à queda dos preços no mercado interno.”

Para Inácio, o ajuste monetário precisa ser acompanhado de investimentos em infraestrutura. “Se o governo não investir para melhorar a oferta, qualquer aumento na demanda da população vai gerar surto inflacionário. Não tem milagre. Ou se investe em infraestrutura, ou a economia vai seguir nessa gangorra dos juros.”

Sobre o impacto dos gastos públicos, o economista considera que eles fragilizam os efeitos da política monetária. “Não é que anulem, mas gastos irresponsáveis somados à insegurança jurídica e à falta de reformas estruturais — especialmente a administrativa — tornam o ambiente hostil para quem quer empreender. Prova disso são as constantes tentativas de aumentos de impostos. Resultado: com juros altos, é mais fácil aplicar o dinheiro do que investir no setor produtivo.”

Segundo Inácio, o país vive um ciclo de desestímulo ao investimento. “É mais cômodo deixar o capital aplicado do que apostar no agronegócio, na construção civil ou até na própria empresa. Isso freia o crescimento e dificulta ainda mais o controle da inflação.”

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