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domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

“Dezembrite” existe mesmo?

Por Mariana Hirche – Não é de hoje que o fim de ano desperta sentimentos ruins nas pessoas. Afinal, é hora de avaliarmos quantas metas estabelecidas para o ano que finda conseguimos alcançar. E, em geral, quando não contamos com o acaso ou a obrigação, poucas realmente são atingidas.

Com a chegada de dezembro, muitos de nós começam a sentir os sintomas da “síndrome do final de ano”, carinhosamente apelidada neste ano de “dezembrite”. Essa condição sazonal é caracterizada por uma mistura de nostalgia, reflexões sobre o ano que passou e antecipação para o que está por vir. À medida que as luzes de Natal brilham e as músicas natalinas preenchem o ar, fica difícil escapar do clima de dezembrite.

Essa tal “síndrome do fim de ano” é muitas vezes marcada por um desejo coletivo de fechar ciclos, definir novas metas e, claro, aproveitar ao máximo as festividades, o que parece ser uma resposta natural aos encerramentos e à expectativa do novo.

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Há ainda essa associação cultural de que este é um mês de fim de ciclos. Mas como iniciar um novo ano sem que todas as tarefas anteriores tenham se cumprido? Assim, se para alguns, o Ano Novo renova as esperanças, para outros, traz a ansiedade de já começar arrastando uma antiga carga, além de lidar com o ainda desconhecido próximo ano.

O conceito de “dezembrite” não existe na psicologia, na psiquiatria ou na psicanálise, mas os sintomas parecem muito reais. E, para quem já sofre com quadros de saúde mental, esses podem ser agravados. Mas até quem não apresenta diagnóstico de depressão, transtornos de ansiedade e afins também  pode ser afetado.

E, se levarmos em conta que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de ansiosos diagnosticados, não é a toa que o termo “dezembrite” ganhou as redes sociais, as manchetes e se popularizou no vocabulário.

Mas, conforme os irmãos psicólogos e psicanalistas Bruno e Érico Péres Oliveira, chamar de “dezembrite” um claro problema de saúde pública é blefar com a realidade. “Não está fácil cumprir com os acordos que fazemos com a gente mesmo na virada do ano. Na correria do dia a dia, a primeira coisa que deixamos de lado é o autocuidado. Dieta, academia, consulta de rotina e saúde mental vão ficando sempre para depois”, dizem.

Assim, metas comuns, como passar tempo de qualidade com a família, às vezes, parece impraticável, “visto que, nos momentos de folga, só queremos esvaziar a cabeça, ficar em silêncio, colocar o sono em dia”, exemplificam.

Outro exemplo de plano muito fácil de ser frustrado é o planejamento financeiro, com planilha e dinheiro investido. “Com o passar do tempo, em vez de dinheiro, é mais fácil que sobre algumas dívidas. Isso sem contar aqueles que planejaram mudar de emprego, de carreira, de caminho, e acabaram engatados no piloto automático: quando viram, já era dezembro”, avaliam os psicanalistas.

Para eles, é claro que a saúde mental merece toda a atenção. “Precisamos nos cuidar, precisamos estar inteiros para 2024, para a nossa família, nossos amigos e nosso trabalho. Mas, nem se toda a população tivesse acesso a tratamento adequado, se outros aspectos sociais e culturais não mudarem, a ‘dezembrite’ vai se prolongar o ano todo, por todos os anos”, alertam.  

Portanto, se você se pega em meio a reflexões nostálgicas ou ansioso pelo novo ano, preste atenção se a sua “dezembrite” é um estado temporário ou se ela vai persistir com o passar do tempo ou se é um padrão que se repete a cada fim de ano. “Ao refletir sobre o ano que passou, lembre-se de celebrar conquistas e aprender com desafios. Relaxe, desfrute das festividades e prepare-se para receber o ano novo com mais calma e planos possíveis de serem colocados em prática”, finalizam Bruno e Érico.

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