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Francisco Beltrão
domingo, 15 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

CAZAQUISTÃO

Do Bairro Novo Mundo para o outro lado do mundo


Beltronenses contam como é viver e trabalhar no Cazaquistão.


Os dois trabalharam trajados a caráter na churrascaria . Fotos: Arquivo pessoal

Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais um vídeo com dois jovens de Francisco Beltrão que vivem atualmente no Cazaquistão. A reportagem do Jornal de Beltrão conversou com eles para saber como é a rotina no país, o que os levou até lá, como foram recebidos pelo povo cazaque e quais as principais diferenças culturais.

O Cazaquistão está localizado na Ásia Central, fazendo fronteira com Rússia, China, Quirguistão, Uzbequistão e Turcomenistão. É o maior país sem litoral do mundo e tem população de cerca de 20 milhões de pessoas. O clima é continental, com invernos rigorosos e verões quentes. A antiga capital é Almaty, mas a atual é Astana. É uma nação rica em petróleo, gás e minerais.

De Beltrão para a Ásia Central

Maurício Rocha, 31 anos, está há dois anos no Cazaquistão. Ele conta que a oportunidade surgiu por meio de um antigo colega de trabalho: “Eu morava em Dubai e conheci um indiano que depois veio para Almaty, a antiga capital do Cazaquistão. Ele sempre me convidava para trabalhar com ele, mas eu relutava porque achava que era um país perigoso. Depois de estudar bastante, decidi aceitar e estou aqui até hoje.”

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Antes disso, sua trajetória foi marcada por desafios. “Comecei a trabalhar aos 10 anos para ajudar meus pais. Aos 12, perdi meu pai. Em 2016 fui para São Paulo e trabalhei numa churrascaria. Lá, conheci dois rapazes que iam para os Emirados Árabes e pedi para me avisarem se surgisse uma oportunidade. Eles me chamaram e fui.”

Atualmente, ele trabalha em uma churrascaria em Almaty. “A dona é russa e o convite veio daquele mesmo amigo indiano. Aqui o churrasco brasileiro é muito bem aceito. Eles adoram carne, inclusive carne de cavalo, que é comum na culinária local. O sistema é o mesmo do Brasil: rodízio, com o passador servindo na mesa.”

Adaptação ao idioma e ao clima

O idioma foi um dos maiores desafios. “Eu falava pouco inglês por causa de Dubai, mas aqui a língua dominante é o russo, que eu não sabia nada. A comunicação no começo era toda gestual, poucas pessoas falam inglês”, explica.

Agora, Maurício já é fluente em inglês e compreende bem o russo. Ele faz aulas particulares de russo três vezes por semana e estuda bastante pela internet.

O frio também impressionou. “No primeiro inverno cheguei a pegar quase -40°C. Sempre gostei de frio, então me adaptei rápido. Já passei por extremos: frio no Cazaquistão e quase 50°C no verão dos Emirados.” A diferença de fuso horário com o Brasil é de 9 horas.

Vida fora do trabalho

Sobre o dia a dia em Almaty, Maurício afirma que a cidade é bem estruturada. “É muito organizada, limpa, arborizada. Tem tudo: pistas de esqui, escolas, parques, restaurantes, vida noturna e gastronomia variada. O povo é hospitaleiro e quando descobrem que somos brasileiros, querem tirar fotos, fazer vídeos e até chamadas de vídeo com familiares.”

Diferentemente do Brasil, lá não há um sistema público de saúde. “Aqui, os médicos não são tão eficientes quanto os do Brasil. Quando você chega ao hospital, eles pedem para fazer todos os tipos de exames, mas, às vezes, nem conseguem identificar o que você tem. Tudo é pago e muito caro. Por isso, a gente se cuida muito para evitar ficar doente.”

Sobre o visto, ele afirma que não teve dificuldades. “Brasileiros podem ficar 30 dias como turistas. No meu caso, a empresa faz toda a documentação e renova meu visto anualmente.”

Maurício diz que a mudança para o exterior compensou financeiramente. “Já consegui comprar imóveis no Brasil e faço investimentos em criptomoedas. Tenho planos de abrir minha própria churrascaria aqui na Ásia.”

Aos jovens que pensam em seguir o mesmo caminho, ele aconselha: “Não tenham medo de viver seus sonhos. Trabalhem direitinho, respeitem as leis e culturas locais. É uma experiência incrível. Eu me sinto muito bem morando fora do Brasil.”

Do Novo Mundo para o mundo

Lucas de Oliveira, também beltronense, morava no bairro Novo Mundo e está há sete meses no Cazaquistão, a convite de Maurício. “Quando ele me chamou, fiquei com receio, porque ao ouvir ‘Cazaquistão’, logo pensei em guerra. Mas aceitei de imediato. Sempre quis sair do país e a proposta aqui era boa.”

Logo nos primeiros dias, Lucas se surpreendeu com o clima. “Desci no aeroporto e estava muito frio. Aí começou a nevar sem parar. Foi a primeira vez que vi neve, achei lindo.”

Ele trabalha como passador de carne na mesma churrascaria. “A rotina é puxada. Trabalho nove horas por dia, em dois turnos, seis dias por semana. No começo, só sabia o nome das carnes e dizer ‘sim’ e ‘não’ em russo. Hoje já consigo me virar melhor.”

Sobre a convivência, ele se diz bem adaptado. “Trabalho com colegas do Nepal, Índia, África e Brasil. Não falo muito inglês, mas a gente dá um jeito de se entender. Brasileiro é fo…, se vira.”

Lucas se impressiona com o carinho que os cazaques têm pelos brasileiros. “A gente tira mais de 100 fotos por dia. Quando descobrem que somos do Brasil, pedem fotos, fazem vídeos, ligam para parentes. Já devo ter tirado mais de 5 mil fotos. Às vezes cansa, mas faz parte.”

Ele ainda não sabe se continuará no país após o fim do contrato, mas não descarta permanecer. “É um lugar incrível. Quem tiver vontade de conhecer o Cazaquistão, eu recomendo.”

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