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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Evento na Unioeste debate saúde, inclusão e evidências científicas no tratamento do autismo

Seminário promovido pela Unioeste e Unimed será no dia 10 de junho, com entrada solidária; especialistas alertam para diagnósticos equivocados e terapias excessivas em crianças.


André Araújo, Wemilda Fregonese e Márcio Martins. Fotos: Assessoria.

Na próxima terça-feira, 10 de junho, será realizado em Francisco Beltrão o seminário Direitos, Saúde e Desenvolvimento Humano: Perspectivas Interdisciplinares para uma Abordagem Inclusiva. O evento acontece a partir das 19h15, no auditório Carlos Maes, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), e é uma parceria entre o curso de Direito da instituição e a Unimed Francisco Beltrão. A entrada será solidária: um quilo de arroz ou feijão, que será destinado à Comunidade Terapêutica Sob Olhar de Maria.

A programação contará com uma mesa-redonda que abordará temas de grande relevância social, com foco no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e na Medicina Baseada em Evidências (MBE). Participam como palestrantes Clênio Jair Shulze, juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Laura Ceretta Moreira, pós-doutora em Educação; e o médico neuropediatra Renato Santos Coelho. A mediação será conduzida pelo psicólogo Paulo Alexandre Munchen.

Liliane Gruhn.

Segundo a advogada Liliane Gruhn, professora do curso de Direito da Unioeste e assessora jurídica da Unimed, o objetivo do seminário é ampliar o debate para além do meio jurídico, envolvendo toda a comunidade. “Neste ano pensamos em um evento maior, que envolvesse também a sociedade. É um tema de interesse para diversos atores, como pais, operadores do Direito e profissionais da saúde. A expectativa é muito positiva.”

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Liliane destaca a importância da discussão sobre o correto diagnóstico do TEA, tema que, segundo ela, é debatido mundialmente. “Muitos tratamentos indicados não têm sua eficácia cientificamente comprovada. Há estudos sem evidência adequada sendo utilizados, e em alguns casos os efeitos são prejudiciais às crianças.”

Ela cita, por exemplo, a pesquisadora Laura Ceretta Moreira, uma das palestrantes, que atua com destaque na rede escolar paranaense e irá abordar as consequências desses diagnósticos imprecisos. “Para a surpresa de muitos pais, crianças submetidas a longas jornadas semanais de terapia — 20, 30 horas — com diferentes especialistas, tiveram diagnósticos equivocados e acabaram passando pela infância sem apresentar a evolução esperada. Queremos discutir a verdadeira importância do diagnóstico correto do autismo.”

A médica Wemilda Fregonese Feltrin, presidente da Unimed Francisco Beltrão e pediatra, também alerta para o aumento expressivo de diagnósticos de TEA nos últimos anos. “Não há uma diretriz clara com resultados efetivos. Vemos exageros em diagnósticos que nem sempre condizem com a realidade. Muitas crianças estão sendo privadas de viver a infância, ao ar livre, inseridas em diversas terapias intensas antes mesmo de completarem um ano de idade.”

O médico André Matioda Araújo, diretor da cooperativa, complementa: “Não está sendo construído um protocolo adequado para o tratamento do autismo. Muito tem sido feito com base em tentativa e erro”.

O também diretor da Unimed, médico Márcio Pedro Martins, afirma que a situação é ainda mais preocupante: “Cada protocolo é individualizado. O que funciona para uma criança, não funciona para outra”. Evidenciando o quanto ainda é necessário avançar no rigor científico exigido.

Dra. Wemilda reforça a importância do acompanhamento especializado. “Reconhecemos que muitos casos exigem tratamento e acompanhamento interdisciplinar, mas isso deve ser feito com o devido cuidado e responsabilidade. Estamos vendo muitas situações de regressão, porque o diagnóstico não está sendo feito corretamente. Hoje, qual-quer comportamento fora do pretenso padrão de normalidade já é considerado autismo. No passado, apenas os casos mais severos recebiam esse diagnóstico. Atualmente, uma criança que é mais tímida e retraída já é considerada autista”, conclui a médica.

Segundo a advogada Liliane Gruhn, o seminário integra as atividades de um grupo de pesquisa da Unioeste e projeto de extensão voltado aos Direitos Humanos e pretende promover reflexão crítica sobre os limites e possibilidades da atuação interdisciplinar frente aos desafios do desenvolvimento humano e da saúde infantil.

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