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Francisco Beltrão
terça-feira, 01 de julho de 2025

Edição 8.236

01/07/2025

Há 15 anos, a psicanálise chegava em Francisco Beltrão


Clínica Psicanalítica Maria de Fátima completa 15 anos de atendimentos no Sudoeste.


Há 15 anos, falar sobre saúde mental não era tão comum quanto hoje. E, se pensarmos em Francisco Beltrão, ninguém trabalhava especificamente com psicanálise. Foi então que, em julho de 2009, surgiu uma clínica psicanalítica na cidade. Idealizada por Érico Péres Oliveira e sua mãe, Maria de Fátima – que já era uma referência na região -, inicia com o desafio de difundir uma abordagem que busca entender os mecanismos da psique humana compreendendo a existência do inconsciente. No caminho, juntaram-se a eles Bruno, também filho de Fátima. E, com o falecimento da psicanalista, em 2014, a clínica passou a ter o seu nome.

Maria de Fátima e Érico Peres Oliveira em 2009 quando a clínica foi inaugurada. (Foto: Cristiane Sabadin)


Para contar essa história de 15 anos, é preciso relembrar o início, quando o maior desafio, conforme Érico, foi clarear elementos que até então não eram comuns na cidade, como a livre associação de ideias e o uso do divã. Também uma escuta que não interfere, ou seja, que nunca direciona, apenas baliza, uma das principais características da psicanálise. O psicanalista conta que, naquele início, escrever para o Jornal de Beltrão foi uma ótima forma de difundir do que se tratava o atendimento psicanalítico.


Em um segundo momento, seguir em frente com a ausência de Maria de Fátima também foi desafiador, mas a marca que ela deixou reverbera até os dias atuais. “Às vezes, é uma pessoa no mercado que se aproxima e fala sobre como sua vida mudou devido ao trabalho dela. Às vezes, é após uma palestra ou em alguma cidade da região. E sempre que acontece, brilham nossos olhos. Não existiria modo mais belo de homenageá-la senão nomeando a clínica com seu nome e conduzindo a prática clínica exatamente da forma que ela realizava: com leveza e dedicação”, fala Bruno.

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Bruno e Érico Péres Oliveira em 2024. Os irmãos atendem a todas as faixas etárias, mas Bruno fica mais voltado à infância e adolescência.
Bruno e Érico Péres Oliveira em 2024. Os irmãos atendem a todas as faixas etárias, mas Bruno fica mais voltado à infância e adolescência. (Foto: Luana Spiazzi)

15 anos depois
O olhar atento da psicanálise sobre as mudanças sociais faz uma grande diferença quando se trata do passar do tempo. “Freud era extremamente atento à sua época, assim como, na sequência, Lacan também era. É perceptível que os psicanalistas contemporâneos mantêm essa inquietude sobre todas as movimentações que a sociedade realiza”, avalia Bruno. Para ele, o consultório é sempre um laboratório daquilo que está acontecendo no agora, “e essa provocação possibilita que a curiosidade do profissional sobre os porquês nunca descanse”, complementa.


É por isso que um dos grandes assuntos tratados na Clínica Psicanalítica Maria de Fátima hoje em dia diz respeito à banalização de diagnósticos – ou a aceitação deles como parte da identidade. “A psicanálise, fazendo uso do caráter insurgente intrínseco a sua atividade desde o começo, vai contra essa ideia. Vamos contra as correntezas na tentativa de favorecer ao indivíduo que ele possa se libertar dessas amarras”, fala Érico.


E, de acordo com Bruno, isso é mais preocupante quando pensamos nas crianças. “A rotulação e a busca por laudos com diagnósticos fechados hoje estão desenfreadas. A compreensão daquilo que acontece na infância é fundamental, porém precisa ser realizada da forma mais leve possível. O cuidado com aquilo que é transmitido para a criança sobre o que está acontecendo não está sendo levado em conta”, alerta.

Conforto na psicanálise
Érico conta que, em geral, quando alguém procura ajuda, são os sintomas que estão incomodando, seja uma tristeza excessiva ou crises de ansiedade. “É essa dor que leva o paciente ao consultório. Na psicanálise entende-se o sintoma como um alerta que avisa que algo não está bem”, comenta. E, nestes casos, a investigação psicanalítica consiste em buscar aquilo que provoca o sintoma, ou seja, sempre há uma origem que precisa ser elaborada e ressignificada. “Pensa-se que é por intermédio da análise que aprendemos a lidar, ou até mesmo conviver, com aquilo que provoca a dor. E é nesse exercício que a atenuação do sofrimento acontece”, diz.
Os irmãos atendem todas as faixas etárias, mas Bruno fica mais voltado para a infância e adolescência. “A grande diferença quando pensamos na infância é que uma criança nunca chega sozinha ao consultório. Ela traz consigo uma situação, ou seja, a família. E este é um dos grandes diferenciais da psicanálise infantil”, resume. “Em alguns casos uma única criança pode trazer consigo três demandas diferentes: dos pais, da escola, e a que ela própria vai construir no decorrer do seu tratamento. É necessária muita cautela do profissional para avaliar todos estes contextos, todos têm sua contribuição para o andamento da análise na infância”, diz.
Já na adolescência, um período de transição, com muitos desafios relacionados à identidade, independência e pressão social, o foco se desloca mais para o indivíduo, “mas ainda consideramos o impacto do contexto familiar.
Em se tratando de idade adulta, a análise tende a ser mais centrada no próprio indivíduo e suas experiências de vida. “A análise ajuda o adulto a desenvolver uma compreensão mais profunda de si mesmo, identificar repetições e encontrar maneiras de lidar com suas preocupações”, fala Érico.

Compromisso com a escuta e o acolhimento
Ao celebrar 15 anos, Érico e Bruno Péres Oliveira reafirmam o compromisso de continuar a oferecer um espaço de escuta e acolhimento. O legado de Maria de Fátima permanece através do trabalho dos filhos, e a psicanálise continua sendo a ferramenta que eles utilizam para favorecer o bem-estar e a saúde mental.

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