Novo papa saúda fiéis citando Francisco e Santo Agostinho, reforça a missão de caridade e diálogo da Igreja e convoca os fiéis a caminharem juntos rumo à missão cristã.

Na tarde de ontem, 8 de maio, no segundo dia de votação, o conclave elegeu o novo Papa após 2/3 dos cardeais eleitores optarem por aquele que entrou para a história como o primeiro pontífice norte-americano. Aos 69 anos, o cardeal Robert Francis Prevost foi anunciado da sacada da Basílica de São Pedro como Leão XIV, sucessor de Francisco no comando da Igreja de Roma. A escolha foi saudada por milhares de fiéis que aguardavam na Praça de São Pedro.
Em seu primeiro discurso, Leão XIV fez um pronunciamento marcado por apelos à paz. Em vários momentos, o pontífice se referiu ao legado de Francisco e à tradição de Santo Agostinho. “Uma paz de Cristo, uma paz desarmada, uma paz desarmante”, disse, ao saudar os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. O Papa enfatizou ser um “filho de Santo Agostinho”. Os agostinianos são uma das ordens mendicantes da Igreja Católica e têm como uma de suas marcas a assistência aos pobres.
Relembrou a última fala pública do Papa Francisco, feita na Páscoa, um dia antes de sua morte. “Deus nos ama, Deus ama todos vocês, o mal não irá prevalecer, portanto, sem medo, de mãos dadas com Deus e uns com os outros, prossigamos, somos discípulos de Cristo. A humanidade precisa de Cristo como a ponte que nos liga a Deus”.
Dirigindo-se aos habitantes de Roma, afirmou que a Igreja romana precisa ser missionária, pautada pela caridade, pelo diálogo e pelo amor. Também fez uma saudação especial, em espanhol, à Diocese de Chiclayo, no Peru, onde atuou por anos como missionário.
O Papa agradeceu pela escolha para a sucessão de Pedro e disse que aceita a missão “como um cristão, um agostiniano, e por vocês, bispo”. Declarou ainda: “Podemos caminhar juntos para a pátria eterna para a qual Deus nos preparou.” O 267º Papa da história encerrou seu discurso com uma prece pela paz no mundo.
Conheça a vida e a trajetória do novo Papa
JdeB – Robert Francis Prevost Martínez, hoje Leão XIV, nasceu em 14 de setembro de 1955, em Chicago, nos Estados Unidos. Filho de imigrantes, ingressou ainda jovem na Ordem de Santo Agostinho, completando seus estudos no seminário menor em 1973. Formou-se bacharel em Matemática pela Universidade Villanova em 1977 e, no ano seguinte, fez seus primeiros votos religiosos. Os votos solenes vieram em 1981 e, em 1982, foi ordenado sacerdote em Roma.
Especializou-se em Direito Canônico, com mestrado e doutorado pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino. Em 1985, iniciou seu trabalho missionário no Peru, onde atuou como chanceler da Prélatura de Chulucanas, professor, reitor de seminário e juiz eclesiástico. Passou parte dos anos de 1987 e 1988 nos Estados Unidos, mas retornou ao Peru, onde permaneceu até 1998.
De volta a Chicago, foi eleito provincial da Província Agostiniana em 1999 e, dois anos depois, prior-geral da Ordem, cargo para o qual foi reeleito em 2007.
Em 2014, foi nomeado bispo de Chiclayo, no Peru, onde ficou até 2023, quando o Papa Francisco o chamou para Roma como prefeito do Dicastério para os Bispos — função estratégica que o colocou no centro da Cúria Romana.
No consistório de setembro de 2023, foi criado cardeal e, em fevereiro de 2025, tornou-se cardeal-bispo, recebendo a sé suburbicária de Albano.
O que significa a escolha do nome Leão XIV?

JdeB – Embora o novo Papa ainda não tenha deixado claro o motivo de sua escolha por Leão XIV, alguns líderes religiosos acreditam que é uma possível sinalização de que dará continuidade ao papado de Leão XIII (1878–1903). O nome papal costuma homenagear santos, apóstolos ou ser uma referência a papas precedentes, como no caso do nome Leão. É considerado uma mensagem sobre o pontificado que se inicia.
Em seu primeiro discurso, o novo Papa falou em “construir pontes”, habilidade pela qual já era conhecido. São traços que também se ligam à história do primeiro Papa da história a levar o nome Leão, São Leão Magno, que comandou a Igreja entre os anos de 440 e 461. Ele teria conseguido dissuadir Átila, o Huno, de invadir a Península Itálica e também sido responsável por proteger Roma de uma invasão dos vândalos. Além do compromisso pela paz, ele também é conhecido por ter o título de “Doutor da Igreja”, um reconhecimento àqueles que tiveram contribuição significativa à teologia ou doutrina da Igreja.
Quem foi o último Papa Leão
O pontificado de Leão XIII, entre 1878 e 1903, marcou uma guinada histórica na relação da Igreja Católica com o mundo moderno. Nascido Vincenzo Gioacchino Pecci, em 1810, foi o primeiro Papa a se posicionar de forma sistemática sobre as transformações sociais trazidas pela Revolução Industrial. Em 1891, com a encíclica Rerum Novarum, lançou as bases da Doutrina Social da Igreja, defendendo o direito à propriedade privada, mas também a dignidade do trabalho e a justiça social — temas até então pouco abordados pela cúpula eclesiástica.
Leão XIII também buscou diálogo com os Estados laicos, promoveu a restauração do pensamento tomista como pilar filosófico e incentivou a renovação dos estudos católicos. Sem abandonar os dogmas, tentou aproximar a Igreja das ciências, da política e das novas questões sociais, num esforço de atualização diante do avanço do secularismo. Seu legado, ainda hoje influente, é reconhecido pela tentativa de equilibrar tradição e modernidade, fé e razão, autoridade e justiça.