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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Falta de mão de obra qualificada desafia construção civil e impacta qualidade das obras

Os setores da construção civil estão se tornando sempre mais especializados, sobretudo para entregar mais qualidade ao produto final: as obras. Na área da arquitetura, por exemplo, a criatividade e a inovação são essenciais para a criação de projetos únicos e funcionais. No entanto, a execução dessas ideias depende diretamente da disponibilidade de mão de obra qualificada. A demanda por habilidades técnicas específicas, como a instalação de porcelanatos grandes, revestimentos sofisticados, gesso acartonado ou acabamentos detalhados, tem crescido, mas nem sempre há profissionais suficientemente capacitados para atender com a qualidade exigida pelos projetos modernos. A falta de especialização pode levar a prazos mais longos, custos adicionais e resultados abaixo das expectativas, afetando a entrega final das obras.

Arquiteta Taynã Camila Gazola Tiecher, arquiteta e urbanista especializada em Design de Interiores.
Arquiteta Taynã Camila Gazola Tiecher, arquiteta e urbanista especializada em Design de Interiores.

A arquiteta e urbanista Taynã Camila Gazola Tiecher, especializada em Design de Interiores, diz que um profissional que tem entendimento dos materiais, da forma de aplicação e tem qualificação para aplicar o mesmo em obra, tende a realizar um serviço de qualidade e com prazo adequado. “Profissionais que não estão qualificados para elaborar etapas específicas da obra entregam um serviço incompatível e indesejado. Infelizmente já presenciei bons materiais, inclusive com valor agregado alto, sendo empregados nas obras de forma insatisfatória e até mesmo incorreta devido à falta de qualificação do profissional. Isso para o cliente gera um custo desnecessário e, por muitas vezes, é obrigatória a substituição de materiais. Ou até mesmo pode gerar problemas futuros ocasionados por essa aplicação incorreta.”

Falta de interesse dos jovens

Segundo Taynã, essa escassez de mão de obra não é um problema apenas da região, mas de todo o país. “Nossa forma de viver já não é a mesma de nossos pais, com isso a forma de trabalho também se fez diferente. Hoje temos acesso a outras formas de ofícios, principalmente ligadas à internet. Isso tem um grande impacto sobre profissões que necessitam de trabalho manual.”

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Taynã pontua que os bons profissionais da construção civil estão se aposentando, deixando uma nova geração que não foi preparada para assumir esse serviço. “Hoje o sonho de nossas crianças é diferente do que era no passado, e isso não afeta somente a construção civil. Ficará cada vez mais forte a presença de inteligência artificial nos substituindo. Mas então o que será do futuro das profissões que necessitam de criatividade ou trabalho manual como o pedreiro? A valorização desse profissional é necessária para que possamos continuar a construir lares em um futuro próximo.”

Ela observa que há dificuldade de encontrar novas pessoas que estejam realmente interessadas em ingressar nessas atividades. E, para piorar, muitas vezes os bons profissionais da região procuram melhores oportunidades em centros maiores.

Das áreas mais defasadas dentro da construção civil, a arquiteta diz que a de acabamentos é a que mais sofre. Nessa fase, a obra precisa de mão de obra qualificada para que o resultado esperado realmente seja entregue. É nesse momento que fica evidente qual o padrão de execução da obra. “Não é compatível uma obra de alto padrão com acabamento de baixa qualidade, por esse motivo é necessário escolher a dedo os profissionais que irão acabar a obra, sendo eles – gesseiro, pintor e ceramista – peças-chave para um ótimo resultado.”

Aprendizado constante

A arquiteta Taynã salienta que o aperfeiçoamento na construção civil, assim como em outras áreas, é uma necessidade constante, porque novos materiais e produtos surgem a todo momento. “Aqui mesmo em nossa cidade, há lojas e empresas que comercializam produtos e materiais para a construção civil e vêm promovendo cursos e workshops com o intuito de trazer para a vivência dos profissionais esses novos materiais, assim como novas formas de aplicação, bem como fazê-los perceber a evolução dos produtos.” E ela dá uma dica importante: “A área de acabamento se destaca como promessa para novos profissionais especializados. Se faz necessário o ingresso de profissionais com curiosidade e mente aberta para receber e aplicar essas novidades.”

Quem se especializa tem retorno financeiro

Taynã entende que, assim como em outros setores da sociedade, a valorização dos profissionais é regida pela lei da oferta e da procura. Aqueles que se especializam na área certamente encontram retorno financeiro. No entanto, trata-se de um trabalho manual que, muitas vezes, exige esforço físico e resistência, o que acaba afastando algumas pessoas dessas atividades. Mas o esforço físico, aliás, pode ser amenizado pelo trabalho em equipe. “Bons profissionais muitas vezes dispõem de uma equipe, o que agrega para a qualidade da obra e até mesmo para o cumprimento do prazo estipulado. Por exemplo, durante a etapa de revestimento, quando se trabalha em equipe é comum que um faça a limpeza, enquanto outro prepara a argamassa e outro faz o assentamento das peças, sendo percebida a agilidade durante esse processo.”

Empenho gera boa reputação

Quando o profissional atua com eficiência e qualidade, constrói uma reputação no mercado. “Dessa forma, clientes, arquitetos, engenheiros e colegas de trabalho acabam recomendando seus serviços, reconhecendo sua qualificação. A valorização profissional é diretamente proporcional a um trabalho cuidadoso e bem-feito”, ressalta.

Como a construção de edificações é algo muito longo e complexo, tendo várias fases até a sua conclusão, é muito difícil que esse profissional esteja atualizado em todas. No passado, era comum encontrar profissionais que realizavam todos os processos de uma obra, agora o cenário está se moldando de outra forma. “Para mim, trabalhar com apenas um nicho da construção civil eleva a qualidade do profissional. Hoje já temos profissionais que se especializam em determinados serviços, faz com que a qualidade final da obra seja maior.”

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