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segunda-feira, 09 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Para além da força de trabalho, no Sudoeste estrangeiros recebem cidadania

Uma das três turmas que já se formaram no curso do IFPR: aulas contemplam língua portuguesa, cultura, legislação e serviços básicos brasileiros.
Uma das três turmas que já se formaram no curso do IFPR: aulas contemplam língua portuguesa, cultura, legislação e serviços básicos brasileiros.

O trabalho de migrantes não é uma novidade para o setor industrial do Sudoeste do Paraná. Há mais de 20 anos que as unidades da BRF de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos empregam muçulmanos no abate halal, por volta de 2011 Pato Branco recebeu uma leva de haitianos via indústrias, após o grande terremoto no país caribenho, e agora é Itapejara D’Oeste que se destaca nesta modalidade de contratação. Cerca de 6% dos empregos formais do município são ocupados por estrangeiros, especialmente migrantes que trabalham no frigorífico Vibra.


Uma das preocupações é para que os refugiados não sejam vistos apenas como força de trabalho. “Nós temos esse empenho de acolher pessoas que vêm de outros países, mas é importante falarmos de cidadania, igualdade, equidade e justiça, os direitos ligados às instituições e acesso às políticas públicas para estas pessoas”, afirmou o professor Evandro Leonardi, do Instituto Federal do Paraná – campus Coronel Vivida.
A instituição desenvolve projetos em parceria com a Pastoral do Migrante (braço da Igreja Católica), para integração dos estrangeiros. A primeira demanda era por aulas de Português, mas a iniciativa foi além. “Ofertamos esse projeto, desde a pandemia, numa perspectiva diferenciada: ensinamos a língua portuguesa, mas, também, abordamos temas que são de extrema relevância para esses estudantes, como a legislação brasileira, o SUS, as taxas de juros, a geografia, a história e a culinária local, o sistema bancário nacional e outros”, detalha a professora Jéssica Vescovi. Três turmas já concluíram o curso e, agora, mais 32 estrangeiros participam das atividades, principalmente haitianos, venezuelanos, dominicanos e paraguaios. Os pesquisadores estimam que entre 30 e 50 mil estrangeiros vivam na região.

Articulação deve envolver entidades e setor público
A atuação com os estrangeiros também ampliou o debate sobre as condições de migrantes na região. Uma audiência pública organizada há alguns meses discutiu com prefeitos e vereadores políticas públicas para garantir cidadania às pessoas de outras nacionalidades. E neste sentido, uma das propostas é a articulação de redes de acolhida e assistência integrando órgãos públicos e entidades, um observatório para compilar dados regionalizados sobre o tema e a criação de conselhos municipais. A ideia é fazer com que esse público saia da marginalidade e das linhas de produção para ocupar espaços em toda sociedade.

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Apoio mútuo entre venezuelanos ameniza distância da família

Jesus Hernandez era motorista de ônibus em Ciudad Bolívar, Venezuela. Leonel Fonte trabalhava fazendo corridas por aplicativo e como autônomo. Agora, ambos são auxiliares de produção na indústria de confecções. Estão longe de casa, mas próximos de uma vida melhor. “Vendi dois carros que a família tinha lá pra virmos ao Brasil e aqui trabalhei com pinturas e construção em Roraima, até que veio essa chance”, comenta Leonel, que migrou junto com a mãe e desenrola bem o Português.

Leonel Fonte é um dos 45 venezuelanos contratados por indústrias de Ampere. A região tem se destacado no acolhimento de migrantes, com várias iniciativas.


O colega Jesus tem mais dificuldade em se comunicar, mas já está acostumado com a nova morada. “Recebemos um acolhimento muito importante e sentimos algum estranhamento fora do trabalho, mas é normal. Nos sábados até vou jogar bola na associação da empresa e o pessoal trata bem”, cita o venezuelano, com tradução do amigo. Ele deixou filhos no país de origem e envia dinheiro para ajudar nas despesas. No emprego, lá, ganhava o equivalente a R$ 700, aqui é mais que o dobro.
Para que o dinheiro chegue até a família, contam com ajuda de outros venezuelanos que residem no Brasil e fazem as operações sem cobrar taxas. Um apoio importante e que se soma na rotina entre o trabalho e a vida em uma nova cidade. “Como viemos em muitos, aqui a gente se ajuda mutuamente, se identifica com as histórias, todo mundo atrás de um sonho. A gente tá longe de casa, mas com a nossa comunidade”, pontua Leonel.

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