Uma carreta carregada com seis árvores adultas da espécie oliveira foi apreendida na noite de segunda-feira, 26, em Santo Antônio do Sudoeste. A carga, oriunda da Argentina, entrou ilegalmente no Brasil por uma rota conhecida pelo histórico de contrabando e descaminho na região de fronteira.
A abordagem ocorreu por volta das 20h20, após informações repassadas pelo setor de inteligência da 3ª Companhia do 21º Batalhão de Polícia Militar. Segundo a denúncia, o veículo havia saído de uma área rural com estrada de terra que liga os dois países. A equipe da RPA (Rádio Patrulha Auto), juntamente com a Patrulha Rural, realizou a interceptação na BR-163, nas proximidades do trevo de acesso ao município.
O caminhão era conduzido por um homem, que demonstrou nervosismo durante a abordagem. Ao verificar o compartimento de carga, os policiais encontraram seis oliveiras de grande porte, sem documentação comprobatória de origem ou transporte.
O motorista informou que terceiros haviam deixado as árvores no local onde a carreta foi carregada, e que o destino da carga seria levada para a cidade de Tupã, no interior de São Paulo. No Brasil, cada uma das oliveiras pode alcançar valores entre R$ 40 mil e R$ 100 mil.
A carga e o veículo foram apreendidos e encaminhados à Receita Federal em Santo Antônio do Sudoeste para os procedimentos legais.
Esta não é a primeira vez que a polícia da fronteira registra a entrada ilegal de oliveiras oriundas da Argentina. As plantas têm alto valor comercial e são cada vez mais visadas em operações de contrabando.
Cresce entrada ilegal de oliveiras adultas; engenheira florestal diz que é para uso ornamental
JdeB – A apreensão recente de oliveiras adultas contrabandeadas da Argentina reacendeu o alerta sobre a entrada irregular dessas plantas no Brasil. Mas o que explica o aumento na tentativa de importação ilegal dessas árvores? A reportagem do Jornal de Beltrão conversou com a engenheira florestal Flávia Gizele Konig Brun, professora doutora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Dois Vizinhos, que esclareceu o cenário.
Segundo a especialista, há uma demanda crescente por oliveiras no mercado de paisagismo e jardinagem. “Essas árvores, pelo diâmetro do tronco, provavelmente têm cerca de 30 anos e possivelmente estavam em produção de olivas na Argentina. Mas, ao entrarem no Brasil, são destinadas ao uso ornamental”, explica.
A forma como as árvores são trazidas, no entanto, é motivo de preocupação. “Para transporte, é feita uma poda drástica da copa e boa parte das raízes é retirada. Isso compromete o enraizamento e exige cuidados intensivos para que a planta sobreviva. Elas chegam com pouco torrão, pouca terra, e, por serem árvores mais velhas e debilitadas, demandam tratamento específico.”
Outro alerta importante são os riscos fitossanitários. Como o Brasil está desenvolvendo cultivos comerciais de oliveiras, especialmente em Santa Catarina e Minas Gerais, a entrada de pragas e doenças quarentenárias representa uma ameaça significativa. “Essas cargas, por entrarem de forma clandestina, geralmente não passam por inspeção sanitária, o que agrava o risco”, afirma.
A engenheira reforça que é possível importar oliveiras legalmente, desde que sejam cumpridas todas as exigências fitossanitárias, como quarentena, pagamento de taxas e realização de estudos sobre pragas e doenças. “Mas, como essas apreensões têm demonstrado, esse processo não está sendo respeitado.”
A escolha por árvores adultas tem justificativa estética. “O tronco grosso confere um valor ornamental maior, por isso são valorizadas no paisagismo.” Em pesquisa de mercado, a professora identificou preços variando de R$ 3.900 a R$ 100 mil por unidade, dependendo do diâmetro do tronco. Em contrapartida, o quilo da azeitona custa, em média, R$ 85,99, e uma muda jovem, nacional, pode ser adquirida por cerca de R$ 37, com maior potencial produtivo e sanitário.
Flávia também observa que a busca por oliveiras ornamentais ganhou visibilidade após a repercussão de uma polêmica envolvendo a cantora Shakira e o ex-jogador Gerard Piqué, na qual uma oliveira foi tema de disputa entre o casal.
