Marcos Geraldo Witeck, professor de história do município, detalha essa curiosa história às margens dos dois rios vizinhos (nome de Dois Vizinhos): Chopim e Iguaçu.

Em 1936, o caçador Atanásio da Cruz Pires, que era morador de Barro Preto, hoje município de Coronel Vivida, passou a procurar um lugar apto para cultivar cana-de-açúcar e frutas cítricas. Com sua canoa, partindo da Vista Alegre, pelo Rio Chopin, após dias de viagem, chegou numa região de saltos e cachoeiras, onde parou e aportou.
Construiu um casebre e voltou para Barro Preto buscar sua família, considerando o local ideal para o plantio de frutas, até hoje conhecido como Laranjal do Pires, na Foz do Chopim.
“Atanásio Pires se estabeleceu onde hoje é Foz do Chopim. E ali ele acabou fazendo uma plantação de frutas cítricas e vivendo do extrativismo, tirando da natureza a sua sobrevivência. Quando ele buscou a família, todos foram morar onde ele localizou o Rio Iguaçu e o Rio Chopim, denominando-os dois vizinhos, já que esses rios eram os seus únicos vizinhos, que depois passou a ser o nome do município de Dois Vizinhos.
Com a abundância da caça, seu Atanásio passou a tirar o couro de animais e vender na Vila Nova, futuro município de Pato Branco, utilizando (em parte) o transporte fluvial. No local da venda do couro em Vila Nova se identificava como morador de Dois Vizinhos, já que a abundância de couro despertava a atenção dos moradores.
Esse fato atraiu muitos caçadores e fez com que chamasse a região de Dois Vizinhos. Durante um dia de caça, eles mataram 12 antas e aproveitaram apenas o couro, a carne foi jogada toda na água. Então, surge o nome do Rio Doze Antas, que é um afluente do Rio Canoas. Hoje o Rio Doze Antas está submerso pelo Lago de Salto Caxias.
Passado um tempo, Atanásio Pires subiu o Rio Chopim para uma nova pescaria e se estabeleceu em uma certa altura. Foi numa época que começou a chover muito e ele, acompanhado de seus filhos Joaquim, Ricardo e Antônio, ficaram ilhados nesse local, permaneceram por vários dias, não sei exatamente quantos, sem pegar caça e nem pesca alguma.
Foi um período de muita chuva, que aumentou o volume e as corredeiras dos rios, impedindo o retorno para casa. Nessa passagem, eles saíram desse acampamento e terminou a comida. E eles acabaram matando uma das cachorras que tinham para poder se alimentar.
E aí, durante a refeição, o seu Atanásio falou para os seus filhos que esse local é tão miserável que nem caça e pesca dá. A partir de hoje, matamos somente a caça que podemos comer. Seu Atanásio considerou aquele episódio um castigo pela morte das doze antas lançadas no rio. Em razão desse acontecimento, nomeou o local de Miserável”, relata Marcos Geraldo Witeck, que é ex-vereador de Cruzeiro do Iguaçu, ex-secretário municipal de Educação, professor de História, ex-diretor do Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato, Ensino Fundamental e Médio, de Cruzeiro do Iguaçu, formado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (UPF), e pós-graduado em História do Brasil e Pedagogia Escolar.
Em seu PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), Marcos escreveu sobre a Revolta dos Posseiros de 1957 no Sudoeste do Paraná. Por conta disso, o professor é membro fundador do Centro de Letras de Francisco Beltrão.
Formação do povoado

O professor Marcos Witeck conta também como foi a formação do povoado: “Mais tarde, com a chegada de outros moradores que se estabeleceram às margens do Rio Chopim, formando o povoado “Miserável” que, com a emancipação de Pato Branco e Francisco Beltrão, na década de 1950, o rio passou a denominar-se Rio Divisor, dividindo os dois municípios. Dividindo também as duas glebas, a gleba de Chopim e a gleba de Missões. Aí, a gleba Chopim, ficou pertencendo a Pato Branco e a gleba Missões ficou pertencendo a Francisco Beltrão. Aí, onde fica estabelecida, então, a comunidade, o povoado miserável, que depois passou a denominar-se Divisor. E mais tarde, em 1952, quando o Roberto Grando, que era chefe de viação e obras de Francisco Beltrão, estava abrindo uma rodovia que ligasse Francisco Beltrão ao Rio Iguaçu. Que ele permaneceu aí na Vila Miserável, conversando com moradores, ele achou muito estranho, uns chamaram o local de Miserável, outros chamaram de Divisor, e aí ele sugeriu, em seu diário, que inclusive esse diário está em posse do Jornal de Beltrão, a nova denominação. Deixando de lado então Miserável e Divisor e nomeia como Cruzeiro do Iguaçu, devido à constelação do Cruzeiro e à proximidade com o rio Iguaçu”, complementa o professor Marcos Witeck, que é uma pessoa muito conhecida em Cruzeiro do Iguaçu.
“Por isso que o Cruzeiro hoje é denominado Cruzeiro de Iguaçu. E aí, na década de 60, com a emancipação de Dois Vizinhos, aqui passou a pertencer a Dois Vizinhos, e Jaime Guzzo (1965-69), que era o prefeito na época, decretou o Distrito de Cruzeiro de Iguaçu”, finaliza o professor de história.