Seja na TV ou no rádio, o jornalista tem carreira marcada pela identificação com o público que consome o futebol e futsal da cidade.
Juliam Nazaré – Principal referência do jornalismo esportivo de Pato Branco, aos 40 anos Thiago Tessaro está em evidência desde a ascensão dos clubes da cidade, o Pato, de futsal, e o Azuriz, do futebol. Sucessor de Inelci Pedro Matiello (1941-2020), Tessaro é o narrador da Rádio Celinauta e apresentador do “Bate Bola”, da TV Sudoeste. Em entrevista ao JdeB, o jornalista revelou os bastidores da trajetória, a evolução da cobertura esportiva na região e se concorda com o estigma de “bairrista” atrelado às transmissões locais.
Dos bastidores ao microfone: a trajetória no Grupo Celinauta
Após uma rápida passagem pela Rádio Cidade, Thiago Tessaro chegou ao Grupo Celinauta — que integra a rádio homônima e a TV Sudoeste — em 5 de agosto de 1999. Aos 15 anos, começou como sonoplasta. “Meu cunhado Edmundo Martione já trabalhava com comunicação. Ele foi pra Celinauta e me chamou. Era operador. Fazia sonoplastia como folguista, depois me tornei semanal”, conta.
Na época, Inelci Matiello já era um ícone da comunicação local e comandava as transmissões esportivas. Iniciava, ali, uma parceria que duraria mais de 20 anos. “Eu fazia a sonoplastia dos jogos de futebol. Depois, me convidou para fazer o plantão quando tinha os jogos de futsal. Era época do Atlético Pato-branquense.”
O trabalho despendia esforço inimaginável para o padrão atual das transmissões. Hoje, basta usar a internet para encontrar informações atualizadas sobre outras partidas. No início dos anos 2000, era bem diferente. “Quando dava gol no jogo do Pato e Foz, por exemplo, ligava nas outras rádios que estavam transmitindo a rodada pra passar a informação. E vice e versa. Passava a noite de sábado entre o telefone e o repasse da informação ao ouvinte.”

Formado em jornalismo pela Fadep, pato-branquense de nascimento, não parece ter sido difícil para ele conquistar a identificação do público. “Depois que comecei o curso, passei a ganhar oportunidades dentro do jornalismo da casa. Apresentei o Jornal da Manhã, da TV Sudoeste, além de alguns programas na Celinauta. E no esporte passei a repórter.”
Hoje, de apresentar o “Bate Bola”, Thiago divide com Juliano Mitrut a supervisão esporte da Rádio Celinauta.
A evolução da cobertura esportiva e os desafios da narração
A narração, habilidade que hoje projeta Thiago Tessaro pelo Brasil afora principalmente pelo sucesso do Pato Futsal, começou a ser desenvolvida só em 2012. Novamente, numa chance ofertada por Inelci Matiello. “Ele já tinha uma certa idade e me fez a proposta pra narrar quando os jogos fossem fora da cidade. A primeira vez, lembro, foi em Clevelândia. Tinha missa e nós só entramos no ar depois, quando estava no finalzinho do primeiro tempo. Foi uma aflição. Não foi às milmaravilhas [risos]. Depois peguei constância e fui me sentindo mais seguro.”

Quando Matiello faleceu, em 2020, vítima de covid, Tessaro já havia eternizado narrações. Como na conquista da primeira Liga Nacional de Futsal (LNF) do Pato, em 2018. Ele cobriu do primeiro ao último compromisso da equipe, inclusive viajando para longas distâncias, como a São João do Paraíso (MG), na estreia. Afinal de contas, na época o streaming nas transmissões de futsal não havia se desenvolvido.
“Fui para Minas, São Paulo, Sorocaba, Erechim, Carlos Barbosa, Venâncio Aires e pra muitos cantos do Paraná. Foi uma loucura. Quando o Pato começou a ganhar estes grandes jogos, a Celinauta sempre tava presente. O público entendia que nós, da rádio, fazíamos parte daquelas conquistas. Em 2018 não havia tanto streaming, então era rádio puro. Também tivemos muita sorte do Pato ser campeão e ter essa repercussão maior. Tem torcedor que tem narração de gol arquivada até hoje. Foi doido”, diz.
“Fuzila!”: o bordão que marca as narrações de Tessaro

O bordão “fuzila!”, que autografa as narrações dos gols pato-branquenses, surgiu também em 2018. O cunhado Edmundo sugeriu: Thiago entregava emoção, mas precisava de uma “marca”. Durante um jogo contra o Campo Mourão, o termo surgiu espontaneamente. O parente indicou. “Tente falar esse ‘fuzila’ aí em todos os gols.” Em algumas das partidas seguintes, Thiago até esquecia de ditar o bordão, mas foi convencido de insistir. “Comecei a escrever ‘fuzila’ nas anotações. E aí emplacou de vez principalmente naqueles jogos dramáticos do Pato, contra o Magnus (SP) e o Atlântico (RS), na decisão.”
O equilíbrio entre emoção e isenção nas transmissões

O “fuzila!”, por razão óbvia, não é ouvido quando o gol é de um adversário pato-branquense, seja na quadra ou no campo. Para Tessaro, não há problema, porque as transmissões da Celinauta são voltadas para o público de Pato Branco.
“É complexo. Mas aprendi com Matielo que, se o time tiver jogando mal, é meu dever informar isso. Num Clássico das Penas, se o Marreco for o melhor, eu digo. Claro que, nas entrelinhas, o futsal é de público focalizado, diferente do futebol. Quando se transmite o futebol, você envolve além-cidades, então se você narrar um gol com mais empolgação que o outro… Aprendi que você precisa cuidar o que fala e tentar ser o mais isento possível. Mas no futsal, se você transmite Pato e Brasília, teu público é de Pato Branco. Você narra dando uma tendência pro Pato ganhar. ‘Acredita, torcedor.’ ‘Vamos’. A identificação é com o torcedor daqui, mas é natural.” No futebol, aliás, Thiago é colorado, mas diz que já não vive de fanatismo.