E todos falavam ao mesmo tempo e riam um milhão de vezes.
Por Flaviana Tubin – A casa dos avós sempre foi a morada dos domingos. Domingos de casa cheia, com almoços demorados e fartos. Quando se chegava naquela casa, éramos recebidos pelo aroma do cardápio que seria oferecido. Eu, por ser uma das netas mais velhas da família, vi a casa se transformando ao longo do tempo. Mas, uma coisa não mudava – os encontros aos domingos.
Hoje, percebo que meus avós tinham o jeito deles de demonstrar afeto e amor. A mesa farta era um deles, com certeza, nada se comparava. Era uma das formas mais afetuosas de fazerem isso. Nesta casa se podia tudo ou quase tudo. Tios e primos com violão em punho cantavam música sertaneja, após o almoço. Nós, as crianças, brincávamos muito e os mais velhos brincavam conosco, eu tinha a expectativa pelos domingos, pois tinha amor de tios e tias, de primos e primas e principalmente dos avós.
O afeto dos avós vinha do que se podia fazer naquela casa simples, mas que construía memórias a cada almoço de casa cheia aos domingos. Eu sempre via na casa dos meus avós a morada daquilo que era proibido ser permitido (hoje entendo minha mãe Ana, no seu papel de vó do Joaquim), a morada do carinho a cada prato feito especialmente porque alguém gostava.

E, sim, todos falavam ao mesmo tempo, e riam milhões de vezes quando as histórias da família eram repetidamente contadas a cada encontro. Eu lembro de ouvir as histórias todas as vezes e ria todas as vezes. Ingenuamente, parecia que tinha feito parte de cada uma delas. Histórias contadas e repetidas por vezes, afinal a casa era cheia de vida e cores! Nem tudo era alegria, a casa dizia muito quando ficava em silêncio também, pela tristeza da partida de alguém. Ela se tornava refúgio e abraço.
Hoje, a casa que foi morada dos domingos daquelas famílias, não existe mais, pelo menos fisicamente. Ela continua viva nas memórias e, principalmente, viva na memória de uma das netas mais velhas do seu José, da dona Pierina e da primogênita do seu Eduino e da dona Sabina.
Hoje, entendo que a vida é assim. É preciso ter cuidado com as histórias e memórias anteriores, para que possa receber as novas gerações, testemunhar novas histórias e criar novas memórias. Assim como foi a casa dos meus avós, morada das lembranças daquela família nos almoços de domingo.