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segunda-feira, 09 de junho de 2025

Edição 8.222

10/06/2025

FRANCISCO BELTRÃO

Zoonoses tem baixa adoção e aumento de resgates

Médico veterinário Everton Leonardi. Foto: Jônatas Araújo
Médico veterinário Everton Leonardi. Foto: Jônatas Araújo

O Zoonoses está completando seis anos neste sábado, 7. Inaugurado em 2019, o centro de bem-estar animal de Francisco Beltrão se tornou modelo para cidades da região e até mesmo da Capital. Mas o ambiente criado para o cuidado dos animais do nosso município já começa a dar sinais da ação do tempo, diz o médico veterinário Everton Leonardi, responsável pela instituição.

Everton trabalha no Zoonoses desde sua criação e explica que, no início, havia pouco conhecimento sobre como estruturar um trabalho como esse. “Na época, sabíamos que havia muitos animais na rua, doentes, feridos, e que os municípios não tinham o que hoje chamamos de unidade de bem-estar animal”. Com o passar do tempo, a equipe foi organizando o atendimento conforme a demanda e, hoje, o local é visitado por gestores e profissionais de outras regiões do Paraná.

No entanto, o crescimento do município também fez com que, naturalmente, a demanda aumentasse consideravelmente, e um dos maiores desafios tem sido conscientizar a população sobre a importância da adoção responsável. Everton diz que, em alguns momentos, já chegaram a ficar meses sem conseguir um lar para os animais.

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As histórias dos animais resgatados

O importante trabalho do Zoonoses traz um bastidor que poucos beltronenses conhecem de perto. Para entendê-lo, é preciso ir até o local e ver. Muitos dos animais que hoje estão ali abrigados sofreram abusos e maus-tratos. Suas histórias não são fáceis de serem conhecidas.

Enquanto caminhava de baia em baia para observá-los, percebia que muitos ainda demonstravam receio diante de um ser humano estranho, reflexo dos traumas causados pelos abusos e maus-tratos sofridos com seus antigos donos, antes de serem resgatados.

Diferente de um pet shop, onde as pessoas escolhem raças, tamanhos e pelagens variadas para encontrar um animal que combine com seu estilo de vida, o Zoonoses deve ser encarado como um espaço que acolhe animais fragilizados, que precisam de uma família disposta a oferecer cuidado, segurança e afeto.

Chico, cão resgatado em situação de maus-tratos em residência de tutores acumuladores de animais e lixo. Perneta, cão abandonado no portão do centro de Zoonoses durante a noite, com fratura exposta, infecção parasitária e necrose muscular. Foi necessária amputação. Facada, cão resgatado em situação de maus-tratos onde indivíduos desferiram golpes de facão no animal. Pretinha, cadela fêmea resgatada abandonada em residência após seus tutores se mudarem e deixá-la para trás.

Pouca procura por adoções

O Zoonoses enfrenta um entrave que compromete diretamente o fluxo de atendimentos: a falta de interesse da população na adoção de animais, especialmente os de médio e grande porte.

“Todos os nossos animais vêm de situações de maus-tratos. Eles são tratados, reabilitados e só então colocados para adoção. Mas a maioria das pessoas que vem até aqui procura por raças específicas ou cães pequenos, o que quase não temos”, explica Everton. “Enquanto isso, os canis continuam lotados. Assim que um animal é adotado, outro já ocupa o espaço.”

Para ampliar as chances de adoção, a visitação ao centro é aberta de segunda a sexta no período da tarde. A equipe orienta que, quando possível, os interessados agendem horário para poderem receber mais atenção dos tratadores. “A pessoa pode vir, interagir com os animais e conhecer suas histórias. Muitos estão totalmente recuperados, são dóceis e sociáveis.”

Chico, Perneta, Facada, Pretinha, Frida e outros 18 animais aguardam pacientemente a espera de um tutor responsável que possa lhes dar um lar seguro.

Limitações e perspectiva

Mesmo com limitações de espaço físico, estrutura e orçamento, Everton ressalta que o município tem feito avanços importantes. Ele reconhece que há gargalos e aponta que melhorias são solicitadas constantemente, como parte de sua função técnica.

“O trabalho acontece porque há comprometimento da equipe, mas temos consciência do que ainda pode ser aprimorado, tanto a curto quanto a médio e longo prazo.”

Para o futuro, Everton acredita que a ampliação da infraestrutura do Zoonoses seja fundamental para melhorar os atendimentos. “Nosso orçamento hoje está bom, mas seis anos é um tempo considerável, e seria importante já fazermos uma reforma e ampliação. Nossos ambientes são constantemente limpos por estarem em contato com fezes e urina dos animais, então já há um desgaste desses espaços. Se também tivéssemos uma estrutura de clínica ou hospital 24 horas, com veterinário de plantão para prestar assistência, isso seria importante para o futuro.”

Quatro frentes de atuação

Segundo Everton, o trabalho no Centro de Zoonoses envolve quatro frentes principais: atendimento ambulatorial a tutores de baixa renda, atendimento a denúncias de maus-tratos, socorro a animais de rua e o programa permanente de castrações.

A consulta ambulatorial é voltada a tutores cadastrados no CadÚnico ou com renda mensal de até dois salários mínimos e meio. Já os casos de maus-tratos devem ser denunciados pela Ouvidoria do município. Quando há flagrante, a recomendação é que a população acione diretamente a Polícia Militar, já que se trata de um crime previsto em lei.

Há também um serviço chamado resgate solidário, em que a pessoa encontra o animal ferido na rua e o leva para atendimento, tornando-se responsável temporária até que o tratamento seja concluído. “Essa pessoa pode, inclusive, decidir pela adoção mais tarde”, explica Everton.

Para animais sem tutor, os chamados comunitários, o tratamento é feito em clínicas credenciadas. Isso porque, além da falta de espaço no centro, seria necessário manter um médico-veterinário de plantão 24 horas para esse tipo de acolhimento, o que ainda não é possível. A quarta frente é considerada a mais importante pelo veterinário: o controle populacional por meio da castração. Segundo ele, são realizados entre seis e dez procedimentos por dia, sempre no período da manhã. “É isso que, a longo prazo, vai reduzir o número de animais abandonados em nosso município”.

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