Então repórter da Rádio Colméia, atual Rádio Princesa, foi até Assunção, Paraguai, cobrir um jogo do Brasil contra a seleção local. Na escala em Foz do Iguaçu, ele entrou no avião e conversou com o Rei do futebol por “sete, oito” minutos.

Por Juliam Nazaré – Há 54 anos, o então repórter da Rádio Colméia, atual Rádio Princesa, Laurentino Risso, viveu um dos momentos mais especiais da carreira. Em 1968, ele foi de Francisco Beltrão até Assunção, capital do Paraguai, para narrar “in loco” o segundo jogo da decisão da Taça Oswaldo Cruz, entre Brasil e a seleção local. Na ida, os comandados do técnico Aymoré Moreira venceram no Maracanã por 4×1. A volta, no Estádio Defensores Del Chaco, terminou 1×0 para os paraguaios, mas com a taça assegurada para os brasileiros.
Hoje com 77 anos de vida e mais de 60 de imprensa, Laurentino se recorda com detalhes daquele dia, do mês de novembro. As lembranças estão no livro “Memórias de um repórter de rádio”, publicado por ele em 2021.
A viagem foi de kombi. Primeiro pela Estrada do Colono, sem pavimento. “Após umas quatro horas, chegamos a Foz do Iguaçu e, dali, pegamos asfalto e levamos mais umas três horas até Assunção”, conta. Com ele, estavam o diretor da Rádio Colméia, Domingos Bertaiolli, e amigos, que de deslocaram não a trabalho, mas para ver de perto Pelé e companhia limitada: Júlio Opolski, da Revesul; Joaquim, diretor de empreendimento do União Constrói; e Paulo, um italiano que havia instalado em Francisco Beltrão a empresa Rodo-Pinho.
Embora contasse com a colaboração de Domingos Bertaiolli na técnica, Laurentino “segurou” sozinho toda a transmissão. Não tinha repórter, nem comentarista. “Gravamos e a transmissão foi ao ar no dia seguinte”, lembra.
Ele diz que não tinha pretensão de chegar perto do astro da Seleção Canarinho. “Na época, a torcida costumava pegar o ídolo e jogá-lo pra cima várias vezes. Pois os paraguaios fizeram isso com Pelé.” Na excursão, deu tempo de visitar o distrito de Caacupé, uma “Aparecida do Norte” do país vizinho, onde se reverencia Nossa Senhora de Caacupé, padroeira da nação.
A surpresa veio na volta. Laurentino e os colegas souberam que o avião da Seleção faria uma escala em Foz do Iguaçu. Eles conseguiram chegar a tempo no aeroporto para que Laurentino tentasse uma entrevista, que foi conquistada sem grandes dificuldades. Enquanto alguns dos jogadores desceram para lanchar, outros ficaram no avião, a qual o beltronense teve acesso sem restrições. “Hoje não seria possível”, reflete.
Foi assim que Laurentino Risso entrevistou, de quebra, o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, o goleiro Gilmar, o capitão Carlos Alberto Torres, o lateral-direito Toninho, o zagueiro Toninho Guerreiro, além do centroavante Paulo Borges e…Pelé!
“Ele começou falando como se o repórter fosse de Foz. Eu o corrigi, contei que era do Sudoeste do Paraná. Então, ele mandou: ‘o meu abraço, a minha saudação’. Perguntei então sobre a derrota e ele disse que não havia problema, que tinham ganhado o primeiro e sido campeões mais uma vez. Pelé estava sentado e eu fiquei em pé.”
O bate-papo de “luxo” durou entre sete e oito minutos e está registrado numa fita K7. “Tenho as gravações, mas estão em má-qualidade, porque foram passadas para vários gravadores, quase não dá pra entender”, lamenta o radialista.
A Taça Oswaldo Cruz foi disputada oito vezes, entre 1950 e 1976, sempre contra o Paraguai, em todas com título do Brasil. Depois, foi extinta.
Laurentino acredita que Pelé, falecido aos 82 anos nesta quinta-feira, 29, cumpriu sua missão. “Vinha acompanhando as notícias do internamento e parecia que o falecimento vinha sendo adiado, adiado, adiado, pelo que falavam os médicos e filhos.”