No mesmo município pode ter comunidade onde chove mais, outra que chove menos e outra que nem chega a chover.

Flávio Pedron/JdeB – A expectativa de uma produção recorde de soja, na primeira safra 2022-2023, na região de Francisco Beltrão-Dois Vizinhos, pode não se confirmar. Um dos motivos é que as chuvas estão caindo de forma esparsa e irregular. Num mesmo município, por exemplo, a quantidade de chuvas tem variado entre as comunidades – em umas chove mais e outras menos, ou nada. A situação já preocupa os produtores rurais e técnicos. Domingo, 18, com a chegada de uma frente fria, foi boa a precipitação. “Foram chuvas boas, mas muito irregulares; em muitas comunidades não foi registrado nada de precipitações”, conta Antoninho Fontanella, técnico do Departamento de Economia Rural do núcleo regional da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Deral/Seab) de Francisco Beltrão-Dois Vizinhos.
Cleverson Penso, gerente dos entrepostos da Coasul (Cooperativa Agroindustrial) em Beltrão e Eneas Marques, diz que esta situação preocupa. “Eu conversei com muitos produtores aqui, peguei relatos de diversas comunidades. A gente conversa com o departamento técnico também da Coasul. Tem regiões de Beltrão, daqui pra Nova Concórdia, que não faltou chuva, teve uma semana que choveu todo dia, mas nós temos regiões da nossa região aqui de Beltrão, por exemplo, em Eneas Marques, que faz 20 dias que tá sem chuva. Essas pancadas vieram todas localizadas, não foi uma chuva parelha. Tem regiões que tão sofrendo, tem regiões que, indo pra Pato Branco, de Bom Sucesso e Pato Branco, tem soja morrendo e tem regiões que o soja tá a coisa mais linda.” No perímetro urbano de Eneas Marques, conforme a Rádio Cidade FM, choveu 32 mm. Mas na comunidade de Alto Pinhal o volume de chuvas foi baixo.
Mesmo assim, o gerente do entreposto da Coasul comenta que a perspectiva é de receber uma quantidade recorde de soja em relação à safra 2021-2022. Na safra passada houve uma quebra superior a 50% em toda a região. Porém, os valores da saca foram bons para o produtor. “Para a Coasul é o ano de mais receber soja, porque a gente expandiu também as unidades, foram abertos os entrepostos em Espigão Alto do Iguaçu, em Três Barras, Catanduvas, foram compradas unidades [em São João e Itapejara D´Oeste], e a Coasul vai continuar expandindo área pro lado de Cascavel.”
Produtividade variada
O potencial produtivo, devido às chuvas irregulares, deve ser bem variado. “Hoje de média aí, numa safra boa, tinha que esperar uns 170 a 180 sacos por alqueire. Até agora, olhando as lavouras, têm aquelas que passam de 200 sacas por alqueire. Porém, têm lavouras que estão sofrendo e vão penar pra chegar nos 110, 100 sacas, mas é um problema regionalizado, não dá de você falar assim: É a seca em toda região, ou a chuva tá bem distribuída. Não, as chuvas estão mal distribuídas, mas, no geral, nós temos lavouras muito melhores do que piores”, comenta Cleverson.
O engenheiro agrônomo Ricardo Kaspreski (do Deral/Seab de Beltrão-Dois Vizinhos), dá mais alguns detalhes deste problema. No município de Verê, por exemplo, há lavouras bonitas numa região e ruins em outras. Em Renascença, na comunidade de Barrinha, se vê boas lavouras e na divisa com Campo Erê há áreas com problemas.
Boas chuvas
As precipitações constantes e uniformes são importantes para todas as fases da soja. Tem muitas áreas com plantas em fase reprodutiva e soltando flores e precisam de umidade para se desenvolver. Dos 295.270 hectares plantados com soja, 45% das áreas estão na fase de desenvolvimento vegetativo, 35% em floração e 20% em maturação. “Com estas chuvas [de domingo] amenizou um pouco, e que as chuvas persistam”, ressalta Cleverson. Para o município de Francisco Beltrão, a média histórica de precipitações em dezembro é de 173 mm. Ainda falta um bom volume de chuvas para atingir a média e, assim, ajudar no desenvolvimento das lavouras de soja e milho.
A colheita da soja deve começar no final de fevereiro e prosseguirá em março devido ao atraso no plantio.
Município Chuvas de domingo Chuvas no mês
Capanema/B. Iguaçu 23.2mm 97mm
Dois Vizinhos 62,6mm 82mm
Cruzeiro/F. do Chopim 10,4mm 43mm
Francisco Beltrão 56,6mm 65mm
Planalto 14,4mm 27mm
Fonte: estações do Simepar e Inmet
Agricultores estão na torcida pelas chuvas

A falta de chuvas já está prejudicando as lavouras do agricultor Gilnei Zanatti, da Vila Rio Tuna, em Francisco Beltrão. “É, tá faltando chuva, é bem complicado. Mas vamos fazer o quê? Vamos torcer que essa previsão falhe e torcer que venha.” As lavouras de Gilnei estão na fase de desenvolvimento vegetativo e precisam de boa quantidade de chuva para enfrentar o restante do ciclo produtivo. O agricultor plantou 60 alqueires de milho e soja.
Gilnei espera colher 150 sacas de soja por alqueire e 500 sacas de milho por alqueire. No milho ele acha que não vai conseguir esta produtividade, porque “o sol já tá judiando muito, vamos ver até o final, mas é difícil falar”.
O produtor rural Luiz Pagnan Júnior, da Vila Rio Tuna, e seus familiares plantaram em torno de 420 hectares de soja e milho – 320 hectares de soja e 100 ha de milho. A expectativa da família é conseguir uma boa produção. “Nós temos expectativa de uma boa produção, viemos de uma safra frustrante no passado por falta drástica de chuva; este ano até o momento estamos pegando algumas pancadas, um pouco, com uma temperatura alta que faz a agricultura sofrer um pouco, e estamos na esperança que na próxima semana acabe chegando mais alguma chuva pra gente dar continuidade no desenvolvimento das plantas. Em algumas áreas já em fase de enchimento de grão ou ainda em desenvolvimento”.

A família plantou soja em outubro, mês que teve bastante precipitação em toda a região. “No início a gente sofreu bastante com a chuva, foi um volume bem alto, tanto que tivemos a enchente aqui em Beltrão, uma das maiores dos últimos anos, e agora estamos na esperança que voltem as chuvas na normalidade, porque a temperatura é alta e os dias longos, aí a agricultura acaba sofrendo um pouco”, argumenta Luiz.