
Numa entrevista para o Jornal de Beltrão, publicada dia 2 de outubro de 2010, o empresário Cláudio Petrykoski (11-7-1949 a 23-11-2022) falou sobre a importância do empreendedorismo, mas também sobre seu pai, Theóplilo Petrykoski, pioneiro de Pato Branco, do Eperanto, do Sudoeste do Paraná, de sua vida, enfim.
Seguem algumas frases tiradas da entrevista e depois a íntegra do que foi publicado.
Polaco é o que anda de carroça por aí, sempre com a mesma mulher; polonês é o que anda de carro, cada vez encontra com uma mulher diferente (risos).
O pai (Theoplilo) era um baita empreendedor, ele vivia empreendendo coisas, sabe, fazendo de tudo. Ele trouxe muita gente pra cá, principalmente os parentes, os outros não trouxeram profissionais, ele trouxe profissionais.
O pai me considerava um bom comprador.
Uma coisa eu não tenho dúvida, está indo bem a região Sudoeste, está se desenvolvendo.
Gosto de fazer política na área empresarial.
Coordenador regional da Fiep e diretor-presidente da Atlas Eletrodomésticos, empresa que no próximo sábado, 9 de outubro, completa 50 anos, o empresário Cláudio Petrycoski é pato-branquense de nascimento. Quando seus pais, Theophilo e Maria Luiza Crestani Petrycoski, trocaram o Rio Grande do Sul (Erebango, que na época pertencia a Getúlio Vargas) pelo Paraná, tinham quatro filhos – Terezinha, Florentino, Jandira e Salete – e Maria estava grávida do quinto filho. Era o Cláudio, que nasceu dia 11 de julho de 1949 em Pato Branco, distrito de Clevelândia. Depois nasceram ainda Irani (falecido dia 28 de janeiro de 2010) e Valdir, completando uma família de sete filhos.
Cláudio se ausentou de sua cidade na década de 70, período em que viveu em São Paulo e Curitiba, onde conheceu sua futura esposa, Cecília Zezotko, com quem teve seus quatro filhos – Sócrates, Karin, Péricles e Heráclito. Eles já lhe deram cinco netas.
Nesta entrevista, concedida ao Jornal de Beltrão dia 22 de setembro na sede do Sesi-Senai em Pato Branco, Cláudio fala de sua vida formada em Pato Branco, mas com experiências em Curitiba e São Paulo. E de convites que recebeu até para ingressar na política.
JdeB – Qual sua lembrança mais antiga de Pato Branco?
Cláudio – A partir de 52 por aí eu lembro das coisas. Acho que eu tinha dois anos, no tempo que eu engatinhava, eu lembro alguma coisinha da loja.
JdeB – E da cidade, qual a lembrança mais antiga?
Cláudio – Eu lembro de muita coisa. A gente morava onde era mato, tinha pinheiro e tudo. Todos nasceram ali, no bairro Brasília, que começou o Gabriel, porque foram duas famílias, o seu Ângelo Francisco Gabriel, o Chico como todos chamavam, e o pai depois, então juntos fizeram a Rua Brasília. Logo que foi fundado Brasília, a onda que se fazia pela capital. Nós construímos, quer dizer, foi derrubado aquele mato, a gente tinha um tratorzinho, eu lembro de todas essas coisas.
JdeB – As ruas de chão.
Cláudio – Tudo de chão. No mais aquele calçamento bem irregular, que a gente tava toda hora atolando. Quase sempre a gente caía.
JdeB – Carroça, cavalo.
Cláudio – Carroça, cavalo, embora a gente não tinha cavalo. A gente sempre teve um carrinho ou outro, mas nós não andava de carroça ou a cavalo. Porque tem o seguinte, polaco é o que anda de carroça por aí, sempre com a mesma mulher; polonês é o que anda de carro, cada vez encontra com uma mulher diferente (risos).
JdeB – Aproveitando a brincadeira, em Pato Branco o senhor encontrou mais polaco ou mais polonês?
Cláudio – Aqui a maioria era polaco mesmo (risos). Tinha sim, tinha os Monski, Cabinski, tinha gente da cidade. Mania de dizer, porque polaco e polonês é um adjetivo pra uma pessoa só, indiferente.
JdeB – Dizem que seu pai era um homem divertido.
Cláudio – Sim, sim era bem, bem. Nossa, as piadas! Ele viajava, ele viajava bastante pra São Paulo, Porto Alegre, e toda vez ele vinha com uma impuia, porque quando era piada nova, a nova era impuia (risos).
JdeB – De tanta coisa que aprendeu com seu pai, o que foi mais importante?
Cláudio – O pai era um baita empreendedor, ele vivia empreendendo coisas, sabe, fazendo de tudo. Ele trouxe muita gente pra cá, principalmente os parentes, os outros não trouxeram profissionais, ele trouxe profissionais, por exemplo o Arnildo Algayer, o Amélio Matos, o Guilherme Ramp. E ele trouxe os outros parentes, o tio Luiz Crestani, irmão da mãe, o Pedro Petrycoski morou muito em Beltrão, Pedro Petrycoski nasceu lá, Nelson Luiz nasceu em Beltrão, morava aqui e depois foi pra lá, ele foi pra Cascavel, o Libório que ele trouxe pra cá.
Então ele trazia gente pra empreender, pra fazer coisas, pra fazer sociedades, sabe. Teve filial em Cascavel, pertinho da matriz hoje, na Avenida Brasil, uma baita loja! A maior loja do centro da cidade. Teve fazenda com o tio João, irmão da mãe; o tio Vasco, que montou uma fábrica de vassouras e cadeiras em Ampere; trouxe o tio Pati também, mas foi pra colônia. Ele era um empreendedor, trazia as pessoas do Rio Grande e instalava elas. Ele trouxe mais dois profissionais, que ele montou com os funcionários, então ele era um baita empreendedor, não esqueço disso, teve muitos sócios, nossa tem uns quantos sócios dele, empresas dele. E a pessoa que foi sempre simples assim…
JdeB – E convidava os filhos pra participar das empresas?
Cláudio – Bom, eu tinha estudado. A gente sempre trabalhava junto, umas vezes porque ali tinha a fábrica, mas mais importante era a loja, ou as lojas, porque tinha filiais. A loja era bem mais importante que a fábrica.
JdeB – Depois a iniciativa de sair pra estudar foi sua ou foi do seu pai?
Cláudio – Ah, tá. Veja, isso, quando eu fui morar em São Paulo, fui continuar os estudos, a iniciativa na verdade foi dele, ele sempre sonhou em morar em São Paulo pra fazer compras, tinha que ficar lá, e ele tinha razão, é importante fazer as compras, entende? É muito importante estar lá na fonte das coisas tanto pra fábrica quanto pras lojas. Foi aí que eu recebi o convite, fui lá pra ser comprador. E tem que estudar. Eu fiquei imaginando, eu tenho que fazer, investindo em Curitiba, pra agronomia. Foi na época da reforma da educação, e é uma bagunça, uma bagunça muito séria naquela época, 52, 53, e não parei, tive que fazer sete duplagem pra faculdade, e uma hora faltava cadeira, outra hora faltava professor, outra hora faltava não sei o que lá, sabe? Assim! Muita gente desistiu das faculdades nessa época, nos tempos das reformas, um, dois anos. E eu também porque não gostei muito, primeiro porque era trabalhoso demais, e outra que eu desisti de fazer agronomia, naquele ano em Curitiba.
JdeB – Antes de sair de casa, te chamavam de “Seco” ou “Gordo” e no período de dez anos que ficou fora perdeu os apelidos.
Cláudio – Perdi.
JdeB – E o que trouxe de “bagagem”?
Cláudio – Talvez a gente se firmou um pouco assim um meio mais desenvolvido. Eu sei que comprava bem. O pai me considerava um bom comprador. Não estou me elogiando, porque os outros diziam. Ele chegava assim às vezes desconfiado, dizia: “Não, não, tá comprando bem, coisa e tal porque lá tá mais barato!“. E depois ele achava caro, mas nunca era verdade. Pra ser comprador leva tempo, ainda mais que naquele tempo não tinha muitas comunicações, mal e mal se conseguia um telefone né, naquela época, década de 70, não tinha máquina, não tinha nada, você tinha que descobrir a fonte, tinha que descobrir um bom fornecedor. Era assim. Tinha que fuçar, correr, perguntar. Eu tinha dois amigos, sabe, e um deles acho que me influenciou um pouco, na linha de pensamento, ele se formou médico. Estudamos juntos no cursinho. Ele me influenciou um pouco na linha de consciência, eu fiquei assim um tempo meio esquerdista, sabe? Tipo um pouco maragato, mais pro pequeno, mais pro pobre, mais nessa linha.
JdeB – E essa influência veio de companhias ou de leituras?
Cláudio – Um pouco de leituras e um pouco de companhias.
JdeB – O seu gosto pelo Esperanto também?
Cláudio – Esse despertou assim ao acaso, veio bem depois, uma coisa muito o pessoal.
JdeB – Mas continua utópico o Esperanto, ou acredita que pode um dia se tornar realidade?
Cláudio – Olha, a ideia é fantástica. É maravilhosa. Ela só não tem ainda campo quente pra vingar. Historicamente, no mês que está entrando, isso aqui, em termos históricos, 60 anos, depois da segunda guerra, de um lado era basicamente Estados Unidos e Inglaterra, mas ali tem mil e poucos anos de grego, 700 ou 800 anos de latim, depois uns 300 anos de espanhol, que era o mais importante, língua mais falada, internacional considerada. Depois o francês, com o tempo, e depois o último, o francês que eu não sei quantos anos certos, foi depois de Napoleão, que pegou o francês como língua diplomática. Mas depois da Segunda Guerra somente quem era inglês, então tem que achar uma necessidade, porque sempre quem venceu, que investia nas guerras, que era mais forte. Pode ver, os espanhóis, os gregos como são unidos ainda. Alexandre, quando expandiu o império, a cultura helênica, Roma, o latim. Aí veio também um pequeno período francês, o ciclo dos romanos que não tinha muito na Inglaterra.
JdeB – E daí, como poderia se popularizar?
Cláudio – Que o Esperanto traz uma ideia holística de como faz a justiça. Imagine duas pessoas vendo uma terra lá na ONU, ou sei lá o que, um fala português e o outro fala inglês, e vão apontar ideias ou ambos têm que convencer o destinamento a alguma coisa, em qualquer situação assim prevalece a língua do outro, não tem que falar a língua dele, ele não ia falar português, assim como outras línguas demais. Achar uma diferença ou outra coisa. Um primeiro impedimento de algum entendimento entre os povos é a língua. No primeiro congresso internacional que teve em “Scala”, em 1893. Cinco anos depois de ser fundado o Esperanto, lá em 1887, tinha médicos, empresários, políticos, de tudo, de várias nações que se encontraram lá. Nasceu na Itália, em 19 estava viva ainda. Mas as pessoas chegavam a chorar de ver que havia igualdade, que todos entendiam no mesmo nível. Esse tempo foi, eu preciso falar, hoje não tá tanto, todo mundo fala. Mas vamos dizer, sempre se falava que tinha uma língua dominante era superior. Tu, não se comunica direito, entende? Com a língua do outro. Pode ter uma superioridade. E mesmo não se consegue expressar o sentimento da língua. Só a língua pátria. Sabe, você não consegue expressar sentimento na língua do outro, é difícil. Então tem tudo isso, todas essas inconveniências. E nasceu para entre dois povos haver uma terceira língua, bem neutra, mas no entanto inteligente.
JdeB – Voltando à nossa região, qual sua visão sobre o Sudoeste?
Cláudio – O Sudoeste por muito tempo foi um pouco esquecido, até porque politicamente não era bem organizado, mas eu diria que esse desenvolvimento veio pela questão do IDH, como que tá? Como que está a média do Sudoeste no IDH com relação a outras regiões? É isso que vale! Não o desenvolvimento econômico, não o tanto de PIB, o tanto de per cápita. Bom, vamos ver como está o IDH de desenvolvimento humano, porque são vários dados ali, e a qualidade de vida, naquilo que a pessoa está vivendo, não é isso? Isso que é válido. E eu acho que, nesse sentido, a gente vai muito bem, obrigado, porque a gente sente assim, entendeu?
JdeB – O que o senhor acha que ajudou a desenvolver o Sudoeste?
Cláudio – As pessoas mesmo que fazem! Não houve nenhum apoio de fora, ou iniciativa de fora, pouco mesmo, é a vontade do povo. O pessoal já está saindo menos. O que foi que segurou isso? Uns acham que foi ensino, outros acham que foi a indústria. Essas empresas, algumas daqui, outras da região de Beltrão que a gente conhece, mas o empreendedorismo em geral, a indústria ajuda a desenvolver, no geral. Mas aqui tem sido basicamente economia agrícola, então foram eficientes nisso.
E em carnes, nos abates diversos, principalmente frango se saíram bem, até porque vieram outros frigoríficos abater frango que não esses grande, não que eles precisem disso pra se desenvolver. Mas no geral a cidade toda, ou seja, pequenas e médias iniciativas, profissionais liberais etc, é gente que trabalha, é gente que tem alguma vontade e algum talento.
JdeB – O seu pai é dos gaúcho que vieram pra cá porque era uma região de futuro. Hoje o senhor convidaria gente pra vir pra cá como seu pai convidou os empreendedores?
Cláudio – Uma coisa eu não tenho dúvida, está indo bem a região Sudoeste, está se desenvolvendo. Tem que ver como que eles estão lá, no Sul, estão com dificuldades? Estão tendo expectativas de futuro? Aqui tem! Eu acho que tem! Eu trouxe profissionais aqui, vários, e a primeira leva veio do Rio Grande, na década de 80, basicamente de Venâncio Aires e alguns de Caxias. Eu contratei 11, 12, 13 profissionais de lá pra trabalhar comigo. Eu conheci, eu vi cidades sem empreendedorismo. É que nem o pai fazia naquela época, tem que pôr esse povo pra trabalhar, na época os paulistas e depois, e sempre foram criadas os gaúchos todos. Depois eu trouxe o pessoal de São Paulo, oito mais ou menos. Eu trouxe várias levas de pessoas de fora pra trabalhar aqui.
JdeB – E essas pessoas têm ficado aqui?
Cláudio – Alguns ficaram, sim. Tem o Cássio, tem o seu Ari, que ficou. Tinha ficado o seu Arlindo, mas ele foi embora, o seu Ari ficou porque casou a filha. Dos paulistas não ficou nenhum. Dos curitibanos tinha ficado uns três, quatro. E que ficou lá… só o Vanal, que é superintendente. Esse ficou, quem mais? Tem muitos que ficaram um tempo, sabe, morou aqui, coisa e tal. O Josué, o Josué agora foi embora, mas morou aqui muitos anos. O Josué é de São Paulo, de uma leva da Continental, agora tá em Curitiba, mas morou dois anos.
JdeB – Está mais difícil segurar as pessoas? No início as pessoas vinham e ficavam?
Cláudio – Sim, eu acho que sim. As pessoas já queriam mudar do Rio Grande naquela época, e eu as trouxe como profissionais, entende? De várias regiões, não quer dizer que estavam lá em São Paulo e no Rio Grande quando eu as trouxe, eu estava oferecendo coisa melhor pra eles do que nos outros estados, mas não foi iniciativa deles de vir pra cá porque queriam migrar, naquela época as pessoas queriam vir pra cá, então ficavam mesmo.
JdeB – São profissionais que tanto faz uma cidade ou outra.
Cláudio – É, onde tiver trabalho ele vai.
JdeB – Em relação à política, neste ano o seu nome estava cogitado pra ser candidato a deputado. Por que depois não foi confirmado?
Cláudio – Porque eu não autorizei lançar, deixei de fazer um balãozinho de ensaio pra mim. Nunca tinha sido lançado, claro, como candidato muitas vezes, como candidato a vice. Mas minha família não me apoiou, falaram que eu não tenho perfil de político, e em certa parte eles têm razão, não tenho muito jeitão de político, entende? Tive que mudar bastante, sem crítica, mas a gente sabe disso, porque é diferente as línguas que diferem né, e ficaria uma situação pra mim emplacar agora, e me entender com isso. E depois tem outro fator, que não pesou, mas não foi mais importante, tinha muitas condições para que eu aceitasse, e uma das condições era que se eu fosse candidato, o Zucchi seria vice do Richa. Tava encaminhando pra isso, mas o Osmar desistiu, porque é senador, e o Richa, do PSDB, apoiava ele, e o Zucchi de vice, o Zucchi era um dos líderes do PDT. Então sobrava aquela, eu era do PDT, do time deles, então era natural que eu assumisse, ou seja, não que ele fosse transferir, mas ele ia fazer força pra isso, pra gente resolver trabalhar juntos, seria a continuação dele aqui. E isso também não aconteceu.