Boa parte da produção é vendida na propriedade, na Linha São João.

Por Leandro Czerniaski – Quando o agricultor Itacir Pertille veio do Rio Grande do Sul para Francisco Beltrão, há 23 anos, buscava terras à beira da rodovia. Já tinha ideia de produzir e vender uvas e acreditava que estar em um ponto com grande fluxo de veículos facilitaria a chegada dos clientes, só que áreas bem localizadas são mais valorizadas, e ficavam fora do seu orçamento. Comprou, então, um sítio na linha São João para implantar os parreirais. Inicialmente, fornecia as frutas apenas em mercados e de porta em porta, mas com o tempo as pessoas passaram a ir até a propriedade buscar. Em alguns horários, há fila de clientes em busca das uvas recém-colhidas.
“Um dia chegou um casal aqui e pediu pra comprar umas uvas, não vi problema nenhum né, mas pensava ‘quem que vai vir até aqui só pra comprar uva?’. Com o tempo, foi se espalhando de boca em boca e vi que, mesmo estando longe do asfalto, o pessoal vem, inclusive de outros municípios”, comenta Itacir. A propriedade está a cerca de 2 km da PR-483 e o capricho com a produção e o sítio justificam o percurso de calçamento e estrada de chão até lá.
Uma parte dos parreirais é coberta, para ter maior controle e reduzir o uso de tratamentos. A área é toda rodeada de mata, o que forma uma espécie de cortina contra agrotóxicos trazidos pelo vento e ainda rendeu a certificação para crédito de carbono voluntário pela Associação Brasileira de Rastreabilidade de Alimentos (Abrarastro), através da Cresol.

Variedades diferentes
As uvas são o principal sustento da família e ocupam quatro dos dez hectares do sítio. São nove mil pés, de 16 variedades diferentes e que vão render cerca de 50 toneladas da fruta nesta safra – a maioria desse montante vendido ali mesmo.
Uma das sacadas para atrair a clientela foi a aposta em diferentes tipos de uva. Tem desde as mais comuns, como bordô, rosê e niágara, até variedades que pouco tempo atrás nem eram produzidas na região, como a núbia, vênus, magna, ísis, benetaka e ioko. Algumas destas espécies formam cachos que podem passar dos 3 quilos. “A gente já testou muitas variedades, mas algumas não se adaptam e não desenvolvem bem, já outras dão certo”, aponta a esposa Franciele.

Empreendimento familiar
O negócio é bem familiar e vem de gerações. Itacir é o quarto em uma linhagem de produtores de uva da região de Veranópolis (RS), onde nasceu, e seus irmãos também lidam com a atividade. Aqui, a mulher, filha e o sogro se envolvem com a produção. Apesar da colheita ser no início do ano, o serviço de manutenção e cuidados com o parreiral é de janeiro a janeiro. O filho mais velho do casal estudou Engenharia Química na UTFPR (cerca de 7 km da propriedade) e agora está em Portugal; a filha, de 20 anos, vai ser engenheira ambiental pela mesma universidade.

Aberto na temporada
O sítio dos Pertille está aberto de segunda a segunda durante a safra, que vai do fim de dezembro até a primeira metade de março. Quem chega, pode escolher entre as diferentes variedades de uva maduras (algumas ainda não estão prontas para a colheita) e frescas.
Também tem melancia, pitaya e morango, tudo produzido no local. Eles estão otimistas com a qualidade dos frutos, apesar de os parreirais terem sofrido neste ano com a chuva e calor.