
Leandro Czerniaski – Um rancho fora de prumo, de chão batido e coberto com tabuinhas de madeira. Essa foi a primeira habitação da então Vila Marrecas da qual se tem registro. Era início dos anos 1940. A moradia ficava próximo de onde hoje é o mercado Municipal e terminal urbano e foi vendida por Sebastião Muller a Luiz Antônio Faedo. Desde então, muita coisa mudou na urbanização de Beltrão: a população cresceu, a cidade se estruturou, expandiu para cima e horizontalmente e se tornou um pólo, também, na construção civil.
Quando a marcha migratória se intensificou, no fim dos anos 40 e início de 1950, a abundância de madeira tornava esse o principal material utilizado nas moradias. As casas de pinheiro se proliferavam e, com o tempo, ganhavam novos estilos. Bem no início, muitas residências nem pintura tinham. Somente nos anos 60 é que foram surgir imóveis em alvenaria. O primeiro do qual se tem registro foi a Foto CL, construída próximo ao Colégio Suplicy.
A professora Mônica Gonçalves Scatola, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unipar, observa que o início da formação urbana foi através da venda ou doação de lotes aos migrantes, por Faedo e Julio Assis Cavalheiro, que fizeram o primeiro mapa da cidade. Depois que se tornou município, Beltrão passou a receber serviços públicos e empresas, consolidando-se como um centro regional. “A malha urbana da cidade tem uma expansão mais expressiva entre os anos 1960 e 1980, fazendo com que a população urbana obtivesse um crescimento significativo e, consequentemente, a malha urbana passasse a se expandir para além das mazelas iniciais contornando o Rio Marrecas”, cita em sua dissertação de mestrado que analisa a expansão da cidade.

Outros momentos foram importantes para definir a constituição urbana de Beltrão. Em 1972 foi feito o primeiro mapa do perímetro urbano, com 13 bairros; em 1980 a população da cidade pela primeira vez superou a do interior; no fim dos anos 90 foi elaborado o primeiro Plano Diretor; entre 2006 e 2014, a criação de novas linhas de financiamento habitacional como o Minha Casa Minha Vida deu impulso a novos bairros, mais distantes do Centro.
Meio século como construtor
Seu Angelo Perin tem 50 anos de profissão. Começou ainda nos anos 70 como construtor na região da fronteira e mais tarde veio para Beltrão. Ele conta que, na época, as casas de madeira predominavam e ainda eram bem comuns até uns 20 anos atrás, mas que a construção civil evoluiu. “Fiz muito serviço diferente, desde casinha pra gente pobre em que tinha que aproveitar tudo [os materiais] até mansão de 600 metros quadrados e nisso ficava bem nítido como as coisas foram evoluindo desde que comecei a trabalhar na construção. Agora, por exemplo, o concreto vem todo usinado, tem materiais mais nobres no acabamento e a gente tem que aprender a fazer um pouco de tudo”, relembra Perin.
Ele se aposentou há dez meses e deixou um legado importante na família: todos os quatro filhos homens seguem a mesma profissão do pai. “Fico feliz que Deus me deu tanto tempo pra poder trabalhar.”
Em evolução
Atualmente, os métodos de construção são diversificados e atendem diferentes necessidades. Em Beltrão, o prédio mais alto da cidade (Edifício Visor) tem 29 andares e foi erguido em menos de dois anos graças ao uso de laje protendida, que permite tirar o escoramento antes da cura completa do concreto. Há modelos que permitem mais agilidade, aproveitamento de materiais ou redução de mão de obra.
A profissionalização do setor tem contribuído para essa evolução. Além de cursos superiores na área, construtoras e empreendedores estão se especializando e prometem manter Beltrão como um pólo regional da construção civil.