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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

“Entre uma carta mal escrita e um papel em branco, prefiro a primeira”

JdeB – O médico Rubens da Silva Martins, que foi prefeito de Francisco Beltrão de 1953 a 1956, nasceu em Curitiba dia 27 de agosto de 1920. Ele estaria completando, neste sábado, 102 anos (faleceu em 19 de julho de 2002, com 81 anos). Dr. Rubens publicou o livro Entre Jagunços e Posseiros, que é um importante documento para o município. Sobre o ensino público dos primeiros anos, ele escreveu o texto que segue (página 196).

Várias pessoas me censuraram, acusando-me de confiar o ensino primário no município a “analfabetos”, como, desrespeitosamente, se referiam àqueles abnegados servidores.
– O que o senhor está fazendo é um crime – desabafou, certa vez, uma pessoa amiga –, a criança que começa mal na escola, dificilmente se recupera.

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Capa do livro Entre Jagunços e Posseiros, publicado em 1986, com 484 páginas.

Eu lhe alcancei uma carta que me fora endereçada por uma das professoras municipais, pedindo-lhe para que a lesse e interpretasse. Havia erros ortográficos grosseiros, frases incompletas e termos inadequados.

– É o que lhe dizia – comentou ele, triunfante. – A prova está aqui. É uma barbaridade!
– Mas você entendeu o que ela quer? – insisti.

– Claro que dá para entender. Ela está pedindo material escolar e consulta se no próximo mês o senhor poderá mandar vacinar as crianças da escola e da vizinhança.

– E esta o que quer? – perguntei, passando a suas mãos uma folha de papel em branco.
– Tá brincando… – disse ele, olhando os dois lados da folha. – Não tem nada escrito…
– Pois entre a carta mal escrita que contém uma mensagem integralmente entendida por você e a que nada transmite, eu prefiro a primeira. Não tenho outra opção e muito menos o povo do município.

Ele compreendeu, finalmente, as razões do meu procedimento. Com o correr dos anos, à medida que afluíam à região novas famílias e pessoas mais capacitadas assumiam estas as funções deixadas espontaneamente pelas professoras que não se sentiam capazes de prosseguir.

O povo de Francisco Beltrão contraiu, com os primeiros professores que lecionaram em seu território, uma dívida de gratidão e reconhecimento pelo muito que fizeram, nas condições mais adversas, em prol da alfabetização de seus filhos.

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