
Por Rodrigo Accorsi – Eu queria escrever sobre o que o Itamar Martins Pereira representa na minha vida, sem ser algo que fosse lido e visto como piegas ou clichê. O Tio Ita sempre foi um cara espetacular com todas as pessoas que um dia tiveram a oportunidade de conversar com ele, mesmo que por cinco breves minutos. Tratava a todos da mesma forma, sem nunca precisar pisar em ninguém e nem nunca colocar alguém em um pedestal para ser enaltecido. Tratava a todos da mesmíssima forma, da sua forma humana de ser. Eu tenho orgulho de ter conhecido e de ter feito parte do rol de amigos do Tio Ita, esse cara que já está fazendo muita falta. Convivi com ele diretamente menos do que eu gostaria, por apenas seis anos. Depois que me mudei para Passo Fundo (RS), em 2012, continuamos nos falando, mas também, muito menos do que eu gostaria.
O Itamar era apaixonado por Francisco Beltrão e fazia questão de deixar isso evidente. Toda semana ele publicava uma foto de um diferente ângulo da cidade na sua rede social. Gostava de enaltecer Francisco Beltrão, o Sudoeste e seu povo. É a terra onde ele constituiu sua família e foi um dos bravos fundadores do Jornal de Beltrão. Era um beltronense natural de Anita Garibaldi, estado de Santa Catarina. Assim como eu, me considero também um beltronense, apesar de ter nascido no Rio Grande do Sul. Como foi descrito pelo colega Luciano Trevisan, além de jornalista o Itamar era também um humorista. Posso dizer que em raras oportunidades eu vi o Tio Ita triste ou cabisbaixo. Sempre com uma palavra alegre, pra cima, algo para tornar melhor o dia de quem estava à sua volta. Esse era o Itamar.
“E daí, onde é que andava, Rodrigão?”. Costumava perguntar quando me encontrava no corredor, no café ou na redação do jornal. “Mais alguém dando o nó (o popular migué) por aí?”. Cheguei a Francisco Beltrão em 2006 e, ao saber que eu sou gaúcho, o Tio Ita logo quis saber se eu torcia para o Grêmio ou para o Internacional. Quando me revelei torcedor Tricolor, ele não disfarçou o sorriso, porque também nutria essa mesma paixão. Inúmeras vezes fui assistir a jogos do Grêmio na casa dele, que não sabia o que fazer para agradar e me deixar mais à vontade. Nessa época a Nilse, sua amada esposa também era presença constante. Consequentemente, me tornei amigo dos seus filhos Lígia, minha colega jornalista, e Marco Antônio, um dos melhores guitarristas que já vi tocar. O Tio Ita nunca deixava de perguntar como estavam minha esposa Edimara e meus filhos Lorenzo e Fabrízio.
Esse era o Itamar, um cara que, se eu pudesse definir em apenas uma palavra (o que é impossível), seria humildade. Seu luxo era ser ele mesmo. Agora fica um vazio no meu peito, na redação, enfim, na comunidade de Francisco Beltrão e no Sudoeste. Não sei qual vai ser minha reação na próxima vez que eu entrar na redação do jornal e saber que o Itamar não vai mais entrar pela porta e perguntar onde é que eu andava. Ou se eu sabia de mais alguém que andava dando o nó por aí. Tenho apenas a certeza de que vai ser emocionante e doloroso. Foi um privilégio ter conhecido e convivido, mesmo que por um curto período com a figura do Itamar Martins Pereira. Conselheiro, generoso, um cara com muita fé e com uma energia do bem. Fica em paz e cuida de nós aí de cima, meu grande amigo. Saudades eternas.
*Jornalista de Passo Fundo (RS).