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Francisco Beltrão
terça-feira, 27 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Falta de pacientes a exames e consultas geram problemas para o CRE

Diretora do órgão público diz que ausência provoca três problemas.

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JdeB – A falta de pacientes que têm consultas e exames agendados no Centro Regional de Especialidades (CRE) de Francisco Beltrão é preocupante. O alerta é de Ivone Sponchiado, coordenadora administrativa da Associação Regional de Saúde do Sudoeste (ARSS), mantenedora do CRE, instalado no Bairro Água Branca. A média diária de pacientes atendidos é de 600 pessoas dos 27 municípios.

“Esse é um problema bem grave. Queria aproveitar esta oportunidade para falar para todas pessoas. O número de faltosos é uma coisa, gera uma aberração. Nós sabemos a dificuldade que nós estamos passando, do empenho dos secretários de Saúde e prefeitos para aumentar a oferta de consultas, mas nós chegamos a ter um dia, por exemplo, na especialidade de endocrinologia, que é a especialidade com a maior lista de espera dos 27 municípios. Todas as reuniões com os secretários de Saúde é um choratéu, que precisa de mais médicos, mais médicos… Aí a gente agenda um período de atendimento de, por exemplo, 14 consultas para o médico, vem seis pacientes e seis faltam. Se você pegar, tem um índice de absenteísmo que gera entre 20% a 30% pela fila de espera que tem, é uma coisa extraordinária.” 

Ivone Sponchiado: preocupação com o problema.

A ARSS/CRE vem tentando entender onde está a falha no processo. A coordenadora explica: “Existem dois lados: eu prefiro acreditar que é só uma fatalidade, que foi só naquele dia, que por qualquer motivo, a pessoa não veio. Porque custa acreditar que a pessoa que está na fila de espera, esperando para tratar sua saúde, simplesmente não compareça por qualquer coisa. Mas as desculpas que a gente encontra são as mais variadas. E muitas vezes os municípios reclamam que o paciente, quando faz o custeio de um atendimento, ele faz o impossível pra não faltar. Quando você oferta esse serviço pelo SUS, nem sempre ele tem a valorização que ele precisa. E a pessoa acha que depois ela pode voltar lá no município e pode agendar na hora de novo, vai voltar para a fila de novo. E o pior é que quando você falta, você perde três vezes: e nós fizemos essa conta pros municípios vários momentos. Primeiro porque você faltou, resolveu teu problema de saúde? Não! Você volta pra fila. Você não avisou, se você tivesse avisado, o município poderia ter colocado outra pessoa no lugar; então, essa pessoa deixou de ser atendida, já perdi duas vezes, e a terceira porque você voltou pra mesma fila. E você vai lá e incomoda [na Secretaria de Saúde] porque você quer ser atendido. E se você tinha uma fila de 500 pessoas, você passa a ser a de 501 de novo. Isso compromete o teu tratamento, a tua vida, porque você perdeu o teu tempo, a tua hora e a tua agenda”.

Expectativa dos médicos

Ivone explica outro problema que a ausência do paciente gera para o CRE e os médicos. “Cria um problema muito grande, porque o médico que estava aqui é contratado pelo número de consultas. Se eu contrato um médico, criada uma expectativa financeira que naquele que período que está trabalhando. Ele criou uma expectativa financeira que naquele período que ele está trabalhando, se ele trabalhou quer receber. Ele deixa o consultório dele num horário e vem atender aqui. Agora, eu crio uma agenda pro médico, e falo pro médico: vamos atender 14 consultas, um ou dois vão faltar. Mas aí o médico chega aqui e só tem seis pacientes, ele deixou a agenda do consultório dele, e ele não atingiu a expectativa dele nem clínica e nem financeira, porque seis deixaram de receber tratamento e por seis consultas. O orçamento dele foi comprometido. E aí eu consigo ele numa outra agenda de consultas quando? Convencer o médico pra agenda extra no sábado e só comparecem 50% da agenda. No outro sábado eu vou pedir pra ele abrir agenda extra, ele vai dizer que não, que vai ficar descansando, que é seu direito – eu me dediquei, fiz o que foi combinado, mas eu não tive a contrapartida. Então, o cidadão precisa entender a importância que é isso: quando se marca, existe uma equipe inteira no município que se programou, que é pessoal do transporte, das consultas. Da mesma forma, a equipe que está aqui no CRE pra atender tem uma expectativa. A gente precisa ser parceiro. Porque, assim, daqui a pouco eu não consigo trazer profissionais no sábado ou feriado para atender em agenda extra, como temos feito, porque não me compensa, o médico se programa pra receber tanto e vai receber só tanto. Portanto, é um contrato que além do cuidado da saúde do paciente, envolve a questão financeira. Isso tudo tem que ser mensurado pelo gestor [público].”

Numa ocasião que muitos pacientes faltaram para os atendimentos no CRE, Ivone disse ter telefonado, aleatoriamente, para alguns municípios e conversou diretamente com alguns pacientes. “Fulano de tal o senhor tinha uma consulta médica tal, e as respostas foram: ah. eu tinha me esquecido; ah, a mulher colocou a roupa na máquina pra bater, ah, eu não lembrei que era hoje; o outro falou que puxa vida, deu um problema com o meu filho que adoeceu, de emergência, e não deu tempo de avisar; então, são situações muito gritantes que a gente precisa trabalhar muito isso. E muitos deles eu questionei: você recebeu o agendamento do município? Sim! Confirmou o agendamento? Sim! Se eu peguei o protocolo com o dia e a hora marcados, eu sou responsável pelo meu corpo e a minha saúde, eu vou morar nele pelo resto da minha vida. Município fez o dever de casa, fez o agendamento, pagou a consulta, nós contratamos o médico e aí paciente não vem.”

Os municípios

Jonas Welter, secretário de Saúde de Capanema e vice-presidente do Conselho Regional de Secretários Municipais de Saúde (Cresems), comentou sobre este problema. Para Jonas a responsabilidade, nesta questão, “é mútua: do paciente, da Secretaria de Saúde e do CRE”. Porém, Jonas elencou alguns problemas que podem ocorrer para o não comparecimento: questões climáticas, por doença, pela distância – no caso de Capanema são 100 km até Beltrão – e porque as pessoas têm que levantar às 3h30 da manhã e pegar o ônibus às 4h45 para vir a Beltrão. Ele contou, ainda, que tem pessoas que acham que há consultas que não são emergência. O secretário comentou que o maior problema de faltas envolve pacientes com reconsulta. Mas Jonas ressaltou que a maior responsabilidade pelo comparecimento é do paciente.

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