Ferrovia vai reduzir custos, atrair novos negócios e amenizar problemas logísticos do setor produtivo.
Por Leandro Czerniaski – Do extremo do Mato Grosso do Sul até Francisco Beltrão, no Paraná, são quase de 1.200 km de chão. Bem pegado, vai de dois a três dias de viagem em um trecho quase todo em pista simples, por uma das rodovias mais movimentadas do País – a BR-163 – e com poucos pontos de apoio aos caminhoneiros.
Esse é um trajeto que centenas de caminhões fazem toda a semana, carregando milho e farelo de soja de grandes centros produtores até o Sudoeste paranaense.
“Dos nossos veículos, têm mais de 80 puxando carga seca [granel] e a uma boa parte fazendo nesse trecho entre Rondonópolis [MT] e o Sudoeste [PR] e Oeste [SC]. Puxamos de 25 a 30 mil toneladas/mês só na fábrica de ração da BRF de Beltrão”, exemplifica Ezídio Salmória, presidente da Coptrans, cooperativa que reúne transportadores paranaenses.

A jornada na estrada retrata o descompasso entre a produção de grãos e de proteína animal na região que é a segunda maior produtora de carne de frango do Estado. O Sudoeste ainda precisa “importar” quatro vezes mais milho do que demanda, cenário que se acentuou com a estiagem dos últimos anos. Por isso, buscar novas soluções logísticas se tornou uma questão crucial para manter a competitividade e ampliar a produção agroindustrial.

“No que tange a investimentos em infraestrutura logística, o modal ferroviário contribui enormemente para o desenvolvimento de qualquer região, e para o Sudoeste não é diferente, pois permite melhorar a competitividade do nosso produto, barateando o frete”, analisa o economista e consultor em exportação Inácio Pereira.
Com a ferrovia em operação seguindo o estudo de viabilidade da Nova Ferroeste, cerca de 6 milhões de toneladas poderiam ser transportadas no ramal entre Cascavel e Chapecó, que cruzaria o Sudoeste, interligado com o Mato Grosso do Sul e Paraguai. Cada vagão nos trilhos representa dois caminhões rodotrem a menos na estrada. “Pra quem é do transporte rodoviário seria ótimo ter uma ferrovia, pois continuaria tendo carga até os terminais e ainda rodovias desafogadas, pois não estão comportando mais o volume de veículos”, pontua Salmória, da cooperativa de transportadores.
Criação de novos eixos de desenvolvimento
Além de viabilizar o transporte de grãos de forma mais eficiente, a ferrovia é vista por Inácio Pereira como uma forma de acelerar a industrialização de municípios. Chegam insumos e saem produtos beneficiados. “Essa dinâmica da ferrovia dará um impulso à economia da região, que já vem trabalhando com exportações em grandes volumes e terá oportunidade de criar novos eixos de desenvolvimento no entorno da linha”, destaca. Compensados de madeira e carne de frango representam a maior parte do que é enviado daqui para fora do Brasil (veja arte abaixo).

Projeto não prevê terminal na região
No entanto, para que a ferrovia traga benefícios diretos ao Sudoeste será preciso ir além do que está especificado no atual estudo de viabilidade, que prevê os terminais mais próximos em Cascavel e Chapecó. Luiz Henrique Fagundes, coordenador do Plano Estadual Ferroviário, acrescenta que a viabilidade e o interesse das empresas daqui serão fundamentais para ter um terminal de cargas na região Sudoeste.
“O projeto da Nova Ferroeste é muito dinâmico e vai permitir que o investidor identifique a melhor possibilidade de criação de terminal de acordo com a demanda e as características da região”, diz Fagundes.

Também é possível que empresas invistam na criação de pequenos trechos ligando suas sedes até o ramal principal. Só que o custo estimado atualmente é de R$ 18 a 20 milhões por quilômetro.
Entre o otimismo e a cautela
O projeto da nova ferrovia é considerado inovador, tem atraído interesse de investidores e a atenção do setor produtivo e sociedade. Mas ainda é visto com cautela.

“Ainda não temos uma definição clara sobre o traçado, cronograma e o leilão propriamente dito, então é algo que pode demorar anos para se concretizar, mas são inegáveis os benefícios que a obra traria para toda a cadeia produtiva paranaense e de outros estados também”, comenta Irineo da Costa Rodrigues, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar).
O licenciamento ambiental já está previamente aprovado; depois são realizados estudos de validação do projeto e aí é emitida a licença ambiental. Segundo Fagundes, na sequência o Estado irá lançar o edital definitivo e definir a leilão.