Ele foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira, 11, após a polícia ter acesso a um vídeo.

ABr – A delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, no estado do Rio de Janeiro, iria ouvir ontem duas mulheres que também fizeram partos no domingo passado com a presença do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, indiciado por estupro de vulnerável.
Ele foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira, 11, após a polícia ter acesso a um vídeo feito por profissionais da equipe da cirurgia de uma grávida, domingo.
As imagens mostram que o anestesista estuprou a mulher durante a cesariana no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti.
As duas mulheres ouvidas estão entre as cinco que identificaram o médico como o profissional que realizou a anestesia durante as cirurgias. Outras três já prestaram depoimento. A polícia suspeita que as duas mulheres também possam ter sido estupradas pelo anestesista.
“Há muitos indícios de que elas tenham sido vítimas realmente, porque foram operadas no dia 10 de julho, antes daquela vítima que está nas imagens. Já temos informações de que elas foram sedadas, possivelmente desnecessariamente”, revelou a delegada Bárbara.
Mulher abalada
Segundo a delegada, a mulher identificada como vítima já recebeu a informação do que ocorreu enquanto estava sedada e está muito abalada. Bárbara Lomba contou que foi muito delicada a conversa que teve por telefone com a mulher.
“Eu, na verdade, quis falar com ela mais para prestar solidariedade e dizer que se sinta protegida, não será exposta, que o agressor está preso e nós faremos tudo que estiver ao nosso alcance para terminar a investigação e comprovar esse crime. Então, a tranquilizei neste sentido. Perguntei como ela estava e como estava o filho. Ela chorou, se emocionou, disse que está muito abalada psicologicamente, mas se colocou à disposição.”
A policial acrescentou que há possibilidade de a vítima prestar depoimento em outro lugar, que não seja na delegacia. O marido só vai depor no mesmo dia em que a mulher for ouvida.
A delegada Bárbara Lomba disse ainda que a vítima que sofreu o estupro mostrado no vídeo tomou um coquetel anti-HIV, conforme o protocolo para pessoas que sofrem violência sexual. Ela acha possível que as outras duas mulheres também tenham tomado o coquetel no próprio hospital. Bárbara analisa a possibilidade de pedir teste de HIV do médico, que, no entanto, não está obrigado a fazer o exame.
A investigação procura, ainda, saber se cerca de 30 mulheres que também fizeram partos com a presença do médico sofreram abuso, desde que ele concluiu a formação profissional em abril.
“Vamos continuar identificando. Não são relatos ainda. Nós precisamos investigar. Primeiro fazer uma triagem, saber qual foi o tipo de procedimento e aí vamos aprofundando. São mais de 30, não sei exatamente quantas, mas já identificadas como possíveis, foram pacientes”, disse.
Sensação de impunidade
Para a delegada Bárbara Lomba, a repetição do crime praticado pelo anestesista Giovanni é porque ele tinha a sensação de que não seria punido. “Ele não achou que houvesse uma audácia e uma coragem muito grande da equipe de enfermagem de fazer essa gravação, jamais contou com isso e há toda uma circunstância de posição dentro de um hospital. Ele contava que não fosse ser pego, tanto que se surpreendeu quando foi dito a ele que havia uma imagem, na hora ele não disse nada e depois se calou e não quis mais falar”, afirmou.
O médico Giovanni está preso desde terça na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio, para onde são levados os custodiados com nível superior. Por medida de segurança, ele está isolado em uma cela da galeria F da unidade. Ao chegar, foi hostilizado por outros presos que reagiram batendo nas grades das celas e xingando. “Toda essa ação criminosa é repugnante. Algo que não imaginávamos que pudesse acontecer, porque foi um abuso, inclusive de poder, de uma posição do agressor que estava com toda a legitimidade.”