Agricultores da região calculam os prejuízos devido ao excesso de chuvas das últimas semanas.

JdeB – Os prejuízos para os agricultores, decorrentes das fortes chuvas, serão grandes, prevê o presidente do Sindicato Rural de Francisco Beltrão, Albino Poposki. As precipitações dos dias 10 a 12 de outubro levaram adubação que tinha sido colocada nas lavouras do milho da primeira safra (setembro a janeiro) e nas áreas de soja o problema é a erosão, o encharcamento do solo e até mesmo o soterramento de plantas. Mais tarde podem ocorrer as doenças do solo. Na avicultura, Albino relata que teve aviários que foram inundados.
“Foi muito forte a chuva. Os estrados são grandes.”
Num trecho da estrada de acesso à propriedade de Albino, na Linha São João, o barranco deslizou e caiu sobre o leito da via e a família ficou isolada até que a situação fosse resolvida. Para o presidente do Sindicato Rural e para o agrônomo Ricardo Kaspreski, do Deral-Seab, Núcleo de Francisco Beltrão, as precipitações que caíram vão ter reflexos sobre a safrinha (segunda safra), período de fevereiro a junho. Para os produtores que fizerem o plantio agora, a colheita vai ocorrer mais tarde e fora do período indicado pelo zoneamento agrícola.
Para o líder sindical, o potencial produtivo do milho da primeira safra “já foi comprometido porque a água levou o nitrogênio das plantas”.
Sobre a soja, ele acrescenta que além de destruição e soterramento de plantas, no solo muito encharcado as plantas acabam não vigando. Depois vêm as doenças de solo e ocorre o apodrecimento das raízes. Albino acha que nas áreas onde não houve maiores problemas ainda pode ter potencial produtivo, “mas não se sabe de quanto”.
O produtor rural, que conversa seguido com outros colegas da área, comenta que “o que tá desenhado, até agora, é que tem sérios problemas de produtividade na soja e no milho”. Albino lembra, ainda, que é preciso aguardar também sobre condições climáticas durante a safra. Há uma perspectiva de que ocorra uma nova estiagem na primavera-verão 2022-2023.
No trigo, mais prejuízos
Outra cultura que será bastante afetada é o trigo. Albino comenta que “o que a geada não estragou, as chuvas praticamente acabaram [com o potencial produtivo]”. Ele acredita que vai ter colheita, mas poucas áreas darão trigo com qualidade para fabricação de farinha. Se não tiver qualidade e PH ideal – 78 – os produtores terão de vender a produção como triguilho, usado para fazer ração animal, ou resíduo, e cujo valor pago pelas cerealistas é bem baixo.
Naregião há muitas áreas já dessecadas e prontas para a colheita. Porém, como vem chovendo constantemente desde 19 de setembro, não houve condições das máquinas entrarem nas lavouras. A dessecação consiste na aplicação de um químico para secar as plantas e facilitar a colheita.
Preocupação com o solo
Há produtores e agrônomos apreensivos com os danos que o excesso de chuvas causou ao solo de propriedades que não adotam formas corretas de conservação. O agrônomo Gervásio Kramer, da Germer Agromax, se disse preocupado ao visitar várias áreas na região. Para Albino “quem tem conservação de solo adequada, acompanhou as previsões do tempo e não fica atropelando muito o plantio diante do calendário, tem melhor resultado”.
O presidente do Sindicato Rural diz que ainda não plantou soja. As áreas de milho da safra normal totalizam 40 hectares. Devido às frequentes chuvas, Albino ainda não conseguiu aplicar o nitrogênio, importante fertilizante para as plantas.
“Deu Proagro”
Na propriedade de Albino Poposki, em Beltrão, foram plantados 90 hectares de trigo. Ele acredita que vai colher muito pouco e com baixa qualidade. Diante dos problemas climáticos, já acionou o seguro. Mas precisa fazer a colheita para ver a qualidade do produto e a questão da indenização.
Falta apoio ao pequeno produtor atingido
Marcelo Possamai, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Beltrão, considera difícil falar de prejuízos nas safras de trigo, milho e soja, mas prevê que haverá perdas tanto na cultura de inverno quanto nas culturas de verão, por causa das fortes chuvas.
“Cada vez tá um pouquinho mais complicado. E até porque foi uma chuva fora do padrão, muito forte, que acabou lavando as lavouras. O pessoal tinha recém-feito o plantio. Algumas lavouras tiveram erosões muito grandes. Então, o pessoal já sai com prejuízo, alguns tendo que plantar de novo. Quem tem mais na beira do rio, esses vão ter prejuízo maior por causa das enchentes.”
Para Marcelo os agricultores têm consciência de que as questões climáticas podem afetar as suas lavouras. “Mas também sempre estão na expectativa que tenha um auxílio do governo nesses momentos quando as catástrofes são maiores. Mas, os governos não têm olhado com bons olhos para a agricultura famíliar de modo geral. Então, novamente, nossos agricultores vão ter que arcar com os prejuízos. Esse é o problema, até quando os nossos agricultores vão conseguir arcar com esses prejuízos e não tendo amparo dos nossos governantes? Acaba ficando difícil pra produção de comida porque a maioria da comida sai da agricultura familiar. Os maiores produtores trabalham soja, milho e trigo pra venda pra fora.”