Em Beltrão, esta foi a 7ª maior chuva da história, com 142 mm, mas em Flor da Serra choveu 240 mm.
Por Ivo Pegoraro – Muita gente se surpreendeu com o nível atingido pelas águas do Rio Marrecas, que continuou subindo por quase 24 horas após aquela chuva que iniciou às 16 horas de quarta-feira e só parou às 3 da madrugada de quinta-feira. Uns questionando a eficiência do túnel, outros afirmando que, não fosse o túnel, o nível do rio teria sido mais alto. Acrescentando, ainda, que o volume de chuva, nas cabeceiras do rio, foi maior que os órgãos oficiais puderam registrar.

Ontem, a Siton do Brasil, empresa responsável pelas obras de contenção de cheias (túnel, canal adutor e aprofundamento do leito do Marrecas) publicou informações sobre o estágio do empreendimento. “O canal projetado não está finalizado, razão pela qual não possibilita a passagem total da vazão prevista em projeto para tal situação de utilização.” A vazão atual fica em aproximadamente 20% (veja nota na íntegra).
“Se não fosse o canal, a água aqui na nossa rua teria subido um metro mais”, disse ontem de manhã, ao Jornal de Beltrão, o construtor Irineu Prosciak, morador da Avenida Guiomar Lopes, esquina com a Rua Floriano Peixoto, no Bairro São Miguel. E o agente de trânsito Vicente Tremea, que acompanhou a interdição da Rua Curitiba, na passagem do Rio Lonqueador, atrás do Urutago, também acredita que o canal o túnel já contribuíu para que o rio não subisse tanto.


240 milímetros!
Por outro lado, tem mais gente afirmando que o volume de chuvas foi recorde para o lado sul da cidade, região de onde vêm o Marrecas e seus afluentes. Roberlei Sommer, agricultor da Linha Tilongo, interior de Flor da Serra do Sul, afirma que seu pluviômetro marcou 240 milímetros. Segue a íntegra do áudio que ele enviou, por Whatsapp, para seu primo Ricardo Pilger, do Jornal de Beltrão:
“Era dez da noite, depois do chuvão, primeira passada, eu fui pra fora ver como estava o bicharedo, onde estavam, com toda aquela água. Fui olhar no medidor, 150 milímetros. Tirei aquela água toda, porque ia chover de novo. De manhã cedo fui olhar, 90 milímetros. Então fechou em 240 milímetros. E sabe do Serginho Raister, naqueles açudes que pegam peixe ali na Flor da Serra? Deu 225. E mais pra frente aqui choveu ainda mais. E em Marmeleiro eu ouvi falar que choveu 150 milímetros, em um lugar 180, 190. Mas aqui, pode colocar no jornal, 240 milímetros.”

De 386m³, canal leva 281
Sobre a capacidade do túnel, que mede cinco metros de largura por oito de altura, a engenheira Camila Cancelier, que faz parte, pela Prefeitura de Francisco Belrão, da equipe de fiscalização da obra de contenção de cheias (junto com Vanios Biehl, Heloísa Bortot e Rafael Dal Zotto), informa que “a vazão total do rio Marrecas para o tempo de recorrência de 100 anos resultou em 386 m³/s, sendo que 281 m³/s serão desviados para o canal adutor Urutago e 105 m³/s seguirão pela calha natural do rio Marrecas”. Quer dizer, depois que o canal estiver pronto, de uma chuva que leve o Marrecas de 105 para 386 metros cúbicos por segundo, 281 passam pelo canal e os outros 105 seguem pelo leito natural; e as duas águas se reencontram na saída do canal.
Maiores chuvas de Beltrão
Esta chuva de 17 e 18 de agosto de 2022 é a sétima, em volume, segundo dados da estação meteorológica do Iapar, hoje IDR, em Francisco Beltrão, desde 1974.
Mês/dia mm Clas. Ano
Abril, dia 30 195,5 (1º) 2014
Junho, dia 7 183,6 (2º) 1991
Abril 178,0 (3º) 2010
Maio 163,8 (4º) 1998
Maio 156,2 (5º) 1983
Janeiro 146,8 (6º) 1980
Agosto 142,0 (7º) 2022
Maio 140,2 (8º) 1990
Julho 138,0 (9º) 1983
Novembro 137,0 (10º) 1982
Maio, dia 28 130,0 (11º) 2019
Fevereiro 131,0 (12º) 1983
Agosto 122,0 (13º) 1990
Dezembro 117,0 (14º) 1994
Outubro 113,2 (15º) 1975
Setembro 106,0 (16º) 1989
Março 98,4 (17º) 1983
Nota da Siton
“O canal projetado não está finalizado, razão pela qual não possibilita a passagem total da vazão prevista em projeto para tal situação de utilização. Durante a obra, existem pontos de acesso para caminhões que, quando o canal está recebendo vazão do Rio Marrecas, funcionam como pontos de obstrução, fazendo com que a água tenha que vencer a altura desses obstáculos para posteriormente ultrapassá-los, conforme observa-se na imagem acima: Em algumas dessas rampas existentes para saída de material, foi realizada uma escavação parcial emergencial para possibilitar a passagem de uma maior vazão. No entanto, não existiam condições seguras para as máquinas continuarem trabalhando na retirada de material desses acessos. Tal situação ocasionará várias bacias que poderão ser observadas antes da água ser totalmente drenada do canal, o que em grande parte deverá ser feito por meio de bombeamento ou posterior abertura desses acessos para possibilitar a passagem da água. O fato descrito pode ser claramente observado visualizando a vazão que passa na comporta basculante, a qual é o acesso para o túnel. Por fim, a vazão que chegou até o bloco basculante foi equivalente a aproximadamente 20% da vazão esperada para funcionamento máximo do sistema.”