Negócios

Admir Pancote e Alceu Souza-Na dinâmica das inovações é perceptível um efeito circular no qual os avanços tecnológicos impulsionam novas formas de gestão. Estas, por sua vez, demandam mais aprimoramentos tecnológicos para simultaneamente aprimorar a capacidade de armazenar e transmitir informações selecionadas aos tomadores de decisão.
Nos anos 1980 o planejamento estratégico norteou o crescimento das organizações e algumas ultrapassaram a linha tênue que as tornou mais lentas para mudanças de rumo; nos anos 1990 a reengenharia, o downsizing e foco no core business se apresentam como novas ferramentas para melhoria da produtividade e da rentabilidade; nos anos 2000 já havia um bom entendimento sobre a necessidade de melhoria na competividade sistêmica e busca por diversificação de produtos e/ou mercados passaram a contar com a internet para transações comerciais; na década de 2010 inovações de produtos e de processos se aglutinaram sob o guarda-chuva denominado Transformação Digital (TD) forçando as organizações a redefinirem a forma de transacionar com seus players a jusante e a montante.
Implícito aqui estão mudanças culturais, ou seja, é necessário desenvolver uma cultura que absorva e internalize esses novos conceitos. Exceto pela Transformação Digital as “Tecnologias de Gestão” se modificaram para esse novo contexto. O Planejamento Estratégico foi simplificado para OKR (Objectives and Key Results), a Reengenharia se transformou em modelagem contínua de processos e o boom da Internet se concentrou em um grupo seleto de poucas empresas gigantes que concentram a maioria das operações. Essas empresas veem a internet como um produto/serviço que pode melhorar o processo de gestão e alavancar, de forma não suave, o crescimento das organizações.
Algumas informações relevantes para o entendimento do texto: criatividade não é inovação e inovar não é, necessariamente, ser disruptivo e nem ter criatividade, embora esta possa ajudar a encontrar soluções mais eficazes. Por exemplo, se Uma empresa economizou numa contagem de estoque das suas 11 lojas, em torno de 80 mil reais ao decidir usar uma APP de contagem dinâmica de estoque em relação ao método anteriormente adotado. Isso é criatividade? Não! É apenas a busca de solução para um problema existente. Isso decorre da adoção de melhoria contínua que se transforma em inovação em processos. Em última instância, a cultura da inovação é uma eterna busca por melhores soluções para suas operações diárias e para os negócios.
A grande questão relevante remanescente é a de como instituir a cultura da inovação numa organização. O uso de modelos existentes, que já foram adotados por outras organizações, embora prático pode não ser adequado, mas é recomendado porque está pronto e não requer muito questionamentos. Uma alternativa a essa decisão pode ser: a) prepare-se pessoalmente para a inovação, isso significa manter seu ímpeto empreendedor do início da carreira de empresário, ter a coragem de correr riscos calculados dentro de padrões aceitáveis para não colocar todo o empreendimento em risco; b) planeje como instituir a cultura da inovação, leve para as pessoas que trabalham essa mesma coragem de correr riscos, de dar ideias, de colaborar com os colegas, de se darem ao trabalho de pensar em como resolver melhor o seu dia-a-dia, o relacionamento com os clientes, o atender mais rapidamente um pedido; c) Coloque o cliente a frente de tudo, isso não significa que o cliente sempre tem razão, mas procure não polemizar com ele, procure oferecer o produto que ele queira comprar e procure entregar da forma como ele gosta de receber, isso é foco no cliente; d) para iniciar o processo de cultura de inovação na empresa, escolha um ponto focal, onde haja um problema, escolha um profissional no qual acredite que o possa resolver e atribua-lhe a responsabilidade sem interferir, dando a ele condições para analisar e testar alternativas.
Uma vez concluído o trabalho e dando certo, mostre para todos o que ele fez, como ele fez e o resultado obtido. Se não der certo analise juntamente com ele as falhas e correções que seriam necessárias para dar certo e divulgue isso também, não demita esse profissional para não desencorajar outros. A regra é não desistir! Encontre outro problema e outro profissional e tente novamente. Isso irá mostrar aos demais que é possível mudar quando se deseja. Um exemplo dessa estratégia pode ser visto na Colbacho, uma empresa de varejo do vestuário do litoral paranaense que se preparou durante um ano e meio para vender pela internet e atualmente fechou três lojas físicas, entrou em quatro plataformas de e-commerce, desenvolveu seu próprio site para vendas virtuais e em um só dia teve quinhentas vendas. Segundo seu proprietário “muitos entram em vendas pela internet e não conseguem permanecer. Nós mudamos a estratégia de crescimento e estamos no caminho de substitui o projeto de ter cinquenta lojas físicas pelo equivalente em vendas pela internet.
Para acompanhar o processo de implantação da cultura ou a resolução de um problema crie indicadores e use ferramentas simples como o 5W2H 1 ou o OKR2 que pode ser combinada com o Trello3. Acompanhe os indicadores porque eles são a fonte de correções de rotas. Não perca de vista a visão estratégica, as competências adquiridas e o aproveitamento dos ativos existentes com foco na cultura da inovação e lembre-se que o conhecimento, ambiente favorável, engajamento da equipe, envolvimento e o objetivo de mudar são fontes essenciais para uma cultura de inovação que fará a diferença entre você e seu concorrente.
Autores:
Admir Pancote – Doutorando em Administração – PUCPR
Alceu Souza – Professor – PUCPR
1 5W2H – Entenda o que é e como usar em https://endeavor.org.br/pessoas/5w2h/
2 OKR – Conheça a técnica e sua aplicação em https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/okr-passos/ ou
https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/artigosOrganizacao/gestao-de-metas-como-implementar- a-metodologia-okr,a67875d380a9e410VgnVCM1000003b74010aRCRD
3 TRELLO – Disponível gratuitamente em https://trello.com/pt-BR