Estudo revela que 6 em cada 10 homens acham que poderiam melhorar sua postura em relação às mulheres.
Pelo menos 88% das pessoas acreditam que existe desigualdade entre homens e mulheres na sociedade, e 89% concordam que as mulheres negras sofrem ainda mais preconceito do que mulheres brancas. É o que mostra o estudo do Instituto Avon/Locomotiva: “O papel do homem na desconstrução do machismo”, apresentado em São Paulo, neste mês, durante o Fórum Fale Sem Medo. Um dos itens pesquisados foi sobre a violência doméstica e a percepção das pessoas.
“A pesquisa revela que a população reconhece a desigualdade entre homens e mulheres, mas a maior parte rejeita essas diferenças: 78% concordam que as mulheres devem conhecer seus direitos e serem incentivadas a lutar por eles”, explica Daniela Grelin, gerente do Instituto Avon. O estudo mostra que 67% das pessoas concordam que homens e mulheres devem ser igualmente responsáveis pelos cuidados com a casa e os filhos e 59% concordam que todas as mulheres devem ser respeitadas, não importando sua aparência e seu comportamento.
Sem interferência
Porém, na prática, a maioria ainda tolera costumes e situações de violência contra a mulher: 78% não interferem em briga de casal ou interferem apenas se houver algum tipo de violência extrema, e 61% consideram que a mulher que se deixou fotografar também tem culpa quando um homem compartilha suas imagens íntimas sem autorização. Além disso, 27% acreditam que, em alguns casos, a mulher também pode ter culpa por ter sido estuprada.
“Isso mostra que ainda há um distanciamento entre a percepção da desigualdade como algo negativo e a atitude prática para enfrentá-la. Apesar de existir uma percepção clara em relação à desigualdade de gênero, parte da população ainda defende costumes que sustentam essa desigualdade”, explica Daniela Grelin.
Muito ruim
O machismo é percebido como algo negativo por 79% das pessoas. Apesar de 87% concordarem que ao menos parte da população é machista, apenas 24% das pessoas se consideram machistas. “Os dados do estudo são preocupantes e mostram que homens e mulheres reproduzem diversos valores machistas. As pesquisas têm papel muito importante e indispensável no diagnóstico da dimensão da situação, e, pautando o tema no debate público, servem de ferramenta para o enfrentamento do problema”, explica Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
A pesquisa revela que 24% dos homens não tem coragem de defender as mulheres no meio de outros homens, e que 31% dizem que gostariam de não ser machistas mas não sabem bem como agir.
Para a maioria dos homens, ensinar os filhos a respeitar as mulheres é a principal forma de contribuir contra o machismo. Apesar de 85% dos homens concordarem que todo pai deve educar o filho para que ele seja menos machista, 43% afirmam que em um grupo de homens no WhatsApp pega mal reclamar porque o amigo compartilhou foto de mulheres nuas e, para 35%, cabe aos homens no máximo “ajudar” a mulher a cuidar da casa e dos filhos.
Além disso, para 48% dos homens é desagradável ou humilhante o homem cuidar da casa enquanto a mulher trabalha fora, e 47% dos homens e 32% das mulheres afirmam que não deixaria o filho brincar de boneca de jeito nenhum, porque boneca é brinquedo de menina. Sobre as percepções em relação ao feminismo, 20% dos homens e 55% das mulheres afirmam que se consideram feministas. Porém, 55% das pessoas dizem que o feminismo é o contrário do machismo e 32% acreditam que o feminismo está ultrapassado.
Diálogo, a melhor forma para mudar de atitude
Segundo a pesquisa do Instituto Avon, o principal caminho para uma mudança de atitude é o diálogo: 34% dos homens afirmam que deixaram de praticar algum tipo de atitude violenta contra a mulher nos últimos tempos. Para 54%, o principal motivo para essa mudança foi ter uma conversa pessoal com pessoas próximas, sendo que 35% foram influenciados por algum amigo ou parente homem e 22% por mulheres. “Os dados revelam que a conversa de homem para homem possui um alto poder transformador. E os homens já perceberam isso, já que 81% concordam que devem falar com outros homens sobre o que fazer para que as mulheres não sofram preconceito”, explica Daniela Grelin.
A etapa quantitativa da pesquisa Instituto Avon/Locomotiva: “O papel do homem na desconstrução do machismo” foi realizada presencialmente com 1.800 pessoas com mais de 16 anos, no período de 12 a 24 de outubro de 2016, em 70 municípios de todas as regiões do País. A margem de erro é de 2,4 p.p. para o total da amostra. Para a fase qualitativa, foram realizadas seis entrevistas em profundidade com especialistas e grupos de discussão.