Um esforço de todo o Brasil para salvar a vegetação e os animais no Pantanal, uma das maiores planícies inundáveis do planeta e que abriga uma enorme variedade de vida.
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Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou, nos primeiros 14 dias de outubro, 2.536 focos de incêndio. Já é o segundo pior outubro em queimadas para o bioma desde 1998, atrás apenas de outubro de 2002 – quando houve 2.761 focos. Militares do 10º Grupamento de Bombeiros (GB) de Francisco Beltrão, que estiveram no Pantanal combatendo as queimadas, contaram ao Jornal de Beltrão como foi o trabalho e o cenário de destruição que encontraram.
A primeira leva de bombeiros do Paraná chegou a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, no dia 16 de setembro. Do 10º GB, fizeram parte da primeira equipe do Paraná a tenente Camila Cupka (comandante da Seção de Bombeiros de Capanema) e o soldado Lucas Luiz De Bona Biazus (Francisco Beltrão). Eles retornaram na semana passada, após 27 dias de combate aos incêndios florestais no Pantanal e no cerrado.
Lá, os 31 militares paranaenses foram divididos em duas frentes. Uma equipe, com 16 integrantes, foi inicialmente para o cerrado (Alcinópolis e Costa Rica/MS), e o restante deslocou para Corumbá. O soldado Biazus e a tenente Cupka ficaram na equipe que iniciou o combate aos incêndios em Alcinópolis, no dia 17, em apoio às equipes do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul, que já estavam no local, e ao Exército Brasileiro. “Permanecemos na região de Alcinópolis até 30 de setembro, depois fomos para a capital, Campo Grande, onde ficamos por dois dias para limpeza de materiais e manutenção de equipamentos. Dia 2 de outubro partimos para Corumbá, permanecendo até o dia 9, quando a outra equipe de militares do Paraná – sendo três do 10º Grupamento (1º Sargento Massiero, Soldado Guilherme e Soldado Rotava) – chegaram para a substituição.”
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Grande capacidade de regeneração
Segundo Biazus, em Costa Rica e Alcinópolis o combate iniciou no Parque Nacional das Nascentes do Rio Taquari, visando proteger a maior área possível de ser consumida pelas chamas. “Existiam muitas frentes de fogo, porém, como a vegetação é baixa (cerrado), conseguimos controlar em três dias.” Posteriormente foi realizado o rescaldo e controle de novos focos. Algo interessante que ele disse ter notado foi a grande capacidade de regeneração do meio ambiente: áreas que haviam sido consumidas pelas chamas em uma semana estavam retornando ainda mais verdes e fortes, mesmo sem registro de chuvas.
No Pantanal a situação era mais grave. Haviam áreas maiores de queimadas e, em muitas, o acesso era apenas aéreo, sem possibilidade de utilizar viaturas para o combate, nem máquinas para construção de aceiros. De acordo com a Tenente Cupka, tinha vários focos de incêndio, sendo a maioria deles fácil de controlar por encontrarem-se em região de vegetação baixa, porém, também havia vários focos em locais de difícil acesso como cânions. “Já no Pantanal, além da dificuldade de acesso ser maior, a vegetação também dificultava o combate”, relata a oficial.
Na região do cerrado, na primeira semana de trabalho, a equipe combateu as chamas em média de 15h a 18 horas por dia, pois os locais de trabalho eram distantes da base.
“Saíamos às 4h da manhã e retornávamos à noite, 21h, 22h para a base avançada em uma fazenda da região. Essa quantidade de horas se fazia necessário pela logística e pela necessidade de combater o mais rápido possível os incêndios. Às vezes dormíamos em alguma fazenda próxima à área em que trabalhávamos para poder fazer vistorias durante a madrugada e manter sob controle uma situação já parcialmente controlada”, descreve o Soldado Biazus.

Dificuldades de combater incêndio no cerrado
Entre as dificuldades de se combater o incêndio no cerrado, uma delas é a grande proporção que ele toma rapidamente. “Muitas vezes, por causa do vento forte, a vegetação do cerrado tem uma propagação de chamas diferente da vegetação que estamos acostumados em nossa região. O local que estávamos têm muitas áreas de cânions, o que dificultava o acesso. De modo geral, a maior dificuldade é o terreno, que é totalmente diferente do da nossa região, com áreas muito arenosas ou montanhosas”, frisa Biazus.
A Tenente Cupka também observa o calor extenuante, ventos fortes e que mudavam rapidamente de direção, alterando também a direção do fogo. “Outra dificuldade foi o terreno desconhecido, visto que o Pantanal e o cerrado são diferentes das vegetações que somos acostumados aqui no Paraná.” A equipe de militares da qual o Soldado Lucas e a Tenente Cupka fizeram parte resgatou um tatu e um filhote recém-nascido de gato-mourisco.
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Os bombeiros utilizaram todas as técnicas possíveis para combater o fogo. Contaram ainda com o apoio de aeronaves agrícolas (aviões Air-Tractor) para ataque aéreo com água em regiões de difícil acesso e também para resfriar áreas antes do combate efetivo no solo com uso de abafadores, apoio do helicóptero da Polícia Militar de Minas Gerais para transporte de tropa e reconhecimento aéreo e também drones para medir frentes de fogo e marcar coordenadas para repassar aos aviões.
“As técnicas que utilizamos foram o combate direto com uso de abafadores, mochilas costais, sopradores, a confecção de aceiros com maquinário dos próprios fazendeiros (em locais onde era possível) ou de forma manual, nas áreas que maquinários não conseguiam trabalhar, confecção de linhas negras, que são áreas onde é efetuada a queima controlada. Utilizamos também caminhões do Governo do Estado do Paraná com canhão de água para resfriar áreas e possibilitar o combate direto”, explica Biazus.
O soldado do Corpo de Bombeiros classificou sua experiência como especial e única na carreira. “São poucas as vezes que se tem a chance de participar de uma operação dessa grandiosidade. A sensação que sentimos quando vimos a região dos cânions sem fumaça alguma, o sol nascendo sem estar vermelho, é algo que fica difícil descrever em palavras. A sensação do dever, da missão cumprida é extremamente prazerosa e fazer parte disso, é, sem dúvida, algo que me orgulho.” Para a oficial Cupkca, o trabalho também foi uma experiência ímpar e muito gratificante. “Os combates não foram fáceis, mas a equipe estava sempre motivada a fazer seu melhor, o que nos levava sempre ao êxito nas missões.”