Policiais
Drauzio Varella, médico e colunista da Folha de S.Paulo, e a TV Globo foram condenados a pagar uma indenização de R$ 150 mil após exibição de uma entrevista com a travesti Suzy Oliveira, no “Fantástico”, em março de 2020. A decisão judicial não é definitiva e ainda cabe recurso.
A ação que motivou a condenação por danos morais foi interposta por Emerson Ramos da Costa Lemos, pai de um garoto de 9 anos que foi estuprado e morto pela travesti, em maio de 2010. À Justiça, Lemos disse que “sofreu novo abalo psicológico ao reviver os fatos” contra seu filho quando foi procurado por outros veículos de imprensa para repercutir a entrevista concedida por Suzy Oliveira.
A entrevista exibida no programa dominical abordava a situação de pessoas transgênero no sistema penitenciário brasileiro, e Suzy foi uma das entrevistadas. O ápice do encontro entre Drauzio e Suzy ocorreu quando o entrevistador perguntou há quanto tempo a presidiária não recebia uma visita na cadeia – ela cumpre pena numa unidade prisional de Guarulhos (Grande SP). Oliveira respondeu: “Oito anos, sete anos”. O médico então disse: “Solidão, né, minha filha”, e deu um abraço na entrevistada.
A troca de afeto entre Drauzio, que é voluntário no sistema penitenciário há 32 anos, e a detenta gerou comoção na internet, que promoveu uma mobilização para o envio de cartas e presentes para a travesti. A própria Secretaria de Administração Penitenciária do governo de João Doria (PSDB) ajudou na campanha, e a cela de Suzy acabou lotada com cartas, bíblias, livros, chocolates e maquiagens, entre outros itens.
A situação só se inverteu na semana seguinte à exibição da entrevista quando sites e contas em redes sociais, muitos deles encabeçados por personalidades conservadoras e bolsonaristas, passaram a divulgar os crimes cometidos pela detenta que não haviam sido informados na entrevista conduzida pelo médico. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou numa rede social, na ocasião, que “enquanto a Globo tratava um criminoso como vítima, omitia os crimes por ele praticados”.
Na mesma postagem, Bolsonaro enalteceu “a internet livre” por disseminar a razão do crime e lamentou o veto à prisão perpétua na Constituição. A juíza Regina de Oliveira Marques, da 5ª Vara Cível do Foro Regional II de Santo Amaro, na capital paulista, a responsável pela sentença, tratou Suzy com pronomes masculinos em seu despacho, apesar de redigir o nome social da detenta duas vezes.
Para a magistrada, Varella e a TV Globo causaram constrangimentos ao pai do garoto assassinado por Suzy ao “veicular matéria que minimizava a condição de presidiário do assassino do filho do autor, menor, sem atentar ao dever de veracidade, ou seja, a investigação do porquê da prisão, com nítido abuso de direito de informação, já que não adotaram a diligência necessária na apuração dos fatos, tampouco a cautela que é recomendável”.