Filha de Luiz Carlos Samudio volta atrás e diz que não foi violentada pelo pai
O arquiteto Luiz Carlos Samudio pretende continuar lutando na Justiça pela guarda do neto Bruninho, filho do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes com a ex-modelo Eliza Samudio. Ele chegou a ficar com a guarda da criança por alguns dias, em Foz do Iguaçu, onde reside, mas a perdeu para a mãe de Eliza, Sônia Fátima Moura, em decorrência de processo que responde na Justiça por crime sexual.
Ele foi condenado a cumprir oito anos de prisão pelo crime de estupro contra a própria filha, que tinha 10 anos na época. Samudio recorreu duas vezes da sentença e o último recurso foi indeferido, por unanimidade, pelos desembargadores da 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná. Agora responde ao processo em liberdade e pretende recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para reverter a sentença.
Um dos advogados da defesa de Luiz Carlos, Cidnei Mendes Karpinski, apresentou documentos que podem reverter o caso na justiça. A suposta vítima do estupro assinou uma declaração de próprio punho inocentando o pai do crime. A declaração datada de 16 de julho diz o seguinte: “Eu M.P.S, 17 anos, residente em Foz do Iguaçu, filha de Luiz Carlos Samudio, declaro que meu pai é inocente das acusações no processo, que na época eu tinha apenas 10 anos e era muito nova e não entendia nada disso. Eu o declaro inocente”.
Karpinski tem escritório em Curitiba e atua em parceria com o escritório Barros e Diniz Associados, de Foz do Iguaçu. Em visita à redação do JdeB ontem, 4, o advogado explicou como está o trâmite do processo que ganhou repercussão nacional a partir do crime brutal praticado a mando do ex-goleiro do Flamengo.
O crime sexual
A denúncia sobre o crime sexual foi feita à Justiça em 2004, porém o crime teria sido praticado em 2003. Karpinski lembra que a defesa de Luiz Carlos Samudio foi feita por um advogado dativo (nomeado pelo Estado) deixando lacunas no processo. Segundo ele, o réu sempre negou a autoria do crime.
Luiz Carlos Samudio vivia união estável como Dulce Terezinha Pilger, com quem teve um filho L.C.J. No mesmo período, teve um caso extraconjugal com sua cunhada, Rosane Salete Pilger, e deste relacionamento nasceu M.P.S, que mais tarde viria a ser a vítima da agressão sexual. Separado de Dulce, casou-se novamente, com Sílvia Cordeiro de Oliveira, com quem teve outros dois filhos. As duas irmãs passaram a ter constantes brigas com o acusado e não permitiram consensualmente que ele reconhecesse a filha.
Testemunhas comprometidas
A defesa entende que as testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público eram comprometidas com os fatos. “Desta forma, mentiram descaradamente em juízo porque tinham raiva do apelante, por serem inimigos declarados. Todos têm interesse na condenação do apelado”, diz trecho da ação. Os advogados defendem a tese de que a materialidade (o exame de conjunção carnal foi positivo) é fruto da prostituição da jovem que na época acompanhava uma prima que se prostituía.
“Luiz Carlos residia com sua atual esposa e filhos, e quando a vítima ia passar o final de semana em sua casa, todas estas pessoas estavam presentes. Ninguém de sua família, esposa e filhos, viram qualquer fato ou indícios relativos àqueles descritos na denúncia”, sustenta o relatório do escritório Barros e Diniz Associados.
Advogados pedem para Flamengo reter dinheiro de Bruno
O advogado Cidinei Mendes Karpinski está confiante e acredita que será possível conseguir a absolvição de Luiz Carlos Samudio no STJ. A defesa também irá brigar pela guarda definitiva de Bruno Samudio. Além disso, a intenção é impedir que o goleiro Bruno receba a dívida de aproximadamente R$ 1 milhão, referente a salários atrasados, que o Flamengo tem com o atleta. “Já notificamos o Clube de Regatas Flamengo para que retenha os valores ou faça depósito em juízo até que o caso se resolva. O objetivo é evitar que o patrimônio do goleiro seja dilapidado antes que o filho de Eliza receba pensão alimentícia e a indenização que tem direito”, relata. E acrescenta: “Em momento algum durante o inquérito o Bruno questionou a paternidade, pelo contrário, indiretamente ele até reconhece que o filho é seu”.
Cronologia do Caso Bruno
O relatório do inquérito presidido pelo delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigação de Homicídios, instaurado em 24 de junho pela Polícia Civil de Minas Gerais, para apurar o desaparecimento de Eliza Samudio Silva, apresentou as seguintes conclusões:
* Eliza Samudio foi sequestrada no dia 4 de junho, no Rio de Janeiro, e permaneceu em cárcere privado, na residência de Bruno no Recreio dos Bandeirantes, na mesma cidade, passando algumas horas em um motel em Contagem, de onde seguiu para o sítio do atleta, em um condomínio em Esmeraldas, até ser levada para a casa de Marcos dos Santos, em Vespasiano, onde o plano de eliminá-la foi executado;
* Eliza Samudio foi assassinada na noite do dia 10 de junho, por Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como “Bola”, “Neném”, “Russo” e “Paulista”, contratado por Luiz Henrique Romão, vulgo “Macarrão”, a mando do atleta profissional Bruno Fernandes das Dores de Souza. Ela foi morta por asfixia mecânica na residência de “Bola”, em Vespasiano. O corpo foi destruído. Depois de esquartejado, parte foi consumida por cães e os restos ocultados;
* Além de Bruno Fernandes, Luiz Henrique Romão e Marcos Aparecido Santos, tiveram participação no crime: Flávio Caetano de Araújo, o “Flavinho”, Wemerson Marques de Souza, o “Coxinha”, Dayane Rodriques do Carmo Souza, Elenilson Vitor da Silva, Sérgio Rosa Sales, o “Camelo”, Fernanda Gomes de Castro e o adolescente J.
* Com exceção de Marcos Santos, indiciado por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha, e do adolescente J., os demais suspeitos foram indiciados por sequestro, cárcere privado, homicídio, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores.
* O adolescente J. foi denunciado pela participação nos crimes de seqüesh’o, cárcere privado e homicídio, com alegações finais feitas pelo Ministério Público, e aguarda pronunciamento do Juizado da Infância e Juventude de Contagem.
Provas: materialidade indireta
As conclusões do inquérito têm como base de sustentação os vestígios e indícios abaixo relacionados:
– O sangue encontrado na parte traseira da Range Rover (com DNA de Eliza Samudio). Dentro do veículo que a trouxe para Minas Gerais, a vítima foi atacada pelo menor, que desferiu-lhe três coronhadas na cabeça;
– O abandono do filho da vítima, pivô da contenda judicial por alimentos e reconhecimento de paternidade. O filho de Eliza Samudio, de quatro meses de idade, pivô da ação judicial de reconhecimento de paternidade, cumulada com alimentos, que foi o principal motivador do crime, foi subtraído por “Macarrão” e o adolescente J., posteriormente entregue por Bruno a Dayanne, para que essa tomasse conta provisoriamente. O bebê, batizado de Bruno, passou a ser chamado de Ryam Yure na tentativa de apagar quaisquer vínculos de relação com Eliza;
– A contratação para execução do crime de um homem de larga vivência policial preventiva e investigativa, dotado de conhecimentos de técnicas de combates urbanos e nas selvas, com domínio e manuseio de materiais explosivos;