Quantidade de material furtados poderia atravessar o Brasil, do Oiapoque, no norte, ao Chuí, sul.
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O furto de fios e cabos elétricos gera um enorme prejuízo todos os anos para concessionárias de serviços de comunicações, prefeituras e também construtoras de obras. O que poucos sabem é que existe uma lei estadual (17.015), aprovada ainda em 2011, que criou um Cadastro de Fornecedores de sucatas metálicas ferrosas e não-ferrosas no Estado do Paraná.
O problema é que na prática ela pouco tem funcionado. O Jornal de Beltrão apurou os preços do cobre, pelo qual se paga R$ 12 no quilo sujo (encapado) e R$ 28 limpo. Na maioria dos casos, depois do furto, eles queimam os cabos de luz, internet ou outros tipos para tirar o revestimento e deixar apenas o metal, cada vez mais valorizado pelo alto custo de mercado.
No Brasil, quase 100 mil ocorrências de furtos e roubos de fios de cobre foram registradas entre 2019 e 2020. Isso equivale a uma extensão de 4,6 mil quilômetros de fios. Para se ter uma ideia do que isso representa, essa distância é maior do que a dos extremos do país, do Oiapoque ao Chuí, que é de 4,2 mil quilômetros. Os dados são da Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra), que apontaram ainda uma alta de 34% ano passado em relação a 2019.
O problema afetou 6,7 milhões de usuários pelo país e os crimes representaram uma perda de aproximadamente R$ 1 bilhão em 2020 para as empresas do setor.
No Paraná, um levantamento da Secretaria Estadual de Segurança Pública mostra que, entre janeiro e maio de 2021 foram 4.544 ocorrências de furtos de fios elétricos no estado; 227 casos só em Cascavel, que está entre os municípios que lideram os casos desse tipo de caso. Além dos furtos em obras, também têm se tornado alvos frequentes dos ladrões as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e outros espaços públicos.
Apenas em 2021, uma única empresa de telefonia de Cascavel teve cabos furtados em 37 pontos diferentes e a quantidade de material variou entre 100 a 2 mil metros em cada ponto. Esse tipo de material é de fácil comércio. E, apesar da regulamentação, muitas pessoas acabam adquirindo o cobre sem saber a procedência.
Francisco Beltrão também sofre com este crime
O furto de cabos ocorre em praticamente todo o Brasil. O secretário de Administração de Francisco Beltrão, Antônio Carlos Bonetti, diz que o município também sofre com esse tipo de problema. “Principalmente nos parques públicos e nas obras. É muito permanente isso.” O soldado Marcelo Missio, Polícia Militar, participou de várias ocorrências de furtos de fios de cobre, inclusive de telefonia. “Teve várias situações em Francisco Beltrão, acredito que uns 1.000 metros de cabos de telefonia foram furtados.” Além do prejuízo para as vítimas, a prática oferece um alto risco para quem furta. Já houve casos de ladrões que morreram enquanto tentavam furtar cabos de energia.
Soldado Missio recorda de uma situação em flagrante de um rapaz furtando fios. “O pessoal da empresa de telefonia nos contou, apesar de não fazer o registro, que furtaram fios e explodiu a central que faz a distribuição das redes. O responsável até comentou que não sabe como não morreram [os ladrões], pois passam cabos de energia de alta voltagem”, revelou Missio.
Empresas são responsáveis pelo cadastro
Na prática, todos os comerciantes de materiais de reciclagem metálicos em geral, ferrosos e não ferrosos, inclusive baterias e transformadores, os desmontes, os ferro velhos, os recicladores e os sucateiros deverão manter um Cadastro de Fornecedores de sucatas metálicas de suas operações comerciais mensais.
Na Marrecas Cooperativa de Reciclados (Marcop) repassaram a informação que não trabalham com este tipo de material, ou seja, não há compra de fios, justamente para não fomentar este tipo de crime. Eles fazem a coleta dos materiais reciclados de toda Francisco Beltrão.
O Cadastro de Fornecedores deverá conter o nome completo, o endereço, número de documento de identificação de todos os fornecedores de sucatas metálicas ferrosas e não-ferrosas em geral e, em ambos os casos, a individualização das aquisições com a datação e pesagem em quilogramas de todas as compras efetuadas por fornecedor e este, por tipo de material.
Também determina a assinatura de um termo de responsabilidade garantindo a procedência dos materiais vendidos pelo fornecedor, sob pena de responder cível e criminalmente em caso de perdas ou prejuízos para os compradores, já que o criminoso não é somente a pessoa que furta o material, como também a que recepta.