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Francisco Beltrão
quinta-feira, 05 de junho de 2025

Edição 8.219

05/06/2025

Gaievski diz que seu sonho é ajudar a abrir novas Apacs

Vários municípios do Paraná estão dispostos a abrir Apacs para que os presos cumpram pena.

O Paraná tem 27 cidades interessadas no método adotado pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Barracão. A Apac atua como entidade auxiliar dos Poderes Judiciário e Executivo em atividades diretamente ligadas à execução e à administração da pena, com uma metodologia específica. Entre os elementos essenciais deste trabalho estão: a participação da comunidade, recuperando ajudando o outro, trabalho, religião, assistência jurídica, assistência à saúde, valorização humana, família, educador social, Centro de Reintegração Social, jornadas religiosas e mérito. Além de Barracão, a Apac de Pato Branco tem o projeto consolidado com 17 detentos. A primeira Apac surgiu em 1972, em São José dos Campos (SP), e está atualmente em 18 estados brasileiros e 20 países. 

Realeza 
O município de Realeza fundou oficialmente a Apac no final do mês de maio, mas, segundo o prefeito Milton Andreolli, algumas lideranças que participaram da audiência pública questionaram a instalação da Apac, pois nos bastidores há rumores de que o ex-prefeito Eduardo Gaievski, que está na Apac de Barracão, poderia ser transferido para o município. “Eu senti que o juiz queria que fosse unanimidade o projeto, que tivesse amplo apoio da comunidade, então teve algumas pessoas que se manifestaram contrárias. Estamos aguardando, a ideia é formar uma comissão agora e ir até Barracão conhecer o projeto e ver como funciona para depois voltarmos a discutir”, disse à reportagem do JdeB. O prefeito falou que ele próprio já conhece a Apac, que visitou a instituição, e reconhece o método diferenciado e a eficácia comprovada na recuperação de pessoas que cumprem pena. 

O bom exemplo de Barracão
Barracão começou atendendo 23 presos, em 2012, e hoje conta com 41, todos ex-detentos de penitenciárias. De acordo com a juíza Branca Bernardi, coordenadora da implantação das Apacs pelo TJ-PR, o método Apac conquistou o Estado do Paraná. “O preso sofre a privação de liberdade, arrepende-se do erro cometido, adota outros valores e outros princípios. Volta para a sociedade, cumprida a pena, um homem de bem. A principal vocação da Apac, portanto, é uma só: transformar infratores em cidadãos de bem. A Apac protege a sociedade”, escreveu em sua conta do Facebook.
De acordo com ela, o método Apac funciona, dá certo, recupera o homem para si, para a família, para a sociedade e para Deus. “Na penitenciária, 14% dos presos que voltam para o regime aberto não cometem mais crimes. Na Apac, 91 % dos presos que voltam para o meio aberto não cometem mais crimes. Na penitenciária, um preso custa quatro salários mínimos para o Estado. Na Apac, um preso custa um salário mínimo para o Estado.”
A magistrada informa que o método se concentra no futuro do detento e não no passado. A expectativa é que mais duas (em Alto Paraná e Jacarezinho, no Norte do Estado) sejam inauguradas neste ano e outras dez em 2017. Branca salienta que a Apac tem 100 pessoas na semiliberdade e nenhuma reincidência. Todos têm atividades o dia todo na Apac de Barracão, levantam cedo, preparam as refeições e cuidam da limpeza e organização de ambientes individuais e coletivos. Eles também ganham oportunidade de reduzir a pena através de leitura e trabalho.

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Gaievski
O preso mais famoso da Apac de Barracão é o ex­prefeito de Realeza e ex­assessor da Casa Civil do Governo Dilma, Eduardo Gaievski, condenado em primeira instância a sete processo que, somados, dão mais de 100 anos de prisão. Ele responde a denúncias de assédio, abuso sexual, estupro de vulnerável, estupro presumido e estupro qualificado, etc. Está preso desde agosto de 2013 e cumpre pena na Apac. Em um documentário produzido pelo jornalista Carlos Gruber, da Vision Art Produções, sobre a Apac de Barracão, Gaievski conta sobre sua vida dentro do sistema de ressocialização. Ele começa falando da experiência de ter passado por dois presídios e três penitenciárias. “As celas são cubículos, como em Curitiba onde eu fiquei recluso em uma cela chamada cela de castigo, mas eu não tinha feito nada de errado. É uma cela fechada, escura, sem iluminação, sem ventilação, só água. Quando você é transferido de um presídio pra outro, fica 30 dias recluso, sem visita, sem acesso a nada, é o período de adaptação, é uma tortura psicológica.”
Ele também reclama da situação humilhante pela qual passam os familiares dos presos nos presídios. “A minha mãe tem 76 anos e a minha esposa tinham que tirar toda a roupa e se expor diante dessa situação vexatória por falta de equipamentos de Scanner pra fazer a revista.”
Em outro momento ele ressalta a importância do contato familiar para o preso. “A visita íntima começa às 18 horas e ela (esposa) sai em torno de 15 minutos pras 6 horas do dia seguinte. Então, ela tem todo um período pra ficar junto com seu familiar, seu esposo e isso aproxima, traz diálogo, traz respeito, dignidade tanto pra esposa quanto pro recuperando.”
No método Apac, as visitas íntimas começam com intervalo de 15 em 15 dias se o detento apresentar bom comportamento e, segundo a coordenação, o momento não é apenas sexual, mas para colocar em dia toda a situação familiar. 

Leituras ajudam a reduzir a pena
“Quase 50 livros já li, porque a leitura possibilita, quando você está cerceado da liberdade, você viajar, criar sonhos na tua mente, além disso também faz que você tenha redução da pena através da leitura.” Um livro lido, resumido e apresentado equivale a quatro dias de redução da pena. 

Sonho
“Quando eu sair da Apac, meu sonho é ajudar a abrir novas Apacs para salvar muitas pessoas que estão sofrendo nos presídios, comarcas, que são tratadas como depósitos de gente. Esse é o chamado, minha missão que Deus me possibilitou, esse meu compromisso de fazer que outras famílias não sofram essas humilhações dos presídios e possam pagar suas penas de decente e sair com dignidade, pela porta da frente da Apac.” 

Disputa por oxigênio
Outro preso, Márcio José Raimundo, que ficou preso em minipresídio, delegacia e contêiner, diz que viver preso muitas vezes é até uma disputa por oxigênio, “porque quando tem pouca ventilação, muitas pessoas aglomeradas no mesmo ambiente, fica difícil até de respirar”. Ele conta que ficou num contêiner feito de concreto e aço onde a ventilação é complicada, “então quando tá o tempo de sol lá dentro é infernal e no frio é gelado. É uma fábrica de loucos, uma fábrica de monstros”. 

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