
Um deputado invicto. Disputou sete eleições e em todas foi eleito*. Trata-se de Nelson Meurer, deputado federal eleito em outubro para seu sexto mandato. A vida política começou como prefeito de Francisco Beltrão, com a vitória de 1988. Mas ele observa que seu trabalho na Cibrazem, desde 1965, é que deu experiência e condições de pleitear um sucesso na vida pública.
Como tem feito desde 1995, seu primeiro ano em Brasília, Meurer promete ser um deputado de resultados, apoiando quem estiver na Presidência da República e ajudando os municípios, sendo o principal representante da região na Câmara dos Deputados. “Hoje, passados aí 20 anos, são mais de 600 milhões de reais que o deputado Nelson Meurer viabilizou pra todos os municípios do nosso Sudoeste e fora do Sudoeste também”, disse.
Mas Meurer está com 72 anos e encerrara o próximo mandato, em 2018, com 76. Ele cogita se aposentar da política eleitoral.
JdeB – Deputado, eu lembro a primeira vez que o senhor foi eleito, e numa palestra no Marrecas o senhor falou que ia ser um deputado em resultados. Isso se confirmou na sua carreira?
Nelson Meurer – Um deputado, pra ter resultado, tem que escolher a área de atuação que ele vai exercer. Se ele ir pro Congresso e quiser fazer tudo, acaba não fazendo nada. Então foi isso que eu me propus, por ter sido prefeito de Francisco Beltrão, saber a dificuldade dos prefeitos, eu me propus a ajudar, e a nossa região carente até então, até 94, não recebia recurso nenhum daqueles que eram eleitos pra representar a nossa região lá em Brasília. Eu me propus realizar trabalho de resultado através da minha atuação com os municípios, com nossos prefeitos, nossos vereadores, nossas lideranças.
Deu certo?
Foi isso que eu fiz. Hoje, passados aí 20 anos, são mais de 600 milhões de reais que o deputado Nelson Meurer viabilizou pra todos os municípios do nosso Sudoeste e fora do Sudoeste também, porque você tem que buscar votos fora da nossa região, porque só na nossa região nós não conseguimos eleger um deputado federal.
Recursos com destaque para Beltrão.
Francisco Beltrão, por exemplo, pelos valores atualizados hoje, seriam mais de 100 milhões de reais que o deputado Nelson Meurer viabilizou durante todo esse tempo e é isso que eu pretendo continuar realizando, até o último momento, ser o representante do Sudoeste lá em Brasília.
O senhor seguirá como deputado?
Tudo vai depender. Não sei se essa foi a minha última eleição, talvez eu esteja encerrando a minha carreira política. Como são seis mandatos, um mandato de prefeito, são sete mandatos, tenho 72 anos. Encerro esse mandato com 76 anos, eu acho que você vai ter que pensar muito bem pra poder, vamos dizer assim, continuar essa luta, né, cada vez mais difícil. Mas eu vou anunciar, quando for necessário, a todo povo do Sudoeste, a todos os prefeitos, pra que nós possamos preparar alguém que venha substituir o deputado Nelson Meurer nos próximos anos, representando lá no Congresso Nacional a região.
O senhor falou dos recursos que vieram para a região nesse tempo todo. Em relação à votação, o senhor achou que foi o esperado, ficou com menos, com mais, ou é importante estar eleito e pronto?
O importante é tá eleito. A eleição, você sabe, o Sudoeste sozinho não elege deputado, vai ter que buscar alguns votos fora pra poder confirmar essa eleição. Essa foi atípica.
Por quê?
Em 2002 eu tive uma redução de votos em Francisco Beltrão em virtude do problema daquela lei trabalhista que foi votada no Congresso, que era uma lei sem dúvida nenhuma importante e moderna pro país, mas os trabalhadores dos sindicatos não me entenderam e fizeram, evidentemente, uma campanha contra, achando que eu tinha votado contra o interesse do trabalhador, enquanto aquilo não era verdade, mas tudo bem. Daí teve aquela redução e foi justificativa. Agora, neste ano, eu não fui muito bem compreendido naquele momento da entrevista para a Rádio Onda Sul [no dia da eleição, 5 de outubro]. Não é possível numa eleição, por exemplo, cinco mil votos brancos e nulos, cinco mil eleitores anularam o voto, isso é eleitor que não tem esclarecimento. Isso é eleitor que presta um desserviço para o município que precisa de pessoas no Congresso em Brasília. É importante um deputado federal representando a nossa cidade, brigando pela nossa região lá em Brasília.
Até porque, independentemente do partido do prefeito, o senhor teve votos em todos os municípios, então não dá para boicotar.
Não vou boicotar, nunca fiz até hoje, e no final da minha carreira política eu não vou fazer. Vou atender seja quem for o prefeito, desde que seja uma reinvindicação justa, que atenda à comunidade, vou fazer o esforço pra liberar esses recursos.
Mas tem muita gente de fora que faz voto aqui…
Candidatos que nem conhecem Francisco Beltrão fazer 1.600 votos, outra fez mil votos, outro 500, outro quase 500 votos, um, de Maringá, fez quase 300 votos. Eu acho que, pelo trabalho que eu fiz por Beltrão, o sacrifício, a luta, brigando por essa região, jamais um deputado federal buscou os recursos que eu consegui pra Francisco Beltrão durante todos esses anos, acho que eu merecia uma atenção até melhor do nosso eleitor. Mas eu agradeço os 17.247 votos que eu recebi em Francisco Beltrão, desses beltronenses que reconheceram o trabalho do deputado Nelson Meurer, e sem dúvida nenhuma agradeço e digo a esses eleitores que vou trabalhar, vou lutar com muita dignidade pra honrar todos esses votos, buscando os recursos pra que Francisco Beltrão possa receber do governo federal e continuar crescendo como vem crescendo, ajudando o prefeito seja ele quem for, de que partido for.
E quem estiver na presidência da República.
Lógico. Vou ajudar, trabalhar, vou colaborar com o próximo presidente da República, seja ele quem for, se votei ou não pra ele, sendo presidente a partir de janeiro do ano que vem eu tô do lado dele trabalhando. Quero honrar com dignidade a confiança dos 106.478 eleitores que me deram mais uma vez a oportunidade de representar lá em Brasília.
Por que o senhor acha que os de fora ganham os votos?
Há a necessidade de uma reforma política, porque falam tanto dos políticos, o político é corrupto, mas muitas vezes, na época da eleição, vem o eleitor lá, não tanto o eleitor, vem um cabo eleitoral cobrar 30 litros de gasolina pra pôr o adesivo, e aí o que acontece? Aí a campanha fica muito cara, o eleitor pensa que ele tá prestando um serviço ao seu município. É complicado, eu não sei o que vai acontecer numa reforma partidária, pra você mudar essa cultura do eleitor, uma grande parte dos eleitores brasileiros que não analisam o trabalho, não analisam a importância de ter um deputado federal ou mesmo um deputado estadual.
Pois é, falam tanto em reforma política…
Reforma política é um processo eleitoral que, sem dúvida nenhuma, tem que acontecer pra melhorar a qualidade da eleição, isso é importante, eu acho que a reforma política é a reforma das reformas, pra depois vir a reforma tributária e outras. É muito difícil acontecer essa reforma política no Congresso, porque eu estou lá há 20 anos e sempre se discute. Até o momento que foi aprovada, por exemplo, aquela cláusula de barreira e os partidos pequenos se juntaram e não aceitaram. Se tivesse acontecido, teria hoje seis, sete partidos, mas nós temos mais de 30 partidos. Isso torna tudo muito difícil.
Tem várias propostas de reforma, mandato de cinco anos, financiamento público de campanha, voto em lista…
Seria importante o mandato de cinco em cinco anos com, vamos dizer, eleição geral, de vereador a presidente da República. Seria uma reforma política. Tem no Supremo Tribunal Federal uma lei que tá proibindo as empresas de fazer doação aos candidatos. Tudo errado, porque aí as empresas vão fazer doação não-oficial e aí vai tudo pro “não contabilizado”, aí não adianta nada, piora a situação. Eu sou favorável ao financiamento público de campanha, mas aí tem que ter a lista fechada, sem a lista fechada não tem como você fazer. Se tiver lista fechada o candidato não trabalha mais individualmente pra ele, trabalha pro partido, trabalha, por exemplo, pro PP, número 11, e o número 11 que vai receber uma quantidade de votos, e de acordo com a convenção vai eleger os primeiros colocados da lista. Mas aí vem o problema mais sério: quem vai ganhar isso? Vão ser os milionários do país, porque na convenção vão comprar 45, 50 convencionais aí vai pro topo da lista. O que eu acho que tinha que ter é a cláusula de barreira, reduzir pra uns seis, sete partidos. Outra coisa: deveria reduzir a campanha pra 30 dias, pra evitar gastos e podendo dar o dobro de espaço na televisão e no rádio, em vez de ser 30 segundos, dá um minuto. Mas tudo bem, é difícil de mudar.
O senhor iniciou sua carreira política como prefeito e depois mandatos de deputado federal.
A primeira eleição que eu disputei foi em 1988 e fiquei quatro anos, naquele tempo não tinha reeleição, fizemos o sucessor [João Arruda, em 1992], porque se você faz o sucessor é porque realmente você fez um bom trabalho e aí eu fiquei fora da política dois anos e me candidatei diretamente a deputado federal em 1994. De lá pra cá estamos aí prestes a iniciar o sexto mandato.
Pois é, o senhor esteve no Executivo no início de sua carreira e depois no Legislativo. O que é melhor, deputado?
Olha, eu acho que os dois são importantes.
O senhor pensa em voltar um dia a ser candidato a prefeito?
Não, não penso, porque eu acho que meu trabalho eu já realizei como prefeito de Francisco Beltrão, se passaram aí mais de 20 anos, as coisas mudaram da minha época de prefeito e agora, as leis mudaram. Mas se o deputado Nelson Meurer tá tendo objetivos lá em Brasília, como deputado, por que ele vai sair de uma situação que tá dando resultado pra simplesmente disputar pra prefeito? Só pra dizer que encerrou a carreira? Provavelmente, como eu falei, esse meu sexto mandato é meu último mandato, devo encerrar a carreira ao término desse sexto mandato, mas é lógico que vou colaborar, vou preparar tudo pra que outros tenham condições, deve surgir alguém que possa dar sequência a esse trabalho que nós estamos dando e vamos encerrar com 24 anos de luta.
O senhor pode lembrar como foi o convite para ser candidato a prefeito?
Eu entrei na Cibrazem em 1965, fui gerente por todos esses anos e depois fui presidente da cooperativa, fui presidente do Sindicato Rural, e eu sempre participava da política, sempre no mesmo grupo, sempre naquela mesma linha. Em 1982 eu fui lembrado pra ser candidato a prefeito, mas eu achei que eu não tava preparado ainda.
Mas em 1988…
Em 1988 surgiu novamente a oportunidade e eu achei que eu estava preparado, a pedido dos nossos companheiros e de toda aquela turma, fui candidato, uma eleição difícil, teve quatro candidatos, inclusive o Celso Almeida, que era do mesmo grupo nosso e ele acabou se dividindo e saindo candidato. Tinha o Zeca Wigineski e o Almirante Melati. Quatro. Eu acho que foi um trabalho que valeu a pena.
Tanto que se elegeu deputado em 1994.
Eu acho que a conquista da primeira eleição de deputado federal dependeu muito do meu trabalho na Cibrazem. Lógico, evidentemente, também Francisco Beltrão, mas todo o meu trabalho no Sudoeste do Paraná. Eu devo ter feito 13 mil votos pra deputado federal em Francisco Beltrão e tive que buscar o resto fora e consegui, vão ser sete eleições sem perder nenhuma, invicto! Devo deixar a carreira política invicto, mesmo com a torcida de muita gente contra, mas não conseguiram me vencer nessas sete eleições (risos).
O senhor destaca algum mandato em especial que foi mais marcante?
Eu não votei pro Fernando Henrique Cardoso em nenhuma das eleições dele [1994 e 1998], a primeira eu votei pro Maluf. Mas eu apoiei o Fernando Henrique Cardoso durante os oito anos e tive a compensação, o reconhecimento do governo quando busquei aqueles recursos importantes para atender os municípios e ajudar os nossos prefeitos a realizar um bom trabalho. Não votei pro presidente Lula, mas ajudei o presidente Lula e também tive o reconhecimento. Mas foi nesses quatro anos, foi nesses últimos quatro anos do mandato atual, da presidente Dilma, que eu recebi mais recursos do governo federal pra atender os municípios que eu represento.