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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Rapaz que levou gravata em supermercado diz que agressão foi ato de preconceito

Rapaz agredido em supermercado avaliou que sentiu que sua classe social e sua cor da pele foram real motivo da confusão.

Jackson reapareceu ontem em Francisco Beltrão.

Jackson de Melo Fruzinda, 26 anos, o homem que foi agredido no estacionamento de um supermercado de Francisco Beltrão na sexta-feira, 8, concedeu entrevista ontem para a Rádio Educadora e relatou sua versão sobre os fatos. O caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais no último final de semana.

O rapaz é morador em situação de rua e não tem familiares no município. Como não consegue encontrar uma estabilidade em um lugar, contou que se muda de cidade com bastante frequência. Sobrevive pedindo comida, dinheiro e faz pequenos serviços.

O jovem relatou que está com medo desde que a confusão aconteceu e teme pela sua vida. Segundo informou, alguém colocou fogo, na noite de segunda-feira, 12, em seus documentos e pertences pessoais, usados para passar as noites nas ruas.

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Ele também explicou que não estava desaparecido, conforme divulgado pela imprensa. “A partir do ocorrido me levaram para o batalhão, eu com a cabeça aberta, levei quatro pontos, procurei um senhor que é muito amigo meu, daí ele me cedeu um espaço. Eu demorei dois dias e meio pra conseguir levantar, porque eu não tava nada bem. Aí ontem [segunda] eu passei onde eu guardava todas minhas coisas (colchonete, coberta, roupas, carteira com documentos] em uma garagem num estacionamento perto da rodoviária. Hoje [ontem] passei por ali e estava tudo queimado, virado em carvão.”

Ele se disse muito debilitado, acusou dois fios de costela machucados, cortes que levaram dois pontos na perna e quatro na cabeça, consequências da confusão no supermercado.

 

Problemas com a família
Jackson informou que não tem muito contato com a família desde que ocorreram alguns problemas devido a sua homossexualidade, então ele preferiu se afastar. “Minha família aceitou, mas de um jeito; minha família é muito sistemática, principalmente pai e irmãos. Mas eu fico bem em saber que eles estão bem e eu tô bem também. Não pretendo retornar pra Foz e nem pra próximo da minha família.” Ele falou que vai continuar passando seus dias na Praça da Liberdade em Francisco Beltrão.

 

Confusão no mercado
De acordo com ele, no dia da confusão tinha ido ao estabelecimento para comprar um produto. “Tanto eu quanto os meninos que ficam na praça, a gente tá sempre ali [no super], então todo o pessoal conhece a gente, tanto seguranças como as caixas.”

Jackson confirmou que estava sem máscara e que usou a camiseta para cobrir nariz e boca. “Cheguei próximo à porta, não entrei, pedi pra menina que fica empacotando pegar pra mim o produto. Eu tinha R$ 7 na carteira, eu ia comprar um produto. Nesse período de tempo que a moça foi fazer isso, chegou um dos seguranças e começou a pedir por que eu estava ali e que não podia ficar sem máscara.”

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Jakson tentou argumentar que estava numa distância longe das pessoas e que não contaminaria ninguém. “Aí ele me xingou, que eu além de morador de rua era bocudo, e nesse momento foi quando começou a sair as filmagens que me mostram num espaço da porta pra dentro.”

Segundo ele, a discussão teve sequência e então outra pessoa — o agente penitenciário André Cavacini — chegou e aplicou a gravata. “Ele me abordou como sendo uma autoridade, como agente penitenciário, que estava em serviço e que se precisasse iria me imobilizar.”

Jakson alegou que, além da gravata, levou uma tocada na cabeça e dois “coices” nas costelas.

Contou que também se alterou quando sentiu que sua classe social e sua cor da pele passaram a ser o real motivo da confusão e não a falta da máscara.

“Naquele momento pra mim aquilo foi um ato de preconceito. Eu me alterei, falei, mas em momento algum cheguei a agredir.” Jackson disse que nos 7 anos que vive em situação de rua nunca tinha sofrido agressão. “Eu temi pela minha vida e ainda temo.”

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