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Adaltro Rodrigues de Jesus, 37 anos, trabalha há três anos exclusivamente com entregas de moto. Ele começou em 2012, parou e voltou em 2017 para ter uma renda extra. Em 2018 foi demitido da empresa que trabalhava e o serviço de entregas se tornou sua única profissão. Ele conta que fez curso de motofrete, abriu MEI (Microempreendedor Individual) e fez o seguro da motocicleta. Faz entregas de flores, açaí, condicional (roupas) e lanches.
“É uma profissão bem arriscada, acidentes são constantes, além do risco de assaltos, que já ocorreram com amigos meus.” Adaltro conta que os motociclistas estão muito expostos, inclusive a prejuízos financeiros. Ele recorda que já sofreu acidentes, só com danos materiais, “mas não teria dinheiro pra pagar o prejuízo do carro, nem consertar a moto pra poder voltar a trabalhar. Fui eu que bati atrás de outro carro, pararam na via pra outro sair da garagem, não percebi e bati atrás, sorte que estava devagar, se não a coisa seria mais séria.”
Na opinião dele, nem sempre a culpa é do motociclista. Cita que já percebeu vários acidentes somente entre carros, apenas com danos materiais, em que os motoristas se acertam ali mesmo no local e não gera nenhuma repercussão. “Porém quando envolve moto, na maior parte das vezes o motociclista fica ferido, há ambulância, polícia, pessoas tirando fotos, vira notícia, por isso a repercussão dos acidentes com motociclista. Há casos, inclusive, em que os motoboys ficam caídos e o motorista foge do local.”
Adaltro relata que para trabalhar com entregas é inviável financeiramente respeitar todas as regras de trânsito. “Andar no corredor por exemplo. Até um tempo atrás ninguém dava passagem por ser proibido, moto deve ocupar o mesmo lugar que um carro etc., porém essa mentalidade aqui em Beltrão vem mudando bastante, as pessoas estão mais conscientes da nossa pressa, muitos motoristas já abrem passagem, colocando o carro um pouco pra direita, assim podemos passar e fazer a entrega com mais rapidez.”
De acordo com ele, apesar de não existir uma estatística oficial, a maioria dos acidentes com motociclistas ocorrem por volta do meio-dia com entrega de marmitas e à noite, mais próximo aos finais de semana, quando a quantidade de entrega é maior. “Todos querem praticamente no mesmo horário, fica difícil atender a todos, então a solução é ‘enrolar o cabo’ (acelerar até o fim). Qualquer deslize pode resultar em acidente.” Há motoboys que entregam cerca de 30 pedidos por noite.
Custo alto para trabalhar
O motoboy ressalta que o custo para trabalhar é muito alto, principalmente com os aumentos sucessivos da gasolina. “Cliente paga oito reais por exemplo, mas parte fica com o posto de combustível, oficina, pneu, óleo, freios etc. Todos esses gastos são retirados da taxa de entrega, então o que sobra pra sustento da família é pouco. Pra compensar tem que fazer mais entregas, tem que ser mais rápido, e torcer pra ninguém furar a preferencial, ou mesmo não esquecer e você furar uma preferencial ou sinal vermelho, que na ânsia de voltar logo e pegar outra entrega acaba se distraindo.”
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Conforme disse, tem estabelecimentos em que se faz 35 entregas de marmitas em duas horas e meia por motociclista. “Isso no pico do trânsito meio-dia, pra esse serviço só consegue quem já tem experiência, conhece bem as ruas. Uns dias atrás fui substituir um colega, fiz 22 entregas, mais de 120 km das 19h até as 23h, só dentro da cidade, nisso foi mais de 40 reais apenas em combustível demais desgaste.”
A moto que ele comprou zero quilômetro em menos de dois anos já está com 70 mil quilômetros rodados. Já se foram três baterias, seis jogos de pneus (R$ 600), incontáveis litros de óleo (R$ 53 cada), quatro kits relação, mais de 25 pastilhas de freio (R$ 40 cada), etc. “A moto dura bem, mas tem que levar a manutenção em dia. Os gastos maiores são com óleo do motor, que pra aguentar tem que ser do bom.”
Para ele, os estabelecimentos também deveriam remunerar melhor, mas fazem o oposto. Quanto menor a taxa de entrega, melhor. Isso faz com que os entregadores corram contra o tempo para compensar com mais entregas. Com o aumento do desemprego na pandemia e o setor de entregas em alta, muita gente entrou na profissão de motoboy. “A gravidade dos acidentes que vem acontecendo se deve na maioria dos casos à falta de experiência, somado à baixa valorização do profissional, porque motoboy é uma profissão, tem que ter conhecimento. Hoje qualquer um que aparece com uma moto vira entregador, não conhece a cidade toda, entrega dependendo do GPS, e perde tempo nessa pesquisa, tempo que depois tem que recuperar aumentando a velocidade.”