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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

Mulheres denunciam assédio nas caminhadas

Relatos de importunação sexual durante prática de exercícios físicos têm preocupado.


É incontestável o direito de todos de usar as áreas públicas para a prática de exercícios físicos. Tanto no início da manhã quanto no final de tarde e à noite, em Francisco Beltrão, uma cidade com muitos parques é possível acompanhar diferentes pessoas correndo, casais caminhando e famílias de bicicleta. Porém, nos últimos dias, alguns casos de importunação sexual têm sidos relatados.

A atleta profissional Cienara Candioto, em seu Instagram, no domingo, 23, denunciou a importunação sexual que uma amiga sofreu (que deseja manter o anonimato), no bairro São Cristóvão, em Francisco Beltrão. O fato ocorreu na semana passada, enquanto a mulher praticava atividade física, uma corrida, próximo às 6h da manhã. Segundo Cienara, quando ela denunciou a situação, muitos foram os questionamentos, como: “Por que ela estava correndo às 6h da manhã?” e “Por que ela estava sozinha?”.

Infelizmente é comum, primeiro questionar a postura feminina e não o ato perpetrado – em geral- por homens. Porém, dessa forma, acaba-se incentivando o silenciamento da vítima. “E dentre todos esses assédios, a gente percebe que muitas mulheres acabam desistindo do esporte, sem procurar ajuda por anos, não relatam o que aconteceu e acabam desistindo por medo, levam esse trauma para a vida delas”, preocupa-se Cienara, que também revela que já sofreu por diversas vezes importunação sexual enquanto corria na rua.

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Pesquisa aponta que 60% das entrevistadas afirmam receber olhares insistentes e cantadas inconvenientes. Foto: Freepik

A atleta profissional alerta para outra limitação enfrentada pelas mulheres que querem correr, que é a gestão do tempo. Segundo ela, quando se chega em uma largada de corrida, principalmente, em maratona se vê poucas mulheres. Porque, para se treinar distâncias longas é preciso de tempo, o que muitas vezes, mulheres mães, trabalhadoras, não têm. “O único horário que elas dispõem seria às cinco, seis horas da manhã. E, muitas vezes, por medo de sofrer algum tipo de violência, elas acabam desistindo”, alerta Cienara.

“Tenho medo de ser atacada de novo por vingança e que seja pior”

A reportagem do Jornal de Beltrão entrou em contato com a amiga de Cienara para saber como foi o momento em que foi atacada por um homem desconhecido enquanto corria. Ela pediu anonimato, aqui chamada de Maria, porque: “Tenho medo de ser atacada de novo por vingança e que seja pior”. Seu medo é justificável, pois a polícia tem tentado identificar o suspeito. Contudo, quem tem acesso à assinatura exclusiva do site do Jornal de Beltrão pode ver o vídeo que mostra o momento da importunação, sem identificar a vítima.

Maria, logo no início de seu relato, explica que, apesar de ter recebido avisos sobre possíveis perigos, ela só tem disponível às seis horas da manhã para prática de exercícios devido à sua rotina de trabalho. “Tem treinos que são mais longos, que precisam de mais tempo, e que se eu fosse fazer depois do meu serviço, eu não teria energia, não teria tempo, às vezes tenho outros compromissos. Para mim, a corrida não é só um esporte, é uma terapia”, endossa.

Há três anos, Maria começou a correr, e isso se tornou um momento importante para a sua qualidade física e mental. Segundo o site da Marinha Brasileira, esse esporte é capaz de aliviar o estresse e reduzir os sintomas de depressão e ansiedade. “Ao introduzir essa prática em nossa rotina, a sensação de bem-estar pode ser prolongada, melhorando a percepção de qualidade de vida”, incentiva a instituição.

“Eu não acho que seja um horário tão cedo, cinco e trinta da manhã, tem um monte de pessoas que entram no serviço às sete horas e esse horário estão indo da academia. […] Naquele dia, eu estava fazendo o meu percurso, e quando estava passando perto do posto de combustível, eu vi essa pessoa que estava vindo na direção contrária correndo, super rápido. […] Me chamou atenção porque ele estava todo de preto e de boné, mas passou super rápido”, conta Maria.

Ela continuou correndo, mas lembrou que há alguns dias tinha percebido uma pessoa saindo de uma das ruas paralelas, andando, e com as mesmas roupas. “E não é comum ver pessoas andando, é mais comum ver pessoas correndo”, completa. Quando Maria deu a volta na rotatória, ela o avistou, mas não se preocupou. “Na hora que ele passou, aconteceu isso, não sei se ele tentou me segurar, ele vira e dá um tapão na minha nádega, acho que ele queria fazer alguma outra coisa”, relembra.

O que mais preocupou Maria foi a força que o homem usou, como se fosse desproporcional para quem quisesse só dar um tapa. “Agora, por mais que eu não queira aceitar, eu sinto medo no meu treino”, desabafa Maria.

Cienara, atleta profissional, ainda informa que depois de divulgar o abuso da amiga, outras duas mulheres relataram situações semelhantes. “Uma que ele até mudou a rota, mas ela percebendo o movimento conseguiu sair da situação, era com as mesmas características, a outra sentiu desconforto com olhares quando cruzou com ele, estava com a mesma roupa, boné. A primeira fez o percurso da Sanderson e a segunda no Canei”, alerta.

Essa reportagem contém impressões da jornalista, o que não reflete necessariamente a opinião do jornal.

Há cinco anos, importunação sexual é crime no Brasil

Em 2023, o Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva com apoio da Uber realizou pesquisa sobre Percepções e experiências das mulheres quando se deslocam pelas cidades. Para o estudo nacional online participaram 1.618 mulheres, com mais de 18 anos, e a pesquisa tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Sobre a porcentagem que as mulheres já vivenciaram em seus deslocamentos pelas cidades, delas 71% percorrem a pé e 56% de ônibus. Os dados são impressionantes, pois 60% das entrevistadas afirmam receber olhares insistentes e cantadas inconvenientes, e 27% dizem ter sofrido importunação/assédio sexual, sendo  que, 12% já sofreram agressão física.

Mesmo com lei, no Brasil, os números de importunação relatados são expressivos. Sancionada em setembro de 2018, a Lei nº 13.718 é caracterizada a importunação como a realização de ato libidinoso na presença de alguém de forma não consensual, com o objetivo de “satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, ou seja, enquadra ações como beijos forçados e passar a mão no corpo alheio sem permissão. O infrator pode ser punido com prisão de um a cinco anos.

Para denunciar ligue:

Polícia Militar – 190

Delegacia da Mulher – (46) 3524-5305

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