Política
A redemocratização no Brasil foi coroada em 1989, quando a população pôde votar para presidente da República. Naquela década, também aconteceram eleições para governadores e prefeitos das capitas e municípios de segurança nacional. E mais: foi eleita uma constituinte, que concluiu a nova Carta em 1988.
Não foram só eleições. Instituições como o Ministério Público, a autonomia dos poderes da República e a liberdade de imprensa se consolidaram desde então. Os direitos do consumidor, com o Procon, e statutos em defesa da vida e do meio ambiente, por exemplo, ganharam corpo na sociedade democrática brasileira; a saúde e a educação públicas se estenderam para todo o país.
Mas e agora, nesses tempos de ataques entres os poderes, de manifestações nas ruas que divividem a sociedade, e quando alguns setores minoritários pedem uma quebra na ruptura institucional, a democracia corre risco no Brasil?
O Jornal de Beltrão escutou quatro personalidades da região, que acompaham o cenário nacional e têm opinião. Vamos conferir.
Bruno Savarro, acadêmico de Direito no Cesul de Francisco Beltrão: “Afirmar que o Brasil está na iminência de um rompimento democrático é um tanto quanto insano, pois a ala que pode tomar o poder usando a força e instituir uma ditadura é a militar que, convenhamos, não está apoiando o presidente a ponto de fechar o STF e o Congresso Nacional para “deixar o homem trabalhar”. Entretanto, não estar na iminência não significa que não existe o risco, acredito que, sim, há risco de a democracia ser jogada para escanteio.
Camilo de Toni, advogado em Realeza: O que eu vejo atualmente é que temos um presidente bem intencionado, porém despreparado para exercer tão importante cargo. Se ele não manda nem nos filhos, ou os protege mesmo quando cometem erros, como poderia ser um bom comandante de nossa nação? O que me conforta, em caso de um eventual golpe, que já adianto, sou totalmente contra, é o fato de que existem, nas fileiras de nosso Exército, pessoas muito mais capacitadas que o atual presidente para comandar os destinos de nosso querido Brasil. Aí reside a certeza de que, em caso de golpe, o primeiro a ser expulso do poder é o Bolsonaro, porque, como já disse, totalmente despreparado para exercer a Presidência da oitava economia mundial. Nós brasileiros merecemos coisa melhor. Não basta ter boas intenções, é necessário capacidade para implementar boas práticas administrativas. Digo mais, encerrando: se não fosse o atual ministro da Economia, nós já estaríamos no buraco.”
Loidi Ferst, jornalista em Clevelândia: “Entendo que a democracia no Brasil não corre risco. As instituições democráticas no Brasil são sólidas, e em em outros momentos de turbulência, como as tais jornadas de 2013, dos black bocks, reforçaram essa firmeza. E os brasileiros defendem, valorizam e estão interessados na democracia, pelo menos a grande maioria; não há clima para ruptura”.
Wagno Antônio da Silva, professor em Francisco Beltrão: “Ideologicamente me vejo numa posição de centro-direita, defensor da democracia, porém vejo que o presidente, que elegemos democraticamente, está colocando, sim, essa democracia em perigo, demonstrando claramente a falta de preparo para governar, o que não era de se esperar de alguém que atuou por sete mandatos consecutivos no Congresso Nacional. A manutenção da democracia depende, mais do que nunca, de nos posicionarmos acima de ideologias políticas, independentemente de ser de esquerda ou direita, e juntos combatermos o extremismo radical”.
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Wagno: “Quando votei no atual presidente, eu tinha o conhecimento de sua personalidade forte e por vezes um tanto truculenta, mas já tivemos outros governantes com perfil semelhante e isso não seria impedimento para votar numa pessoa que eu acreditava ser capaz de coordenar um movimento a fim de reerguer nossa economia e impulsionar o desenvolvimento do país. Após a eleição, o presidente vem numa escalada crescente, incentivando atos nada democráticos, movimentos que pedem a volta da ditadura — e aí entra numa contradição, pois os próprios movimentos seriam proibidos num regime ditatorial! —, interfere com grandes evidências na Polícia Federal, a fim para evitar investigações de familiares e aliados. Quando o presidente ameaça a concessão da Globo, é perceptível que nas entrelinhas é uma ameaça de censura a toda imprensa; quando vai em atos que pedem fechamento do STF, por exemplo, está de certa forma apoiando e incentivando ações antidemocráticas. Ele é o presidente da nação, de todos os brasileiros, deveria ser o primeiro a zelar pela consolidação da democracia e da independência dos poderes”.
Bruno: “Cito uma frase do grande Winston Churchill: “A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”. Ele não podia estar mais correto, a democracia é um sistema político com diversas falhas, algumas grotescas, outras sem tanta importância, mas fato é: mesmo com tais falhas, ainda assim não existe nenhum regime político capaz de ouvir a maioria, que é o que a democracia faz — ou, em tese, deveria fazer. Acredito que é função de todo líder defender incondicionalmente a democracia e suas instituições. Lamentavelmente, no Brasil estamos podendo observar rumores de ruptura institucional a todo instante. Seja com o presidente da República indo até manifestações que clamam por um novo AI-5, ou através do ativismo judicial aplicado pelo Supremo Tribunal Federal, no qual claramente abusa de seu poder e invade a competência dos demais poderes”.
Camilo: “A questão de permanência da democracia é bem complexa e envolve diversos questionamentos. Lembro de meu falecido pai, que tinha a maior reverência para as autoridades constituídas e especialmente para os militares. Ele dizia que todos tinham a melhor intenção de bem exercer seu mandato e que os militares eram a maior segurança para o bem-estar de todos os brasileiros.