Política

Além de promover uma dança de cadeiras para agradar o centrão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, porque está insatisfeito com o afastamento crescente do serviço ativo das Forças Armadas, do governo.Segundo interlocutores do agora ex-ministro, esse é o motivo de Azevedo ter enfatizado, em sua nota de saída, que considera ter preservado as Forças Armadas como instituições de Estado até aqui. A reportagem não conseguiu ouvi-lo.
Ao longo do ensaio de crise institucional do primeiro semestre de 2020, quando Bolsonaro foi a atos que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e o Congresso, Azevedo teve de equilibrar pressões de todos os lados.Foi levado a sobrevoar uma dessas manifestações por Bolsonaro, recebendo críticas de militares. O desconforto com decisões no Supremo, entre fardados, é notório, há certamente entre eles bolsonaristas que apoiariam rupturas, mas no geral há aversão à pecha de golpista.
A tensão chegou ao paroxismo em junho, quando ele apoiou, numa nota, a ameaça feita pelo general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que falara em “consequências imprevisíveis” quando a apuração sobre a interferência de Bolsonaro na PF esbarrou na hipótese de confiscar o celular do presidente.
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Com o arrefecimento da crise, a ativa buscou riscar no chão uma linha, tentando sem sucesso total se separar da ala militar que fornecia, então, dez dos 23 ministros do governo. O comandante do Exército, Edson Leal Pujol, falou publicamente que militares não deveriam estar na política.
O alvo era o general Eduardo Pazuello, que nunca deixou o serviço ativo durante sua contestada gestão no Ministério da Saúde. Agora, fora do cargo, ele foi motivo de grande estremecimento entre Bolsonaro e os militares, que pediam dia sim, dia sim, que o fardado fosse à reserva.Bolsonaro já havia especulado tirar Pujol do cargo e entregá-lo ao general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), como o jornal Folha de S.Paulo revelou no ano passado, mas foi dissuadido pelo próprio Azevedo. Todos negam essa versão, de tão mal que a sugestão caiu nas Forças.
As falas recentes do presidente sugerindo que o “meu Exército” iria agir contra lockdowns propostos por governadores de estados também causou queixas entre militares da ativa. Essa reação, diz um aliado de Bolsonaro, incomodou o presidente, que esperava uma manifestação de Azevedo.
Por fim, segundo uma pessoa próxima de Azevedo, houve uma irritação final de Bolsonaro com uma entrevista concedida pelo general Paulo Sérgio, que comanda a área de saúde do Exército.Ao jornal Correio Braziliense ele relatou, no domingo, 28, como foram aplicadas normas rígidas de distanciamento e isolamento de vulneráveis e doentes na Força, garantindo um grau de contaminação pelo coronavírus, menor do que na população em geral.
Bolsonaro, segundo o relato, queixou-se a Azevedo e pediu a demissão do militar por considerar que a fala era ruim para a imagem do governo, conhecido por combater medidas básicas na pandemia. Azevedo se negou.A semana carrega uma delicada particularidade: amanhã, 31, haverá o aniversário do golpe militar de 1964. Nos dois anos anteriores, Azevedo assinou notas colocando o evento no passado, mas celebrando o que considera caráter democrático –até hoje os militares chamam o acontecido de “revolução”.
Há rumores de que Bolsonaro também gostaria de ver uma nota de 2021 mais aguda, o que, se for verdade, iria contra o estilo de Azevedo.Surpreendeu a forma com que o titular da Defesa, um dos mais poderosos ministros do governo, foi demitido. Bolsonaro quer agora um militar mais alinhado a ele no cargo, e a bolsa de apostas imediata aponta para o chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto. Outro general de quatro estrelas, na reserva, Braga é visto como um fiel cumpridor de ordens.
Ele se desgastou com políticos aliados de Bolsonaro ao tirar férias na semana passada, quando o Brasil atingiu 300 mil mortos na pandemia.