Isso demonstra o respeito à língua materna do surdo.
A comunidade surda está mais fortalecida nestas eleições, já que os candidatos atenderam suas necessidades com a participação de intérpretes de Libras. André Luiz Godinho, Ariadne Anita Schmitz de Souza e Monitielly Kummer são intérpretes e estão desempenhando este papel de informar os surdos.
Monitiely trabalha na Central de Interpretação de Libras, na Prefeitura de Beltrão, auxiliando os surdos nas atividades do dia a dia, como ir ao banco. Ela comenta que sem a tradução em Libras fica difícil para o surdo ter acesso às propostas e atividades dos candidatos. “Os surdos são eleitores, e hoje têm acesso à informação e podem exercer seu direito pleno do voto. Os candidatos que colocam e buscam um intérprete de Libras estão respeitando a língua materna do surdo como direito linguístico do cidadão.”
Ariadne Anita destaca que, diferente do que muitas pessoas imaginam, Libras não é apenas uma gestualização da Língua Portuguesa, já que tem uma estrutura gramatical própria e independente. “Disponibilizar as propostas dos candidatos e partidos em língua de sinais significa atender ao direito das pessoas surdas de terem acesso às informações em sua língua materna. No caso da pessoa ouvinte, a língua materna é a Língua Portuguesa, mas no caso da pessoa surda é Libras. Desta forma, o intérprete de Libras, que pode ser surdo ou ouvinte, é fundamental para garantir a acessibilidade, sendo necessário que a sua janela na tela seja ampla e de fácil visualização.”
André Luiz Godinho destaca que muitos candidatos, principalmente a vereador, não trazem suas propostas escritas. “Essas propostas são levadas à sociedade apenas através da transmissão na TV e se não tivéssemos o intérprete essa parcela da sociedade não teria acesso a tais informações.”
Reconhecimento da língua de sinais
“Esse trabalho nas campanhas eleitorais foi uma experiência maravilhosa, pois fomos ganhando uma notoriedade e junto a isso respeito. Conseguimos mostrar a importância da acessibilidade para os surdos”, ressalta Monitiely.
Opinião semelhante tem Ariadne Anita: “As pessoas passam a nos reconhecer pelo trabalho que prestamos. E isto nos motiva, pois mostra que estamos no caminho certo, que é trabalhar por uma sociedade mais acessível para todas as pessoas. Felizmente, percebo que tem ganhado espaço e reconhecimento”.
André Luiz Godinho completa que programas como um debate de candidatos à Prefeitura sempre têm grande alcance. “Hoje vejo que a inserção da imagem do intérprete de Libras já se torna comum, pois este profissional, que estava há muito escondido, hoje, com a pandemia, é figura importante em lives musicais e também em palestras de maneira remota. A sociedade cada vez mais nota a importância do nosso trabalho e começa a entender que somos antes de tudo profissionais, diferentemente do passado, em que éramos vistos como uma pessoa de bom coração, que ajudava os surdos.”
Paixão por Libras
“É uma paixão pra mim. Conheci ainda jovem e desde então não desisti de fazer disso a minha profissão”, diz Ariadne Anita. Ela estudava no Colégio Suplicy, onde havia alunos surdos e esse contato foi uma motivação para buscar cursos e querer aprender a língua de sinais. Naquele tempo ainda não havia cursos em Beltrão, então ela teve que se deslocar para Curitiba, Foz do Iguaçu, Cascavel e Guarapuava. “Hoje nosso município felizmente tem sido protagonista nesta área e esperamos continuar assim”, comemora.
André Luiz Godinho começou a estudar Libras quando trabalhava numa empresa em Beltrão e um de seus colegas era Irno Castoldi, pai de uma surda. “Como éramos muito amigos, ele me convidou para um curso gratuito de Libras ministrado pela filha. O curso acontecia toda sexta-feira, à noite. Logo após o curso, os surdos se reuniam para bater papo e eu estava sempre presente. Foi quando adquiri fluência na língua e fiz muitos amigos surdos. Hoje sou intérprete concursado e tenho a oportunidade de interpretar para quem me ensinou. Desta maneira, me sinto motivado a dar o meu melhor, pois foi graças aos surdos, que tanto me ensinaram, que hoje tenho uma carreira profissional.”