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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Depois de 45 anos, Sadi José de Marco é novamente prefeito de Chapecó

 

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Quarenta e cinco anos depois de ter sido cassado como prefeito de Chapecó (SC), o advogado Sadi José de Marco, 75, teve simbolicamente seu mandato resgatado. A solenidade foi no mesmo 29 de abril – o de 1969, escutando na Voz do Brasil a lista de prefeitos cassados; e o de 2014, aplaudido na Câmara de Vereadores do município. “Subi pelos braços do povo; desci tangido pela espada dos militares”, disse na abertura do seu pronunciamento. Sadi foi vereador e depois eleito prefeito. Governou de 1965 a 69.  

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O interesse pela política veio do pai, Ernesto José de Marco. Admira Leonel Brizola pela sua ênfase na educação e considera 1965 um ano marcante na sua vida – quando se elegeu prefeito, com 26 anos, e também quando casou com a professora Ivanir Vanzin, e dessa união nasceram três filhos, Carlos Alberto e Cláudia (em Chapecó) e Cezar Augusto (em Francisco Beltrão). Depois das turbulências políticas, Sadi se transferiu para Beltrão, a fim de expandir o comércio da família, depois ajudou na chegada do Frigorífico Chapecó, sendo diretor, e outra vez participou  da política, sendo quase candidato a prefeito por duas vezes, em 1982 e em 1996. Sadi José de Marco nasceu em Erechim (RS) em 18 de julho de 1938, filho de Ernesto e Maria Ana Moretti de Marco. 

O nome Sadi é alguma homenagem a alguém?
Sadi de Marco – Não. Na família De Marco tinha diversos, sabe, inclusive em Chapecó tinha um outro que o pai dele também era Ernesto e era Sadi de Marco. Não sei o porquê, dá a impressão de ser um nome árabe. Da parte da minha tia Elza ela também tinha um filho de nome Sadi. Meu irmão mais velho é Genoíno Antônio de Marco, eu sou Sadi José, o terceiro era Diomedes.

Com um nome de quatro letras não tem apelido? 
Sadi – Não, só Sadi, nunca tive apelido.

Se seu nome fosse Leonel, o senhor não ficaria chateado. De onde vem a admiração por Leonel Brizola?
Sadi – Ah! não, não (risos). Meu pai era ligado na política. No Rio Grande do Sul tinha duas correntes, o PTB e o PSD, e ele se ligou no PTB. Ele também concorreu a vereador ali no período da reconstituição, depois da queda do Getúlio [1945] né, no período de 47, na Constituinte de 46-47, ele foi candidato a vereador pela primeira vez e concorreu de novo em 50. Tem uma história interessante. Ele podia ter ido morar em Erechim, colocar a empresa que ele tinha em Erechim, ou Chapecó, eu me lembro, eu era criança, e ele optou por Chapecó porque ele não queria se envolver em política. Ocorre que na verdade ele lá chegando, na década de 50, mais precisamente em 1954, ele já começou as ligações dele com os políticos do PTB, que em Chapecó tinha na época um prefeito que era promotor público, José de Miranda Ramos.

Mas o senhor era jovem.
Sadi – Eu, lógico, não tinha nem idade pra votar, eu estudava num internato em Erechim, mas depois que concluí o ginásio eu fui a Porto Alegre. Quando eu concluí o curso de contador, o pai foi a Porto Alegre me buscar – porque eu queria ficar em Porto Alegre, continuar os estudos lá e tal. Mas ele foi me buscar, isso em fim de 59, pra trabalhar com ele. Quando eu completei 18 anos, ele me emancipou. Depois eu resolvi ir cursar a faculdade de Direito em Passo Fundo, porque lá não era tão intransigente com relação à frequência e aí a gente ia lá assistir um período de aula e tal e depois ia fazer as provas. E foi aí que, a partir de 61-62, quer dizer, eu já estava cursando Direito, em 62 ele quis que eu concorresse a vereador, me candidatou e me elegeu praticamente, porque eu não tinha prestígio, era estudante.

Nesse estudo, em Passo Fundo, ia o senhor sozinho ou era um grupo de pessoas?
Sadi – No começo eu ia sozinho, depois teve outros.
Em 62 o senhor foi candidato a vereador?
Sadi – Fui eleito vereador com 355 votos. Era de situação, o prefeito era do PTB, o João Destri. Aliás, o João Destri foi eleito depois de mim, quando teve eleição. 

Voltando ao Brizola.
Sadi – Conheci o Brizola, a gente conversou. A gestão dele, de governador [1959-62], teve a marca do lado educacional. Inclusive, meu pai uma vez viajou com o Brizola; ele até tinha me mandado um cartãozinho e tal, com abraço… Eu tive contato com João Goulart também; na eleição de 1960 eu fui encarregado de ir falar com ele, porque ele ia fazer um comício em Itajaí. Era pra vir a Chapecó.

 Na época se votava pra presidente e pra vice, separado.
Sadi – Sim, era separado. Eu sou mais dessa linha, acho que tem que ser separado, ainda continuo achando que tem que ser separado pra ver que bicho dá.

Se fosse hoje, perigava a Marina Silva fazer mais votos que o Eduardo Campos.
Sadi – E como ia, porque a Marina Silva, se inverter, ela ganha a eleição.

Como foi sua gestão na Prefeitura de Chapecó?
Sadi – Eu acho o seguinte, a minha gestão não tem paralelo em Chapecó no período. Lá se trabalhava todos os dias da semana e eu dizia para os servidores – e os servidores não estavam acostumados com meu estilo, de pegada, vamos dizer no domingo eu pagava horas extras das seis às 12, mas o povo aplaudia, porque o povo quer ver resultado. Eu assumi em 31 de janeiro de 1965 e no dia da posse já chamei a chefe da contabilidade e disse ó, amanhã, 7 horas, avisa todos, 7 horas da manhã eu quero todos na Prefeitura, que agora é diferente, quero todo mundo ali porque eu vou explicar como que eu quero trabalhar.

E isso aconteceu?
Sadi – Sim, no dia 1º de fevereiro fomos lá e eu expliquei – o negócio aqui vai ser assim, nós vamos trabalhar e se tem alguém que não gosta da coisa, peça demissão, porque se não pedir eu vou demitir. E alguns eu demiti. Então a turma efetivamente trabalhava, e trabalhava com gosto porque viu que teve uma alteração. Pra todo lado, era só trabalho.

Abriu estrada, infraestrutura, telefone.
Sadi – Especialmente a infraestrutura, o telefone veio depois do cinquentenário, a partir de 68, porque antes eu tive que investir muito no cinquentenário, parque de exposições. De fato foi um marco, também não se imaginava, digamos, na época, que tivesse tanta repercussão como tem hoje pela importância, mas você via que o povo também aplaudia.

E teve o dia 29 de abril de 1969, que pela Voz do Brasil o senhor escutou a relação dos cassados. O senhor escutava sempre a Voz do Brasil?
Sadi – Escutava. Na verdade, escutava porque o seguinte…

Mas naquele dia estava escutando?
Sadi – Naquele dia tava escutado e nos outros escutava por um fato muito simples: porque cassações eram toda hora, evidentemente que a imprensa também noticiava, “o dia tal vai sair cassação”, e todo mundo ligava. Eu escutei. Como o meu apartamento era ali e o do meu pai em cima, eu subi, o pai tava tomando café, tava lá com a mãe, a gente falou um pouquinho e depois desci para o meu apartamento; aí chegaram algumas pessoas.

E no dia seguinte o senhor foi pra prefeitura?
Sadi – Fui cedo, como ia todos os dias. Depois voltei pra casa. No fim da tarde o juiz me telefonou. Ficamos presos uma hora no quartel, mas tudo bem. Eu fiquei em casa em torno de 15 dias. Esperei pra ver se eles iam me buscar. O pai tinha projetado que em 68 ele já queria abrir uma loja aqui em Beltrão e daí não conseguiu sala porque nós tínhamos um grande atacado e os viajantes faziam essa região do Paraná, especialmente daqui até Santo Antônio e o Oeste de Santa Catarina.

Daí se fixou em Beltrão, comércio, advocacia, política…
Sadi – Eu passei a conviver aqui e chegou numa altura que eu não tinha mais como sair, até meu pai insistiu muito pra eu voltar lá, mas eu acho que pra mim até foi bom. Lógico, se eu voltasse lá eu teria sido político de novo e acho que a política também não te dá nada, mas aqui eu tentei só em 1996, interessante né? Quando eu fui pra concorrer em 82, os dois grupos me queriam – o Euclides Scalco até um dia me convidou, ele e o Walter Pécoits, pra conversar e tal e ele pediu pra eu entrar no PMDB. Ele não disse o cargo, deu a entender que não seria vereador, então, não teria outro cargo, tinha que ser prefeito. E teve o convite do [prefeito] João Arruda, para ser candidato do grupo dele. Mas eu não fui; foi o Abdo José, que queria correr, e o Abdo foi bem votado naquela eleição, o Abdo fez mais votos que o Ney Braga aqui.

Daí em 1996 o nome do senhor surge forte de novo.

Sadi – Surgiu forte pelo seguinte: nós fizemos, eu acho, mais de 30 reuniões, aqui em casa, que um grupo de políticos, eram seis partidos, e cada um tinha dois representantes. Mas aí veio o recado do [governador] Jaime Lerner pra não ser eu. O Nilton Pazzini, que era do PDT do Lerner, disse “o governador não te apoia”. E eu disse “então tá, eu também não vou morrer pra ser candidato, não interessa, quero colaborar”. O Guiomar Lopes não era nem cogitado naquela eleição.

E pra deputado, teve algum momento que o senhor quase…
Sadi – Não, nunca.

Como surgiu essa história de Chapecó vir morar em Francisco Beltrão?
Sadi – Chapecó surgiu do seguinte: o Túlio Zanchett tinha grandes ligações com a Sadia e ele tratou de trazer a Sadia, só que não conseguiu, não sei por que ele não conseguiu [a Sadia acabou indo para Dois Vizinhos], aí, a pedido do João Arruda, um grupo foi a Videira falar com o grupo Perdigão; também não conseguiu, e daí um dia o João me convidou lá, que na época, como meu pai era deputado federal, eu estava mais em Chapecó do que aqui, aqui a minha esposa atendia a loja; eu fui atender as lojas do meu pai.

Foi o seu Ernesto de Marco que incentivou.
Sadi – O pai disse ó, vamos juntos a Francisco Beltrão, vamos lá pra escolher sala, e então eu vim. Chegamos aqui, visitamos a cidade, fomos ver a feira que fizeram, a primeira feira, a feira do feijão. Nós alugamos uma sala. Era para o chefe do atacado, o Alcindo, pra assumir a gerência, mas na hora de ficar ele disse pro pai que não ficava, parece que ele disse, ele alegou que a mulher não gostou e ele era um cara muito ligado na família, era meio evangélico, não ficou. Bom, aí era um problema. Eu fiquei no Hotel Lisbor. Depois fui pra casa visitar a família e tal. Ia e voltava.

Até que um dia…
Sadi – Lá pelas tantas eu disse pra mulher: quer ir lá conhecer? Eu tinha dois filhos pequenos, a Cláudia tinha nascido uma semana antes de começar a festa do cinquentenário. De repente não achavam solução, aí eu aluguei uma casa, antigamente era a Rua Paraná. Naquele período faleceu o Otaviano Teixeira dos Santos, que é pai do Marcelino. Daí mudaram pra esse nome.

Os negócios estavam crescendo?
Sadi – E abrimos outras lojas e outros negócios, então ia seguido lá pra Chapecó, e um dia o seu João Arruda me convidou pra ir na prefeitura e eu fui e eu disse olha, eu posso conversar com seu Plínio, é meu padrinho de casamento, meu amigo e tal. Eu fui, pedi uma audiência lá com ele e falei, embora naquele período ele atendesse menos a empresa, o seu Plínio mandava na empresa, era presidente do conselho, mas o genro dele brigou com o cunhado. Fizemos uma reunião preliminar, nomeamos uma comissão de base, era o doutor Walter, doutor Mário Vargas e mais quem fazia parte dessa chamada firma de plano piloto e tal e aí foi, e então, veja o que aconteceu: quando se organizou esse plano piloto, em agosto de 1977, dali em diante a Sadia passou a estudar e até veio aqui e falou com o Jorge Camilotti, que era o vice-prefeito, se eles desistiam então da Chapecó, eles viriam, daí o Jorge – tô dizendo o que me disseram, mas deve ter sido verdade, mas o João pode até contar essa história – não quis abrir mão e eles foram pra Dois Vizinhos e se instalaram lá, se instalaram antes que o Chapecó.

Seu pai foi eleito deputado federal?
Sadi – Foi eleito em 74. Então a partir de 75 eu ia pra Chapecó, toda semana.

E os anos 1980 do senhor em Francisco Beltrão?
Sadi – Aqui em 1980, na década de 80, eu era dono da loja, atendia a loja, fui presidente do CDL, advogava e depois passei a ser diretor do Chapecó, fazia quatro atividades simultâneas e sem prejudicar nenhuma, até porque do CDL, por exemplo, eu consegui até o lote do João Arruda e fizemos a sede, na época nem a CDL de União da Vitória, que era nosso padrinho, não tinha sede própria, nem Chapecó, que veio aqui também orientar e tal, e não tinha sede, foi um ato assim e foi feito na base de trabalho de meia dúzia; não tinha mais de dez pessoas que atuavam; era um grupo restrito, até porque a cidade era pequena. Nós formamos a CDL com 30 empresas.

Se fosse candidato, teria chance de ganhar?
Sadi – Se eu fosse na época mesmo pelo PDS eu teria ganho do PMDB, não sei se teria feito alguma boa gestão; o Guiomar Lopes [PMDB] teve sorte porque teve apoio do governo do Estado [governador José Richa].

Quando o senhor se fixou em Beltrão teve que ir no Exército se apresentar?
Sadi – Eu fui falar com o tal de Sebastião Moura. Eu estranhei, porque cheguei no quartel e tinha uns dois guardas nas esquinas, mas ninguém me pediu nada, nem documento, nem nada, e fui, fui, fui, e daí cumprimentei e disse ó, quero falar com o comandante e tinha um senhor de costas e ele se virou, e eu: eu sou Sadi de Marco. E ele: “Ah!, o senhor é o famoso Sadi”. Bem assim ele falou, é sinal que eles me conheciam, tinham alguma comunicação, sabiam que eu era perigoso (risos).

Pra encerrar, o senhor gostou da homenagem em Chapecó?
Sadi – Na verdade, me atrapalhei um pouco, a emoção foi muito grande. Fui o primeiro a falar. Acho que eles se atrapalharam. Eu queria que os outros falassem antes. Mas foi uma emoção muito forte, realmente muito forte.

Deu uma balançada.
Sadi – Muito forte e eu não sou assim, até porque a gente tá acostumado a discurso, mas ali a coisa tocou efetivamente, e aí quando eles me chamaram, eu ainda estava sob aquele impacto, apesar de que aquela cena que eu sempre faço quando eu início o discurso, meu estilo é esse mesmo. Mas o protocolo não tinha nome nenhum ali, o único nome que eu achei, que eu botei do lado, foi da presidente da OAB local [Patrícia Vasconcelos de Azevedo], outros nomes eu não tinha, não me deram, se tivessem me dado eu ia me descontrair mais, porque justamente eu queria que os outros falassem antes, que daí eu ia anotar os nomes.

Foi bacana também encontrar velhos amigos.
Sadi – Justamente. Alguns eu citei, dos antigos, até não sei se esqueci algum… Pra mim surpreendeu, tanto que minha mulher também diz que as pessoas, filhos dos políticos e tal, se emocionaram. Teve uma filha do ex-vereador que era meu companheiro, Armindo Colatto, que disse: meu pai chorou duas vezes na vida, na morte do Getúlio e na cassação do Sadi de Marco. Ela falou pra minha esposa e diz que chorava essa moça. Minha filha [Cláudia] me telefonou de Realeza no dia seguinte [30 de abril] e eu tava aqui no escritório e ela dizia “pai, eu chorei” e não sei o que e chorou, entende? Emocionante. Foi uma festa, eu não imaginei que fosse tão grande assim.

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