Maioria do eleitorado, mas nenhuma mulher na Câmara de Vereadores.
Por que esta conta não fecha? Em Francisco Beltrão, dos 66.147 eleitores, 31.302 são homens e 34.831 mulheres, ou seja, 47,32% e 52,66%, respectivamente. Mesmo sendo maioria do eleitorado, nenhuma mulher ocupará uma cadeira na Câmara de Vereadores na próxima gestão. Até então, havia duas: Elenir Maciel, Lurdes Pazzini e Daniela Celuppi.
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No geral, as mulheres não estão votando em mulheres. Esta é uma das constatações. Há quem considere que o resultado tenha sido consequência da pouca divulgação. “Ficou claro que não existe visibilidade feminina em nosso município, isso interfere na representatividade do gênero e na qualidade da democracia”, desabafa Ronize Maria Skowronski, que trabalha com gestão de pessoas.
Para ela, isso se deve pela falha da construção da liderança da mulher. “Precisamos eliminar as desigualdades de gênero, raça e condição social e outros tantos desafios que as mulheres enfrentam. São os partidos políticos que definem a participação no espaço eleitoral e as mulheres acabam sendo prejudicadas, por não receberem as mesmas oportunidades que os candidatos homens, isso as prejudica na visibilidade da propaganda eleitoral, interferindo diretamente na apresentação de planos de governo ou propostas.”
Ronize acrescenta que a situação poderia melhorar aumentando a visibilidade de espaços nas campanhas eleitorais, para haver um movimento gerando mudança cultural. “Com maior tempo e investimento, as candidatas aumentarão sua representatividade tendo oportunidades de demonstrar os trabalhos que exercem na sociedade. É preciso ampliar este espaço para assim engajar os eleitores de modo geral, é preciso valorizar e acreditar no potencial feminino. Entre nós, mulheres, precisamos conhecer umas as outras e nos sentir seguras para trazer o equilíbrio da representatividade e na qualidade da democracia.”
Sororidade
Para Andreia Thomaz, as mulheres precisam se posicionar e se unir para fazer diferente. “Se nós somos o maior eleitorado da cidade e não elegemos nenhuma representante, existe um problema aí, a conta não fecha. É preciso aprender com isso, para não cometer esse mesmo erro futuramente. Temos potencial para fazer acontecer e para mostrar para a sociedade que lugar de mulher é onde ela quiser.”
Syrlei Zapelini comenta: “Penso que política se faz todos os dias, e as que optarem em se candidatar para a próxima, precisam se preparar desde ontem. É uma disputa muito grande. A quantia de candidatos divide muito”.
Luciane Santos concorda: “Foram muitos candidatos, acredito que se fossem menos candidatos, por partido, e tivessem mais apoio, talvez tivéssemos alguma mulher eleita. Talvez algumas tivessem que abrir mão da própria canditadura para apoiar uma ou duas apenas”.

se posicionar e se unir para fazer diferente.
Jusiméris Bariviera acredita que faltou propostas mais consistentes. “Pessoas com exemplos eficazes de envolvimento em projetos de mudança. Vejo também que escondemos nossa força de mudar, estamos realmente nos considerando e nos consideram segundo plano. Não nos organizamos. Triste! Agiria diferente se tivesse segundo turno para vereador. Serei e seremos diferentes para a próxima. Merece uma reflexão séria”.
Para Marione Caregnatto, há um longo caminho até se chegar a mudanças. “Ainda somos deixadas em segundo plano nas questões políticas e, muitas vezes, aceitamos isso, pois é cultural. Penso que reduzir o número de candidatos e candidatas poderia ser uma saída, lutar para a não reeleição, embora já houve uma grande mudança e poucos se reelegeram. Precisamos plantar a semente de mulheres candidatas e preparar o terreno para que mais mulheres se sintam encorajadas e se candidatem. A política ainda nos assusta. É hora de mais sororidade. Parabenizo todas as que se dispuseram a pleitear uma vaga. Sigamos em frente”. Ivone Pastro Chioqueta pensa semelhante: “Temos que organizar reuniões com mulheres para discutir políticas públicas e envolvê-las nesses debates. Agrupar”.
Elizane Terezinha Vansetto Barbacovi afirma: “Sendo nós mulheres um número tão expressivo, com tantas candidatas tão competentes para escolher, não fomos suficientemente unidas para termos também alguém que nos representasse como igual. Concordo muito com a fala da Marione Caregnatto, plantar a semente, preparar o terreno, encorajar as que se sintam mais dispostas a esta nova realidade em suas vidas”.
Joana Bertani lamenta: “Os partidos apostam tudo que tem em candidatos homens. Colocam mulheres para preencher os 30% necessários. Infelizmente”.
Empoderamento feminino
“Falamos tanto no empoderamento feminino, mas não fomos capazes de fazer pelo menos uma representante. As candidatas foram corajosas de se expor, de tentarem uma vaga. Houve falhas? Sim, talvez, porém, somos esclarecidas o suficiente para nos informarmos sobre a formação e conduta de cada uma. Enfim, é a democracia, a vontade da maioria. A mim não sinto a responsabilidade de não ter eleito uma, eu fiz minha parte”, diz Marcia Valenga Krindges.
Claudia Maio destaca que as campanhas que têm mais financiamentos logicamente são alavancadas. “É triste ver que muitos ignoram a importância de ter um representante político, outros estão desiludidos com o número excessivo de políticos que denigrem sua classe, e boa parte que naturaliza a venda do voto, porque só pensa na vantagem individual e a curto prazo. Como sempre, num País machista, as mulheres têm que trabalhar o triplo se quiserem obter resultados parecidos com o dos homens. É difícil concorrer com os que se utilizam desses recursos para se eleger”.
Claudia considera que uma política séria acontece organizando grupos para politizar, se fortalecer coletivamente e avançar. “Estamos errando e deixando vazios os poucos espaços de manifestação e de tomada de decisões que nos afetam.”