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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Nem UMA por todas: Mulheres falam sobre baixa representatividade nas eleições

Participantes do coletivo Leia Mulheres se posicionam diante do resultado das urnas em Francisco Beltrão.

Pelo menos 190 pessoas participam do coletivo Leia Mulheres em Francisco Beltrão. O movimento surgiu em 2014, com uma norte-americana, que destacava a necessidade de ler mais mulheres. A ideia é optar por um livro escrito por uma mulher e fazer uma conversa entre quem tiver interesse. Em Francisco Beltrão, o Leia Mulheres iniciou os encontros em 2018, sendo formado por mulheres, homens e pessoas que não se identificam no binário, mas a perspectiva da mediação é feita por uma mulher. São quatro mediadoras: Mara Lucia Fornazari Urbano da Silva, Mayara Yamanoe, Carla Lavoratti e Angélica Servegnini de Wallau.

O JdeB questionou as participantes sobre como elas se sentem diante do resultado das eleições em Francisco Beltrão e o que seria possível fazer para mudar essa realidade. “Sinto que não estaremos devidamente representadas nos próximos quatro anos no Poder Legislativo municipal ante a ausência de mulheres vereadoras. Senti uma profunda tristeza ao ver o resultado final. Infelizmente, não há diversidade na Câmara de Vereadores”, lamenta Karla Isabel Costa.

“Precisamos planejar e nos fazer ouvir. Apesar de não termos mulheres na Câmara, a coletividade precisa pensar em estratégias para eleger vereadoras que se alinhem à nossa luta de verdade. E daqui a quatro anos termos nomes fortes para estar na Câmara. O jogo da democracia continua e segue mais duro. Vivemos tempos difíceis, mas já sobrevivemos às fogueiras, torturas, violências. Estamos no caminho certo da igualdade de um mundo melhor. Tenho orgulho dos nomes que foram apresentados à sociedade”, diz Joice Cristina Barbieri Vivian Masetto.

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Angélica Servegnini de Wallau também não se sente representada: “Não penso que os homens que ocuparão o Legislativo no próximo mandato possam falar por nós, mulheres, e isso em nada tem relação com a capacidade de mulheres ou homens ou com os assuntos e pautas a serem demandados, isso implica em não termos nosso lugar de fala, em não ocuparmos o nosso lugar nas esferas públicas de poder, em não nos vermos como participantes na construção coletiva da sociedade e da democracia”.

Susana Lourenci comenta: “Nossa organização deverá se intensificar em coletivos, mas também num coletivo maior, destacando desde já mulheres que estarão nos representando. Vimos isso nos nomes de muitas mulheres que se elegeram, mas foi dada a visibilidade durante esse período. Destaco a professora Carol Dartora, feminista, negra, que sempre esteve em destaque e hoje rompe com uma história de ser a primeira negra vereadora da cidade de Curitiba”. Susana completa que não ser representada por mulheres no Legislativo aumentará ainda mais sua participação nos eventos da Câmara, articulando as propostas “de fora para dentro”.

Para Bruna Madruga, um dos caminhos a se considerar seria pensar e agir numa educação política que mostre a importância da representatividade e da diversidade nos espaços de poder. Kelly Baldo sugere mais debates, manifestações, rodas de conversas, de modo a acompanhar a política mais de perto.

Marília Zimmermann acredita que o afastamento das mulheres da política se deve ao “histórico do patriarcado, que sempre caminhou no sentido de manter as mulheres no espaço privado. Infelizmente, ainda hoje, aquelas que ousam ocupar o espaço público são frequentemente vítimas de violência política de gênero. Precisamos mudar esse cenário com urgência”.

Gladis Barzotto desabafa: “Ainda não acreditando. Sensação de vazio. Penso: como serão as pautas da política de saúde da mulher na Câmara? Ao longo destes quatro anos, o que esperar? Fazer?”.
Daniele Faenello se sente impotente: “Embora considere uma conquista a saída de mulheres que representavam a velha política, não elegermos uma nova representante mulher me deixa uma sensação de impotência e frustração. Nós somos parte da sociedade, devemos participar das decisões e estar longe desse processo pra mim é muito frustrante. Vejo a vida privada engolindo as mulheres e tomando o tempo que poderiam dedicar ao coletivo e à vida política”.

Ela completa: “As novas gerações têm mudado essa estrutura e as mulheres têm se interessado cada vez mais por política. Talvez o que falte seja ação e organização. Montar coletivos, organizações, escolher um nome para candidatura e as mulheres enquanto grupo focar nesse mesmo nome. Os homens já fazem isso. Devemos aprendem com eles”.

Mara Lucia Fornazari Urbano da Silva observa: “Temos a mulher que não reconhece a legitimidade de outra mulher em uma situação de poder e visibilidade; a mulher que não quer entrar em ambientes como os usualmente descritos como de ‘quem faz política’, considerando, inclusive, o medo dos discursos de ódio e ridicularização que são destinados a mulheres públicas; a fraca postura partidária que se motiva, quase que completamente, na exigência da observância legal do percentual mínimo, destinando tratamento não igualitário para as candidatas”.

Odenir Nina Dias Teixeira se sente decepcionada, porém, acredita que esse resultado eleitoral suscitou uma reflexão do quanto as mulheres necessitam se organizar para “conquistarmos nosso espaço de fala”. Ela entende que isso seja reflexo da própria atuação das mulheres que lá estiveram por todos estes anos e não conseguiram mobilizar e despertar nas outras que aquele espaço era importante também para conquista de políticas voltadas para mulheres. “Podemos e devemos ouvir a mensagem que esse resultado nos alertou. Organização e maior envolvimento político, com ações que venham a motivar a maioria de todas nós, mulheres, que vivemos em Francisco Beltrão.”

Redes sociais
Leia Mulheres de Francisco Beltrão realiza encontros e conversas sobre livros escritos por mulheres desde 2018. As informações são divulgadas num grupo on-line com mais de 190 participantes e conteúdos digitais em @leiamulheresfbe (Instagram) e Leia Mulheres Fco. Beltrão (Facebook).

 

Número de mulheres eleitas aumentou, mas não agradou

Por Aline Leonardo
Na ponta da caneta, o número de mulheres eleitas no Sudoeste aumentou nas Eleições 2020 (7,14% para prefeitas e 13,4% para vereadoras) em relação às Eleições 2016 (4,7% prefeitas e 9,6% vereadoras), mas o que se viu, principalmente em redes sociais, foram muitas manifestações de descontentamento com a ainda baixa representatividade feminina nas prefeituras e câmaras da região (leia opiniões na matéria “Nem UMA por todas”).

Em 2016, sete dos 42 municípios sudoestinos tiveram candidatas a prefeita e duas se elegeram. Neste ano, novamente sete candidatas, mas três conquistaram a vaga. No entanto, uma delas, Fátima Pegoraro, eleita em Manfrinópolis, é única entre homens — vice-prefeito e nove vereadores. Rafaela Losi, em Clevelândia, e Leila da Rocha, em São Jorge D’Oeste, terão a companhia de uma vereadora cada.

O caso de maior diferença e que não reflete o avanço, muito pelo contrário, é o de Francisco Beltrão, que em 2016 elegeu quatro representantes — Daniela Celuppi, Elenir Maciel e Lurdes Pazzini, que terminam seus mandatos este ano, e Fran Schmitz, que foi a mais votada no pleito e renunciou em 2019 — e no próximo mandato (2021/2024) não terá uma mulher sequer nas 13 cadeiras da Câmara.

 

 

Karla Isabel Costa.

“Acredito que ocorreu uma omissão por parte de nós, mulheres, em fortalecer as candidaturas femininas. Se homens foram eleitos, mulheres também votaram em homens. Já existem em nosso município mulheres que têm representatividade nas áreas em que atuam. É momento de conscientização política. Apesar de muitas apresentarem resistência às candidaturas políticas, é momento de convencimento da necessidade de termos representantes femininas. É hora de nós, mulheres, sairmos da nossa zona de conforto no que diz respeito à política no município de Francisco Beltrão”, comenta Karla Isabel Costa.

 Elisa Berté

“Acredito que não faltaram candidatas mulheres para querer ocupar um cargo de vereadora no nosso município, o que faltou foi união das mulheres. Que nos próximos anos busquemos conhecer as candidatas, trabalhar a ideia de que precisamos eleger uma mulher. Precisamos votar nas mulheres, é disso que as mulheres precisam, mais apoio, união”, destaca Elisa Berté.

 Denila Coelho

 

“Eu sou de Salto do Lontra, aqui também não tivemos nenhuma mulher eleita. E com certeza absoluta não me sinto representada. Para mim, isso se deve a uma construção machista de que a política não é o nosso lugar. E de que a troca de favores ainda permanece muito forte na nossa política municipal. Acredito que podemos melhorar nos organizando ainda mais, fortalecendo o movimento de mulheres”, ressalta Denila Coelho.

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